Polícia Civil faz alerta para golpes em sites de compra e venda
Foram 79 casos de estelionato registrados este ano em Juiz de Fora
Setenta e nove ocorrências de golpes aplicados pela internet foram registrados em Juiz de Fora entre janeiro e maio deste ano. O levantamento foi feito pela Polícia Civil, que decidiu alertar a população para o grande número de vítimas que os estelionatários têm feito em Juiz de Fora. Os episódios listados pela instituição dizem respeito a apenas dois sites conhecidos de compra e venda on-line: OLX e Mercado Livre. Para o delegado Eurico da Cunha Neto, o número de lesados pode ser ainda maior, já que, para o policial, muitas pessoas não registram ocorrência.
Segundo Cunha Neto, que responde pelas 1ª e 2ª delegacias distritais, responsáveis pelas investigações de crimes ocorridos na Cidade Alta e Zona Sul de Juiz de Fora, chamou a atenção dele o número elevado de pessoas que procuraram a unidade policial, sediada no Bairro São Mateus, Zona Sul. Ele então resolveu levantar os episódios de toda a cidade. Foram 39 casos de estelionato relacionados à OLX e outros 40 ligados ao site Mercado Livre. Em relação à OLX, aparecem outros 27 de outras modalidades criminais.
“Praticamente todos os dias vinham vítimas até aqui relatar que haviam caído em algum golpe pela internet. São vítimas que estavam vendendo e também comprando bens. São vários tipos de golpes, os estelionatários variam muito o jeito de agir”, disse, acrescentando que os valores dos prejuízos também são diversos. “Até o momento, não tem nenhum valor exorbitante perdido. Os golpistas costumam ir dando vários golpes, de valores mais baixos, e assim conseguem um volume grande dinheiro. A profissão deles é ser estelionatário, sentam-se em frente a um computador e passam o dia arquitetando os crimes”, afirmou.
De carro a videogame
De acordo com Eurico, apenas nesta semana duas pessoas procuraram a delegacia. Um dos registros chamou a atenção pela ousadia do criminoso. A vítima vendia um videogame por R$ 1.500. Como garantia do pagamento, o suspeito deu sua carteira de identidade. “A vítima não queria entregar o eletrônico antes de o depósito cair, mas como o estelionatário propôs deixar sua identidade como garantia do pagamento, ele aceitou. Este homem já é conhecido pela polícia, aplicou vários golpes, mesmo assim continua a praticar o crime. Isso demonstra que ele não teme nada”, comentou.
O segundo caso foi o de um homem que depositou R$ 1.500 como primeira parcela do pagamento de um carro que nunca chegou a ver. “Os estelionatários têm, com muita frequência, replicado anúncios de veículos como se fossem deles. É importante que o comprador vá à Delegacia de Trânsito, cheque se o documento está no nome que o vendedor informou e, além disso, só faça depósito em conta cujo titular seja o dono do carro”, disse.
Golpe duplo
Uma empresária de Juiz de Fora, 29 anos, perdeu R$ 1 mil na venda de seu carro. Além dela, um proprietário de uma concessionária perdeu R$ 2 mil no mesmo negócio. A mulher, que pediu para não ter o nome divulgado, anunciou em um site seu Corolla ano 2016 por R$ 75 mil. Pouco depois, surgiu um interessado. O homem se passou por um coronel aposentado da Polícia Militar, que residia no Paraná. Ele fez uma proposta de R$ 72 mil, que foi aceita pela mulher. “Para fechar o negócio, ele orientou que eu fosse a uma concessionária do Salvaterra para que uma pessoa avaliasse meu carro, mas disse que não era para eu falar em valores com o suposto avaliador. Como meu carro estava em perfeitas condições, ele fechou negócio”, contou.
A empresária disse que foi depois com o homem da concessionária até um banco para quitar o boleto com as parcelas que ainda estavam em aberto, um total de R$ 56 mil. “Ele pagou, depois fomos ao cartório e passei o carro para o nome dele. O suposto coronel então precisava depositar para mim os R$ 16 mil que faltavam, porém, o dinheiro não caía na minha conta. O coronel disse que iria ao banco resolver, mas pediu que eu adiantasse para ele R$ 1 mil relativos ao pagamento do IPVA, inventou uma história e eu caí. Depois ele bloqueou, quando liguei de outro telefone, ele apenas falou que não ia pagar e que meu carro não valia mesmo R$ 72 mil. Eu fui ingênua, claro, mas a forma como tudo aconteceu, foi difícil desconfiar ser um golpe”, contou.
Depois de ver que fora vítima de golpe, a empresária procurou o homem que quitou o carro, e aí a maior surpresa: ele também foi vítima do esquema. O suposto coronel havia, na verdade, vendido o Corolla da empresária para o homem por R$ 60 mil. “O rapaz da concessionária quitou meu carro e ainda teria que dar mais R$ 5 mil ao homem que se passou por coronel. Deste total, ele chegou a depositar R$ 2 mil”, disse a vítima.
Os dois procuraram a polícia e conseguiram desfazer a confusão. A mulher pegou seu carro de volta e devolveu os R$ 56 mil ao homem, porém, o prejuízo de cada um não foi recuperado. “É realmente muito difícil conseguir recuperar estes valores e chegar aos golpistas. Eles usam nomes falsos, contas em nomes de testas de ferro, muitas vezes não são nem do estado. Investigamos todos que chegam ao nosso conhecimento, mas não é fácil a resolução. Quem vai fazer compras ou vendas pela internet, de qualquer valor, precisa estar atento. Só entregue o bem caso o dinheiro já esteja em sua mãos. No caso da compra, não confie em anúncios sem checar os dados”, concluiu Eurico.
‘Empresa não participa de transações’
Em nota, a OLX esclarece que a atividade da empresa consiste na disponibilização de espaço para que usuários possam anunciar e encontrar produtos e serviços. “Toda negociação é realizada fora do ambiente do site, assim, a empresa não participa das transações feitas entre os usuários”, afirma.
A OLX argumenta que a ferramenta foi criada para auxiliar no desenvolvimento social e econômico do país e que os usuários devem respeitar os termos e condições de uso do site. A empresa lembra ainda que disponibiliza um botão de denúncia em todos os seus anúncios, possibilitando que qualquer pessoa acuse eventuais práticas irregulares ou conteúdos indevidos. “A OLX reforça que está sempre à disposição das autoridades para colaborar no que for necessário para a apuração dos fatos”, conclui.
A Tribuna fez contato com a assessoria de imprensa da empresa Mercado Livre e aguarda resposta.