Frota tem ônibus com mais de dez anos de uso em circulação em JF

Flagrantes feitos pela Tribuna apontam descumprimento de cláusula contratual firmada entre PJF e concessionárias; recém-criado comitê gestor diz que irá investigar situação


Por Gracielle Nocelli

22/07/2021 às 09h12

Apesar de não ser permitida a circulação de veículos com mais de dez anos de uso na frota de ônibus urbanos de Juiz de Fora, a Tribuna flagrou ao menos quatro carros trafegando pelas vias da cidade nessas condições. O edital de licitação de n° 005/2014, publicado em 19 de maio de 2015, em seu item14.4, inciso XXVII, estabelece como responsabilidade da concessionária manter a idade média da frota de cinco anos, não sendo admitido o uso de veículos com mais de dez anos. Os flagrantes foram registrados pela reportagem na quinta-feira, dia 15; na terça, 20; e nesta quarta, 21, quando foram vistos os quatro veículos em operação, todos com carrocerias datadas com o ano de 2010.

Assim diz o documento: “São responsabilidades da Concessionária, além de outros previstos em lei e neste Contrato de Concessão: (…) XXVII. manter os veículos que compõem a frota patrimonial urbana com idade média máxima de 05 (cinco) anos com idade máxima de cada veículo de 10 (dez) anos”.

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Questionada pela Tribuna, a Secretaria de Mobilidade Urbana (SMU) informou que o Comitê Gestor do Transporte Coletivo irá investigar a circulação de ônibus urbanos com idade superior ao limite de dez anos estabelecido pelo edital de licitação para a concessão do serviço em Juiz de Fora. A investigação foi confirmada pela assessoria da Associação Profissional das Empresas de Transportes de Passageiros de Juiz de Fora (Astransp).

Destacando a existência da cláusula no contrato firmado com os consórcios das empresas de ônibus em 2016, a SMU explicou, por meio de nota, que “com o estado de calamidade decretado devido à pandemia de Covid-19 e a necessidade de reequilíbrio de contrato com as empresas, inclusive por determinação judicial, esta cláusula não foi cumprida na íntegra”.

O texto afirma que a situação “será discutida pelo Comitê Gestor do Transporte Coletivo, criado por meio de lei aprovada pela Câmara Municipal, que visa a remodelar o sistema de transporte público da cidade.” Segundo a SMU, a idade média atual da frota de ônibus é de seis anos. Também por meio de nota, a Astransp declarou que “não se pode generalizar nem julgar o sistema”. No texto, diz que “as empresas trabalham na média exigida (para toda frota) e com idade média de dez anos (por veículo)” e completou que o comitê irá “tratar desse e outros importantes assuntos do transporte.”

Sobre o comitê

A criação do Comitê Gestor de Transporte Coletivo foi aprovada pela Câmara no último dia 14. O órgão será formado por quatro representantes da PJF, um integrante de cada consórcio, um membro do sindicato dos trabalhadores e um representante dos usuários. Entre as atribuições estão ações de fiscalização e propostas de melhorias para o serviço.

Usuários reclamam de frota de 2010 e das condições de conservação

As condições de conservação de veículos do transporte público de Juiz de Fora integram as queixas de quem utiliza o serviço no dia a dia. O servidor público federal Paulo Edson Silveira conta que já viu, por várias vezes, ônibus com mais de dez anos de uso circulando pelas ruas da cidade. “E não é um, dois ou três, não; são vários”, reclama.

Ele afirma que os problemas mais comuns são a sujeira dos carros e a superlotação, principalmente no início da manhã, quando os usuários se deslocam para o trabalho, e após as 16h, na volta para a casa. Paulo Edson ainda se queixa das constantes falhas mecânicas nos veículos e acredita que problema se deve à falta de manutenção.

Moradora do Bairro Monte Verde, Josiane Rodrigues, 27, realiza diariamente o deslocamento para o trabalho, no Bairro Cascatinha. “Uso as linhas 523 e 529, que sempre têm algum defeito: bancos soltos, portas e campainhas que não funcionam e, de vez em quando, o ônibus quebra.”

Segundo ela, nem sempre os protocolos sanitários estabelecidos durante a pandemia da Covid-19 para evitar o contágio da doença são seguidos. “Nada mudou. Os ônibus continuam lotados, nem sempre tem álcool em gel, e os motoristas e cobradores seguem sendo desvalorizados.”

Ela afirma que há muito tempo os moradores de Monte Verde solicitam melhoras na linha 523, mas a sensação é de desamparo. “Nós nunca recebemos atenção. Nosso bairro acaba sendo esquecido por ser distante. Transporte ruim, não tem sinal de celular. Nem água tratada temos.”

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Uma moradora do Bairro Linhares, que preferiu não se identificar, também relata problemas semelhantes. Para ela, a situação é generalizada. “Eu uso linhas de diferentes bairros porque trabalho como diarista. No geral, os ônibus estão velhos e mal cuidados.”

Para ela, a situação reflete o descaso de gestores e usuários. “As ruas ficaram muito tempo esburacadas, isso ajuda a desgastar mais rápido. As empresas não trocam os veículos, e os passageiros também não cuidam dos que estão aí.”

Trabalhadores

A Tribuna entrou em contato com o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Juiz de Fora (Sinttro-JF) para saber o posicionamento da categoria a respeito. A direção informou que, até o momento, não foi formalizada nenhuma queixa sobre as condições dos veículos por parte de motoristas e cobradores. O Sinttro reforçou que o bom estado de conservação dos ônibus é fundamental para a realização da atividade da categoria, e que qualquer situação que ofereça insegurança ao trabalhador deve ser relatada à entidade.

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