Fé e superação marcam histórias de mulheres contra o câncer
Relatos de uma estudante, diagnosticada aos 28 anos, e de uma idosa ativa mostram que doença não escolhe suas vítimas, mas as faz ainda mais vitoriosas
“O que eu mais queria, durante todo o meu tratamento, era sair viva”. E saiu. É isso que a estudante de biomedicina Vanessa Freguglia, 29 anos, destaca sobre sua experiência com o câncer de mama, doença que ela teve de encarar ainda muito jovem, com apenas com 28 anos. Em nenhum momento, no entanto, ela deixou com que o fato atrapalhasse sua rotina de faculdade ou vida social, por exemplo. Inclusive, a serenidade é o sentimento que ela deixa sobressair. Durante esta entrevista, algumas lágrimas também foram inevitáveis. Talvez por se perceber tão forte ao relatar tudo que passou – e ainda passa.
“Um dia, deitada na cama, eu estiquei o braço e senti um carocinho na mama esquerda. Fiquei um pouco preocupada, mas como havia batido o seio algum tempo antes na academia, achei que pudesse ser alguma consequência. Após algumas semanas, o carocinho ainda estava ali, e meu namorado e eu resolvemos investigar. Procurei uma médica, fiz o ultrassom. Ela me disse que não tinha gostado do resultado e que seria necessária uma ressonância e, dependendo, uma biópsia. Por fim, precisei fazer a imunoistoquímica. No dia que fui receber o diagnóstico, não acreditei, fiquei pensando, viajando na notícia que eu acabava de ter. Mas a minha médica oncologista, Milena Matos, foi um amor, um anjo na minha vida, me explicou sobre a doença e o que estava por vir.”
Após passar por uma consulta genética, Vanessa teve a comprovação de que possuía uma mutação genética e que, por isso, havia desenvolvido a doença tão cedo. No dia 18 de outubro de 2017, a estudante começou o tratamento quimioterápico. Segundo ela, na terceira sessão, o tumor já havia desaparecido. Contudo, com a mutação, a chance de continuar desenvolvendo a neoplasia, inclusive na outra mama, era muito alta. Com isso, Vanessa precisou passar por uma mastectomia e retirou as duas mamas.
“A princípio eu iria retirar apenas o quadrante afetado, mas depois as duas mamas precisaram ser retiradas”. Na mesma cirurgia, contudo, a reconstrução das mamas foi feita e, embora para ela o procedimento tenha sido muito agressivo, assim como a quimioterapia, desistir ou perder as esperanças nunca passou pela sua cabeça. “A quimioterapia foi a pior experiência da minha vida, mas foi o que me salvou. Durante o tratamento eu vi de tudo, mulheres com diferente níveis da doença lutando pela vida, e eu pensava: o que eu sou perto dessa pessoa? Não vou me deixar abalar. Foi muito difícil. Porém, hoje, situações do dia a dia que parecem ruins, eu paro e penso que não é nada perto do que já passei, e não fico mal por isso”.
Planos futuros
Outra consequência que a doença trouxe para sua vida foi a possibilidade de se tornar infértil, uma notícia muito difícil para Vanessa, que sonha em ser mãe. O fato, então, fez com que ela pesquisasse e percebesse que era viável, até mesmo financeiramente, congelar seus óvulos para uma gravidez futura. Seus planos, conta, mostram a superação de uma fase que a deixou mais forte e grata pela vida. “Viver em função do câncer é não viver. Hoje sou plenamente grata, quero compartilhar minha história para ajudar outras meninas e mulheres. O fato de sermos novas não quer dizer que a gente não tenha que se cuidar e prevenir. Temos que começar cedo, pesquisando e procurando saber casos de família. É muito mais fácil, mais barato e mais saudável do que ter que encarar a doença”.
‘A prevenção foi o que me salvou’
Até ser diagnosticada com câncer de mama, Marlene Lempke, costureira aposentada de 65 anos, tinha uma rotina movimentada, fazia caminhada e saía com frequência. Ao receber a notícia de que tinha desenvolvido a doença, a surpresa veio acompanhada da vontade de lutar contra a situação, mesmo que, para isso, ela tivesse de mudar totalmente seu cotidiano. “Quando a médica me falou que tinha constatado na biópsia que eu estava com câncer, não me senti muito mal, aceitei. Depois veio a tristeza, que logo passou. E eu pensei: já que temos que enfrentar, vamos enfrentar! O que me animava era que meu caso foi descoberto no início, e as chances de cura eram de quase 95%”. Católica, ela tinha muita fé de que tudo daria certo.
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As chances de cura a que Marlene se refere têm relação direta com o diagnóstico precoce. Desde os 40 anos, anualmente, ela realizava a mamografia, exceto em 2016. Em setembro de 2017, uma lesão foi diagnosticada ainda em estágio de microcalcificação. “Eu vacilei em 2016, nem sei bem o porquê. Geralmente busco sempre me cuidar, sempre fui atenciosa. Assim como a doença poderia ter sido diagnosticada um ano antes, também poderia não ter sido. O diagnóstico veio em 2017, acho que tinha que ser”, pontua.
O que é fato, no caso de Marlene, é que o seu cuidado preventivo fez total diferença para a cura da neoplasia mamária. A pequena lesão na mama esquerda, menor ainda na direita, possibilitaram que a cirurgia fosse menos invasiva e conservadora. Após o procedimento, ela passou por sessões de quimioterapia no início do ano e, depois, por radioterapia, finalizada em setembro. “Tenho quase certeza que já venci, ainda não fiz outra mamografia, vou fazer somente em janeiro, mas estou muito bem, me sinto saudável. No momento, faço tratamento com medicamentos via oral, mas não é nada perto do que passei”, conta.
Hoje, para Marlene, o fato de ter se prevenido foi o que a salvou, assim como o apoio incondicional de sua família. O que ela espera é que a sua experiência com o câncer de mama sirva de alerta para que outras mulheres não se esqueçam de olhar para si mesmas.
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