Coletivo denuncia racismo na UFJF

Segundo integrantes, pai de estudante teria sido acusado de tentar roubar carro, que era na verdade seu próprio veículo


Por Júlia Pessôa

21/06/2017 às 19h25- Atualizada 21/06/2017 às 19h45

O coletivo Descolônia, de alunos e artistas negros do Instituto de Artes e Design (IAD) da UFJF, fez, na semana passada, uma denúncia de racismo institucional ocorrido no campus. Em suas redes sociais, o movimento publicou o vídeo que traz o relato do pai de uma aluna do IAD, que teria sido vítima de racismo por parte da equipe de segurança da instituição. De acordo com o depoimento, o abuso teria se passado no dia 2 de junho, quando o homem acompanhava a filha, que foi até a universidade na data para entregar alguns trabalhos de seu curso. “Eu estava com um berimbau porque tem uns cachorros que ficam soltos aqui. Como eles já atacaram minha menina, o berimbau já servia para amedrontá-los. Só que eu estava com um capuz porque estava muito frio (…)”, relata o pai da estudante na gravação.

No vídeo, ele conta, ainda, que a abordagem da segurança teria ocorrido enquanto esperava a filha entregar o material no IAD. “Voltei sozinho com o berimbau em direção ao meu veículo novamente. Nisso, coloquei o capuz, destravei o veículo, entrei, fechei a porta e percebi que alguém vinha em minha direção. Era o vigilante falando no rádio rapidamente e sacou-me uma arma. Neste momento, eu me senti bem apavorado, levantei as mãos, acendi a luz do teto e o vigilante pedia reforço, dizia ‘Emergência! Emergência! Elemento puxando carro e fazendo ligação direta.’ Neste instante chegou outro vigilante também sacando a arma e tinha mais um atrás de mim. Eu não pude em nenhum momento me apresentar, mostrar documento, dizer que estava aguardando minha filha, porque não houve oportunidade.”

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Ainda no material divulgado pelo coletivo, o homem de 64 anos diz que só teria conseguido sair do carro quando a aluna retornou, mas que eles não puderam registrar boletim de ocorrência mesmo após os esclarecimentos. “Tentei argumentar, pedi nomes, alguém se apresentou como chefe, mas em nenhum momento deram chance para eu e minha minha filha falarmos. A universidade é aberta, mas depois destes fatos, sinto-me inseguro pela minha família e pelo meu estado físico”, desabafa.

Na publicação do vídeo, o coletivo Descolônia se posicionou sobre a impossibilidade de registrar a ocorrência no momento. “(…) não permitiram que ela registrasse um boletim de ocorrência sob a alegação de um mero mal-entendido. O curioso é que esses mal-entendidos sempre acontecem com pessoas negras. O coletivo Descolônia vem a público denunciar o caso para que o racismo institucional não seja banalizado em nossa instituição. Esperamos respostas da UFJF e não deixaremos que esse e outros episódios de racismo passem despercebidos!”, diz a postagem no Facebook.

A estudante da UFJF informou à Tribuna que registrou queixa na Polícia Militar, que foi encaminhada à Polícia Civil. Além desta, foi feita uma ocorrência interna posteriormente na UFJF. A universitária informou que ela e o pai estão sendo representados por uma advogada. A Comissão de Direitos Humanos da OAB relatou à Tribuna que também está acompanhando o caso. Em resposta ao jornal, a UFJF informou que a Coordenação de Segurança ouviu os vigilantes e a vítima e está encaminhando o caso para a Administração Superior. A universidade informou, ainda, que a diretoria de ações afirmativas, por meio da ouvidoria especializada, ofereceu acompanhamento psicológico à estudante e seu pai e também encaminhou a ocorrência para a Administração Superior.

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