Juiz-forano tratado com remédio alternativo no Rio retorna à cidade
Empresário, de 43 anos, diagnosticado com suspeita de febre amarela, foi medicado com Sofosbuvir na Fiocruz. Ele passará por exames semanais. Em Minas, remédio vem sendo usado apenas em um hospital de BH
O empresário juiz-forano Wander Rocha Côrtes, 43 anos, tratado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com o Sofosbuvir, medicamento alternativo utilizado em tratamento contra a febre amarela, já retornou a Juiz de Fora, mas ainda passa por acompanhamento médico e participa de exames semanais. O Sofosbuvir é indicado para hepatite C, mas demonstrou bons resultados contra o vírus da febre amarela. Ainda em fase de testes para combater a doença, que já fez 76 vítimas fatais em todo o estado somente neste ano, o medicamento vem sendo utilizado em Belo Horizonte, e é uma tentativa de tratar pacientes com quadro grave e reverter a deterioração do fígado causada pela doença.
Após passar por dois hospitais de Juiz de Fora com alterações significativas nas taxas que medem inflamação no fígado, o paciente foi orientado a buscar atendimento na Fiocruz, no Rio de Janeiro. Ele foi admitido pela instituição no dia 9 de fevereiro, sexta-feira, quando começou a ser tratado com o Sofosbuvir. Na segunda, já com aparente melhora no quadro clínico após receber três drágeas do remédio, o paciente teve alta. Ele recebeu mais duas drágeas, totalizando cinco comprimidos, administrados dos dias 9 a 13 de fevereiro. Na última sexta-feira (16), Wander e a esposa retornaram para Juiz de Fora.
Apesar de já ter tido alta, o paciente ainda vai continuar sendo acompanhando pelo seu infectologista e por profissionais de saúde da Fiocruz. Estão sendo realizados exames semanais, com o objetivo de verificar a quantidade de enzimas presentes no fígado do paciente, assim como outras variáveis relacionadas à saúde do órgão, que se deteriora rapidamente em casos de febre amarela. Conforme Andrea Côrtes, esposa de Wander, o marido está passando bem, mas ainda tem restrições alimentares e está impedido de trabalhar. Ele foi o primeiro juiz-forano tratado com o medicamento após ser diagnosticado com suspeita de febre amarela.
Limitação do uso
O Hospital Eduardo de Menezes, localizado em Belo Horizonte, é referência em tratamento de febre amarela no estado e já utiliza o medicamento em pacientes com suspeita da doença. Por enquanto, a unidade é a única em Minas Gerais que administra o Sofosbuvir nestes casos. A Tribuna procurou a Secretaria de Estado de Saúde (SES) para questionar se o tratamento já é utilizado em alguma unidade hospitalar da cidade, mas a assessoria informou que, por enquanto, o medicamento será utilizado somente no Hospital Eduardo de Menezes, ligado à rede Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). Não há informação sobre a possibilidade de o remédio ser utilizado em Juiz de Fora ou na Zona da Mata.
O motivo da limitação do uso do Sofosbuvir é a falta de comprovação da eficácia do mesmo contra a febre amarela. Há resultados testados laboratorialmente, mas ainda é cedo para afirmar que o medicamento pode ser usado com este propósito, conforme a diretora do hospital da capital mineira, Thaysa Drummond. “Ainda estamos em fase de teste. O medicamento já é utilizado para tratamento da hepatite C, e há estudos que mostram que ele tem efeito sobre o vírus da febre amarela. Começamos uma linha de tentativa de uso do medicamento, junto com a Universidade de São Paulo, no Hospital Eduardo de Menezes, mas ainda é precoce fazer qualquer comentário a respeito da eficácia e da resposta dos pacientes ao uso, seria uma especulação”, afirmou a diretora, em coletiva de imprensa realizada para esclarecer a utilização do Sofosbuvir.
De acordo com ela, não é possível divulgar detalhes sobre o número de pacientes em tratamento com o remédio atualmente na instituição, mas ele tem sido usado em quadros graves e com o consentimento das famílias. Segundo Thaysa, o consentimento é necessário porque, mesmo já tendo eficácia comprovada em casos de hepatite C, o medicamento é uma tentativa de tratamento contra a febre amarela, considerando a gravidade e a mortalidade elevada da doença.
Também não há previsão de quando os resultados serão divulgados, segundo Thaysa. “Vamos ter que esperar passar essa fase do surto da doença para analisar os dados. No fim dos tratamentos, vamos fazer uma análise e tentar definir se há mesmo benefício ou não.” A diretora ainda classificou a situação como dinâmica e recente, reforçando que nenhuma declaração sobre a eficácia do Sofosbuvir será divulgada neste momento. Questionada sobre a dificuldade de aquisição do medicamento, cuja caixa com 28 drágeas pode custar até R$ 74 mil, a diretora afirmou que a questão será discutida posteriormente, caso seja confirmada a eficácia contra a febre amarela.