Em clima de comoção, bebê assassinado é enterrado no Cemitério Municipal

Mikaelly de Oliveira Ribeiro, de 1 ano e 7 meses, foi morta por espancamento e enterrada no quintal da casa onde morava com a mãe o padrasto, em Teresópolis (RJ)


Por Daniela Arbex

20/02/2018 às 11h40- Atualizada 20/02/2018 às 19h53

Cortejo foi acompanhado por familiares, amigos e até curiosos que se dirigiram ao local em função da repercussão do caso (Foto: Olavo Prazeres)

Em clima de forte comoção, o corpo da menina Mikaelly de Oliveira Ribeiro, 1 ano e 7 meses, foi enterrado na manhã desta terça-feira (20), no Cemitério Municipal em Juiz de Fora. O cortejo saiu às 8h24 e foi acompanhado por familiares, amigos e curiosos que se dirigiram ao local em função da repercussão do caso. Mikaelly residia com a mãe a os avós maternos no Bairro Linhares, sendo levada para Teresópolis (RJ) em 11 de julho de 2017. Na ocasião, a mãe dela, Raiane de Oliveira Gonçalves, 19 anos, se mudou para o Rio com a menina após conhecer pela internet o vigia Janoir Martins Custódio. A jovem teria ido com a criança sem autorização do pai biológico Jorge Ribeiro Júnior, 24, que, desde o ano passado, tentava sem sucesso localizar a filha. Segundo apurou a polícia do Rio de Janeiro, após vários episódios de maus-tratos, Mikaelly foi morta por espancamento no dia 4 de agosto e teve o cadáver ocultado pela mãe e por Janoir.

Em choque, Jorge mal conseguia falar sobre o assassinato da filha. “Meu coração está partido”, limitou-se a dizer, enquanto era amparado por parentes. Maria de Lourdes Sana Rodrigues, 42 anos, avó paterna de Mikaelly, também chorava muito. “Por que fizeram isso com ela? Por quê? Ver um filho sofrer e não poder fazer nada para ajudar dói muito”, repetia, em prantos. Rosana Soares de Oliveira, 42 anos, avó materna de Mikaelly, também estava muito abalada. Debruçada sobre o pequeno caixão branco, ela parecia não acreditar no que estava acontecendo. As duas avós seguiram o cortejo amparadas. Após o enterro, houve salva de palmas.

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O caso

A morte de Mikaelly começou a ser desvendada na terça-feira passada. No dia 13 de fevereiro, os avós paternos e maternos da bebê foram comunicados do falecimento dela pela própria Raiane. Segundo eles, a jovem teria contado, por meio de mensagem de celular, que a filha teria morrido em 4 de novembro, em função de “um derrame cerebral” e que ela não avisou antes porque estava internada. Desconfiados da versão da jovem, os parentes do pai biológico fizeram apelos nas redes sociais e conseguiram descobrir o novo paradeiro de Raiane. Após a mobilização, a Polícia Militar de Teresópolis recebeu uma denúncia anônima sobre o sumiço da menina, chegando até a mãe dela, que estava em Itaipava, onde foi acolhida na casa de desconhecidos. Segundo ela, isso ocorreu após ser agredida e colocada para fora de casa por Janoir. Mesmo longe do vigia, ela não procurou ajuda nem contou o que tinha acontecido com a filha em agosto do ano passado. A localização do cadáver da menina, em uma cova improvisada no quintal de uma casa na Rua Mercúrio, número 80, na Beira Rio, surpreendeu todo mundo.

Em depoimento à polícia, Raiane acusou Janoir de maltratar Mikaelly. Segundo o titular da 110ª Delegacia de Polícia Civil, Paulo Roberto Freitas, os maus-tratos impostos à criança ficam claros na revelação de que a menina dormia em um colchão que era colocado ora na cozinha, ora na sala. A mãe da criança contou que, por diversas ocasiões, o vigia a proibiu de alimentar a filha, chegando a prender as mãos e pés do bebê com fita. No dia 4 de agosto do ano passado, por volta de 14h30, a criança teria passado por uma sessão de espancamento. Segundo Raiane, quando a menina parou de chorar, ela foi até o cômodo onde estava e notou que tinha falecido. Ainda em depoimento, a jovem disse que foi obrigada por Janoir a ajudar a enterrar a própria filha.

Já Janoir negou tudo à polícia e acusou Raiane de ter matado a criança. Ele admitiu, porém, ter ajudado a ocultar o cadáver. Além de descobrir quem realmente matou a menina, o delegado quer saber se houve a participação de outros parentes do vigia no crime. Uma das linhas de investigação tenta responder se familiares do rapaz ajudaram a escavar o terreno onde Mikaelly foi encontrada. O laudo pericial também poderá ajudar a entender os meios com os quais a criança foi morta.

Mobilização de parentes ajudou na localização dos restos mortais

Foi a partir da mobilização nas redes sociais iniciada por Vânia da Silva Alves, 37 anos, madrasta de Jorge Ribeiro Júnior, pai biológico da bebê, que o corpo de Raiane pôde ser localizado. Vizinhos do ex-casal, em Teresópolis, contaram à família de Raiane, em Juiz de Fora, que há meses não viam a criança. Na última sexta-feira, 16 de fevereiro, Raiane foi encontrada em Itaipava após a Polícia Militar receber uma denúncia anônima. Foi ela quem apontou o local onde a filha tinha sido enterrada no dia 4 de agosto de 2017.

Para os parentes, no entanto, Raiane teria informado que a menina tinha morrido em novembro, em função de um derrame cerebral, e que não havia contado antes, porque estava internada. No mesmo mês em que Mikaelly foi morta, o pai dela viajou para Teresópolis, na companhia da mãe de Raiane, para tentar trazer sua filha de volta, mas não conseguiu falar com Raiane. No Estado do Rio, ele recebeu a notícia de que mãe e filha estariam no Chile. Por celular, os parentes de Jorge ainda pediram ajuda de familiares do vigia para localizar Mikaelly, mas não tiveram êxito.
Raiane e Janoir foram presos em flagrante no dia 16 de fevereiro, sexta-feira, pelo crime de ocultação de cadáver. Na última segunda-feira, os dois foram apresentados na Penitenciária de Benfica para realização de audiência de custódia. A expectativa é que eles sejam transferidos para Bangu, no Rio de Janeiro.

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