Rota noturna do Demlurb provoca retenções no trânsito

Apesar do horário considerado alternativo, corredores de tráfego são prejudicados com caminhões no início da noite, provocando gargalos e tirando a paciência de motoristas


Por Eduardo Valente

19/10/2017 às 06h30- Atualizada 19/10/2017 às 07h36

Às 19h de uma terça-feira, hora de rush na Rua São Mateus, caminhão que recolhe lixo para o trânsito (Foto: Marcelo Ribeiro)

Implantada há seis anos com objetivo de reduzir as retenções no trânsito, a rota noturna de coleta de resíduos sólidos do Demlurb não cumpre mais esta proposta. Com o crescimento da própria cidade, que observou evolução da frota em 37% nos últimos seis anos, corredores de tráfego mantêm grande fluxo de automóveis mesmo nos horários que antes eram considerados mais tranquilos. Na prática, o recolhimento de lixo, a partir das 19h, tem gerado retenções e tirado a paciência dos condutores, em vias do Centro e de bairros do entorno, como São Mateus, Alto dos Passos, Manoel Honório e Morro da Glória. Entre as hipóteses para o aumento dos gargalos está, ainda, o fato de atualmente os caminhões recolherem 27% mais lixo do que quando a rota foi implantada, segundo dados estatísticos do Demlurb, o que exige mais caminhões ou mais tempo para os garis cumprirem suas funções.

O recolhimento dos resíduos no horário noturno é feito por meio de 23 rotas, que funcionam de segunda a sábado, sempre a partir das 19h. Deste total, quatro itinerários, que correspondem ao Centro e bairros Manoel Honório e Morro da Glória, são cumpridos todos estes dias até as 2h. A exceção está nos sábados, que têm início às 14h e término às 19h. Outras nove rotas são feitas às segundas, quartas e sextas, com horário de término oscilando entre meia-noite e 3h, dependendo do local atendido. Já as dez restantes, terças, quintas e sábados, também terminam da meia-noite às 3h. No sábado, os trabalhos começam às 13h e vão até 17h, 18h ou 19h.

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Na última semana de setembro, a Tribuna acompanhou a movimentação de um destes caminhões do Demlurb numa terça-feira, na rota que atende ao Bairro São Mateus. Às 19h, quando os trabalhos começaram, na altura da Rua Padre Café, o fluxo de veículos ainda era intenso de ambos os lados, embora a fluidez não estivesse comprometida. No entanto, quando o caminhão entrou na Rua São Mateus, uma grande fila se formou, da rotatória que faz interseção com a Rua Doutor Romualdo até a esquina com a Rua Pedro Scapim. Alguns condutores, impacientes, acionaram a buzina diversas vezes. “É esta bagunça toda vez que o caminhão passa. Os garis não têm culpa alguma, pois estão fazendo o trabalho deles, mas este horário não deveria ter caminhão. Estão todos cansados, querendo chegar em suas casas. O início deveria ser mais tarde”, disse um condutor que estava na fila, mas preferiu não ser identificado.

Situação semelhante ocorreu, no mesmo dia, na Rua Santo Antônio, próxima à interseção com a Rua São Sebastião por volta das 19h30. O caminhão ficou parado no mesmo ponto por quase dez minutos até conseguir recolher os sacos de lixos. Mesmo com duas faixas de circulação, as retenções foram inevitáveis e, em certo momento, até um carro preferiu dar marcha ré e fugir do gargalo pela Rua São Sebastião. “Difícil saber o que seria pior, pois eu também moro no Centro e prefiro esta confusão no início da noite do que barulho de caminhão quando já estou em casa descansando”, disse o comerciante Agnaldo da Fonseca, 58 anos, morador da Rua Barão de Cataguases, no Bairro Santa Helena.

No dia seguinte, a Tribuna acompanhou a rota que atende as ruas Batista de Oliveira, Marechal Deodoro e Fonseca Hermes. A retenção ficou mais evidente nesta última via, com impactos, também, na Rua Francisco Bernardino. Quando a coleta começou, passava das 19h30, e o tráfego já havia diminuído de forma considerável. Caso tivesse começado no horário previsto, às 19h, provavelmente o impacto seria maior em razão do maior volume de veículos nestas vias.

‘Diminui o impacto’
Em nota, o Demlurb disse que, conforme dados da Settra, a coleta noturna diminui o impacto do trânsito no Centro da cidade, porque o fluxo de veículos à noite ainda é bem menor que durante o dia. “Só para se ter uma ideia, são recolhidas 161 toneladas de resíduos sólidos somente no período noturno em Juiz de Fora. Diante disso, alterar o horário da coleta para mais tarde trará transtornos maiores à população, como a perturbação do silêncio, por exemplo. Dessa forma, o órgão ressalta que a coleta noturna, mesmo trazendo pequenas pausas no tráfego de veículos na região central, ainda é infinitamente mais benéfica do que a coleta diurna.”

Especialista em trânsito avalia que é preciso rever os horários

O mestre em engenharia de transportes José Luiz Britto Bastos avaliou os dados apresentados pela Tribuna sobre crescimento da frota e volume gerado de resíduos sólidos. Segundo ele, estas situações provam que é preciso rever os horários. Ele recorda que, há seis anos, quando a coleta noturna foi iniciada, o serviço começava às 18h e, posteriormente, mudaram para 18h30 até chegar ao horário atual. “Na verdade, o horário não é muito certo e, algumas vezes, os caminhões passam no São Mateus depois das 20h, o que reduz de forma considerável os gargalos.” Ainda segundo ele, o problema de coleta muito tarde é o barulho gerado pelos garis, o caminhão e o equipamento compactador. “Mas se iniciar mais tarde, podem ampliar o número de caminhões e reduzir o tempo de coleta, para não se estender até a madrugada.”
Britto também relaciona os gargalos à cultura do cidadão pelo uso do automóvel individual, em detrimento ao transporte coletivo. Para se ter ideia, o crescimento da frota de 37% representa pouco mais de 70 mil novos veículos emplacados em Juiz de Fora entre 2011 e 2017. “Em algumas ruas, observamos congestionamento o tempo todo, não apenas no horário considerado de pico. A única solução para isso é usar mais os ônibus urbanos, mas as pessoas não confiam no serviço.”

Aplicativo
Em cerca de dez dias de apuração, a Tribuna tentou se orientar por meio do aplicativo “Descarte.me”, disponibilizado nos sites da Prefeitura e do Demlurb. A tecnologia promete informar se o caminhão do Demlurb já passou na via e a previsão para o recolhimento dos resíduos. No entanto, em diversas ruas e avenidas testadas, o serviço não funcionou. Na tela do smartphone, aparecia a mensagem “Ops! Sem informações”.
Conforme o departamento, desde que a frota emergencial de sete caminhões foi contratada, ajustes estão sendo feitos no sistema de GPS dos veículos. “O aplicativo está sim em funcionamento, embora não aponte algumas rotas que estes novos veículos fazem, exatamente por conta dessa adequação do sistema lógico. Tão logo os ajustes sejam feitos, o aplicativo voltará a funcionar em sua totalidade.” Nesta quarta-feira (18), a Tribuna voltou a fazer o uso do aplicativo, que funcionou normalmente.

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