Polícia Civil prende dentista suspeito de importunação sexual

Operação “Sorriso Seguro” recolheu 600 fichas de atendimento, três notebooks, dois computadores, duas câmeras, uma filmadora e o celular do investigado


Por Sandra Zanella

19/07/2021 às 13h50- Atualizada 19/07/2021 às 14h39

A Polícia Civil deflagrou, na manhã desta segunda-feira (19), a operação “Sorriso Seguro” para prender o dentista de 34 anos, suspeito de se masturbar durante atendimento em seu consultório, na Zona Norte de Juiz de Fora. Além do mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça, policiais da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher também cumpriram três mandados de busca e apreensão, que resultaram no recolhimento de 600 fichas de atendimento, três notebooks, dois computadores, duas câmeras, uma filmadora e celular do investigado. As diligências aconteceram nos endereços residencial e profissional do homem e também na casa da mãe dele.

Pertences do dentista apreendidos (Foto: Divulgação Polícia Civil)

A delegada responsável pelo caso, Ione Barbosa, informou que o inquérito deverá ser concluído em até dez dias. Além das nove possíveis vítimas ouvidas até o momento – a maioria delas menores de idade – três pessoas também prestaram depoimento como testemunhas, incluindo a secretária do dentista. Ele, por sua vez, foi inquirido na ocasião da sua prisão em flagrante, quando, conforme a delegada, negou o crime em um primeiro momento, mas depois admitiu, afirmando que iria procurar ajuda médica. O especialista em ortodontia chegou a ser encaminhado ao sistema prisional em 12 de julho, após ter o flagrante confirmado pela Polícia Civil, mas foi liberado no mesmo dia, mediante alvará de soltura concedido pela Justiça.

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“Uma adolescente de 17 anos teria ido ao consultório desse dentista e, no local, ele teria se masturbado enquanto fazia serviços odontológicos. Diante disso, ela saiu da consulta e foi até a sua mãe, que acionou a Polícia Militar”, lembrou Ione. “Depois disso vieram mais vítimas. Mas no momento em que essas vítimas tomaram conhecimento de que ele havia sido solto, ficaram com receio quanto à sua integridade física e com medo de vir à delegacia denunciar. Diante disso, requeremos a prisão preventiva dele, assim como mandados de busca e apreensão, tanto na residência dele, como também no consultório. E hoje, pela manhã, conseguimos prendê-lo na casa da mãe dele.”

Ainda conforme Ione, o vasto conteúdo apreendido poderá ajudar a polícia nas investigações. “Vamos submeter todo esse material à perícia técnica. Se houver indícios, seja de importunação sexual ou de qualquer outro tipo de crime pornográfico envolvendo criança ou adolescente, ele também vai responder por isso.” As apurações prosseguem.

“Pedimos a todas as vítimas e pessoas que tomaram conhecimento dos fatos que venham até a delegacia para prestar declarações”, conclamou a delegada. Ela reafirmou que o ato de se masturbar no consultório pode configurar crime de importunação sexual, que ocorre quando alguém pratica contra outra pessoa e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lasciva ou a de terceiro. A tipificação foi incluída em 2018 no artigo 215-A do Código Penal e prevê reclusão de um a cinco anos para cada delito praticado pelo suspeito.

Suspeito tinha o mesmo modo de agir

Além da denúncia da adolescente de 17 anos, que levou o dentista à prisão em flagrante após ser pego por ela com o órgão genital exposto durante consulta, a Polícia Civil obteve uma série de depoimentos de outras possíveis vítimas que relataram um modo de agir semelhante. “O modus operandi era o mesmo: ele usava a mão direita para o procedimento, e dificilmente as pacientes viam a outra mão, mas ouviam o barulho dele se masturbando com a luva. Algumas também disseram que, antes de liberá-las, ele arrumava o jaleco”, explicou a delegada Ione Barbosa em entrevista à Tribuna na última semana. Segundo ela, o profissional atuava na Zona Norte há dez anos, onde era respeitado e descrito como uma pessoa educada.

Com a repercussão do caso, além das jovens que procuraram diretamente a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, algumas registraram boletim de ocorrência na Polícia Militar. No dia 14, por exemplo, uma adolescente de 16 anos contou aos militares que, após ver reportagens e postagens em redes sociais sobre o suposto crime cometido pelo especialista em ortodontia, decidiu contar à sua mãe que o fato também havia acontecido com ela.

A vítima relatou que, durante uma consulta há cerca de um ano, percebeu que o profissional olhava muito o seu corpo e ficava preocupado com a janela. Além disso, teria usado apenas uma das mãos no procedimento, enquanto a outra ficava mais abaixo, fazendo movimentos “como se estivesse coçando”, ao mesmo tempo em que o jaleco balançava. Assustada com a situação, ela apenas tomou coragem para denunciá-lo ao descobrir que não era a única paciente a passar por aquilo.

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