Governo e polícias se reúnem para definir segurança na divisa com o Rio

Polícia Militar e Polícia Civil criam plano de reforço nas ações. Seseg também anuncia controle nas estradas e espaço aéreo


Por Michele Meireles

19/02/2018 às 17h19- Atualizada 19/02/2018 às 21h43

Reunidos com agentes de segurança, Pimentel destacou a preocupação com a possível fuga de bandidos para estados vizinhos, o que, para ele, atingiria “muito fortemente a Zona da Mata mineira” (Foto: Carlos Alberto/Imprensa MG)

O comandante da 4ª Região da Polícia Militar, coronel Alexandre Nocelli, e todos os comandantes de unidade de Juiz de Fora estiveram reunidos em Belo Horizonte, nesta segunda-feira (19), onde discutiram questões ligadas à segurança das divisas de Minas Gerais com o Rio de Janeiro. A preocupação com a fuga de bandidos cariocas para o estado veio à tona na última sexta-feira (16), quando o presidente Michel Temer assinou decreto autorizando intervenção das Forças Armadas no estado fluminense. Além dos oficiais da região, todos os outros comandantes do estado estiveram na capital mineira reunidos com o governador Fernando Pimentel (PT). A corporação fará ocupação ostensiva entre os estados e há possibilidade de tropas de Belo Horizonte ajudarem na empreitada. A Polícia Civil também já está em alerta e criando um plano de reforço nas ações policiais. No início da noite, uma nota da Secretaria de Estado de Segurança (Seseg) enviada à imprensa também anunciou medidas para garantir o controle nas rodovias e no espaço aéreo das dividas.

A informação do encontro e Belo Horizonte foi passada por Pimentel em entrevista à rádio CBN na manhã desta segunda. Ele destacou a preocupação com a possível fuga de bandidos para estados vizinhos, o que, para ele, atingiria “muito fortemente a Zona da Mata mineira”. O governador destacou que a fiscalização nas divisas de Minas com o Rio de Janeiro será “muito reforçada”. Além da reunião com os policiais militares,  o petista afirmou que irá se encontrar com os secretários de Segurança do Espírito Santo e de São Paulo, ambos estados que também fazem divisa com o Rio de Janeiro, para tratar da questão. A reunião está prevista para ocorrer na próxima quinta-feira (22). “Também vamos nos reunir com o ministro da Justiça justamente para exigir que o Governo federal inclua neste plano uma vigilância das divisas estaduais para evitar essa migração de criminosos”, pontuou.

PUBLICIDADE

LEIA MAIS: A Intervenção militar no Rio: dos juízes aos generais

Também em entrevista à Rádio CBN, o coronel Alexandre Nocelli destacou que, desde que a Polícia Militar soube da intervenção, deu início ao planejamento. Segundo ele, as ações vão se basear em dois fundamentos: um deles é a ocupação ostensiva dos 342 quilômetros de divisa e o outro um trabalho com o setor de inteligência, que verifica a possibilidade real da migração de bandidos para Minas. “Há inclusive a possibilidade de envio de tropas de Belo Horizonte para a região. A palavra de honra é a repressão imediata. A ordem é partir para cima, não tem negociação. Não vamos permitir que o crime organizado crie tentáculos em Minas. Nestes últimos 30 anos em que já houve ocupações no Rio de Janeiro, nunca tivemos este problema de migração de bandidos para cá. Tivemos casos pontuais, não há este histórico. A população pode ficar tranquila”, afirmou.

Coronel Nocelli: “Não vamos permitir que o crime organizado crie tentáculos em Minas” (Foto: Fernando Priamo)

Com a medida, as Forças Armadas passam a ter responsabilidade sobre as polícias Civil e Militar, os Bombeiros e a Área de Inteligência do Estado do Rio de Janeiro. Esta é a primeira vez que a União decreta intervenção em um de seus estados desde a promulgação da Constituição Federal de 1988. Na época, os autores da Carta Magna foram cuidadosos ao não admitir que o texto constitucional fosse alterado por meio de propostas de Emenda à Constituição (chamadas PECs), durante o período de vigência da intervenção.

Polícias integradas

O governador de Minas afirmou não ter considerado a intervenção uma “solução adequada”. “Colocar as Forças Armadas, uma tropa que não está treinada para este tipo de intervenção, nas comunidades não vai resolver o problema. Tinha que ter sido feita uma ação de inteligência policial e combater o crime organizado de maneira mais eficiente e eficaz, sem levantar novos riscos para o cidadão comum. Vamos trabalhar para que as coisas não prejudiquem Minas, que vive uma situação de paz social muito grande. As polícias estão trabalhando de forma integrada e fazendo um trabalho eficiente. Nós vamos manter isso”, afirmou.

Na última sexta-feira (16), após a assinatura do decreto de intervenção na segurança pública no Rio de Janeiro pelo presidente Temer, na tarde , o prefeito de Juiz de Fora Bruno Siqueira postou vídeo em sua página no Facebook afirmando que fez contato com o comandante Alexandre Nocelli da Polícia Militar (PM). Siqueira disse que pediu ao comandante reforço na segurança da cidade e da região.

Polícia Civil faz plano de reforço

Conforme informações da assessoria da comunicação da Polícia Civil, o chefe do 4º Departamento de Polícia Civil, delegado geral Carlos Roberto da Silveira Costa, informou que haverá intensificação de operações e de atividades do serviço de inteligência no âmbito do Departamento, unidade que abrange as Delegacias Regionais de Juiz de Fora, Ubá, Leopoldina, Muriaé e Viçosa. Um plano de reforço já vem sendo traçado junto às delegacias responsáveis por municípios que fazem divisa com o Estado do Rio de Janeiro. A Polícia Rodoviária Federal informou que ainda não foi alinhavado nenhum planejamento para evitar a entrada de criminosos no estado.

 

Exército planeja ações para colocar tropas nas ruas

A assessoria de comunicação do Comando Militar do Leste, cujo comandante, o general Walter Braga Netto, será o interventor da ação, informou que ainda estão sendo discutidas as ações que serão desencadeadas no estado fluminense. Por enquanto, o Exército espera o aval do Congresso para colocar suas tropas nas ruas do Rio. A aprovação do decreto pelos deputados é esperada para esta segunda-feira e pelos senadores para a terça. Por este motivo, ainda não é possível apontar quantos militares serão empregados e de quais unidades.

Há a expectativa de que militares de Juiz de Fora e região sejam enviados para a missão. Soldados de Juiz de Fora atuaram em importantes manobras, entre elas o processo de pacificação dos complexos do Alemão, Penha e Maré, todos no Rio de Janeiro. Trabalharam também, em fevereiro do ano passado, na segurança do Espírito Santo, por conta da crise na segurança pública, quando os policiais militares fizeram greve. Participaram ainda da Missão de Paz no Haiti e na segurança nos Jogos Olímpicos de 2016.

O conteúdo continua após o anúncio

O assessor de comunicação da 4ª Brigada de Infantaria Leve (Montanha), coronel Malbatan Leal, reafirmou, nesta segunda-feira, que a tropa está pronta para ser empregada caso seja necessário. “O momento é de expectativa. Estamos vivendo a fase de planejamento, não há nada ainda de execução. Tão logo seja necessário, estaremos prontos”, afirmou.

O Comando Militar do Leste é responsável por coordenar, controlar e executar as atividades administrativas e logísticas do Exército Brasileiro nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Abrange 141 organizações e mais de 50 mil militares, o que significa 24% do efetivo da força terrestre, formando assim a maior concentração de tropas e escolas militares da América Latina.

Bloqueio nas rodovias e operações aéreas

Em nota enviada à imprensa no início da noite, a Secretaria de Estado de Segurança (Seseg) informou que haverá pontos de bloqueio, controle e fiscalização de vias urbanas nos acessos rodoviários ao estado fluminense. As ações devem se concentrar na BR-101, nas divisas ao norte e ao sul do estado, além de trechos na região de São Gonçalo (comunidades do Salgueiro e Jardim Catarina), na BR-116, nas divisas nordeste e ao sul, além de trechos da Baixada Fluminense, e na BR-040, nas divisas. O patrulhamento deverá se estender também ao longo do Arco Metropolitano.

Ainda conforme a nota, algumas vias e acessos nas áreas de operações podem ser interditados e setores do espaço aéreo poderão ser controlados, oportunamente, com restrições dinâmicas para aeronaves civis. No entanto, não há interferência nas operações dos aeroportos.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.