JF tem média de um homicídio a cada dois dias em novembro

Número de 17 assassinatos no mês é 325% ante o mesmo período de 2021 e coincide com o fim da Delegacia Especializada de Homicídios da Polícia Civil


Por Sandra Zanella

18/12/2022 às 07h00

Juiz de Fora teve média de um homicídio a cada dois dias no último mês de novembro. Os 17 crimes contra a vida registrados no decorrer dos 30 dias não tiveram hora e nem local para acontecerem, estando pulverizados em várias regiões da cidade, embora mais concentrados na Zona Norte, onde houve seis casos, inclusive vitimando um adolescente. Levantamento da Tribuna com base nas ocorrências policiais revela que os assassinatos no penúltimo mês de 2022 ficaram 325% acima dos quatro contabilizados em novembro do ano passado.

O número ainda corresponde a um terço do total de óbitos em decorrência de ações criminosas ocorridos durante os 12 meses de 2021. Naquele ano, o município alcançou o menor número de mortes violentas da última década e, pela primeira vez nesse período, deixou a faixa considerada epidêmica pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – acima de dez homicídios para cada cem mil pessoas -, ficando com taxa de 8,8.

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A explosão violenta coincide com o fim da Delegacia Especializada de Homicídios. A extinção foi anunciada no fim de outubro pela Polícia Civil, em resposta à prisão do delegado Rafael Gomes e de mais seis policiais civis vinculados à Delegacia Especializada de Combate ao Narcotráfico na operação “Transformers”, deflagrada pelo Ministério Público. Ao todo, foram detidas 25 pessoas suspeitas de integrar organização criminosa que teria ligação com tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva e adulteração veicular, entre outros crimes.

Como pontuado pelo próprio ex-delegado regional, Armando Avolio, no fim de sua gestão, a medida de acabar com as especializadas de Roubos, Narcotráfico e Homicídios foi tomada diante da carência de servidores, agravada pela prisão e transferência de policiais. “Entendemos por bem tornar sem efeito a criação das delegacias especializadas para que as delegacias de área possam responder por todos os crimes com maior efetivo e estrutura”, anunciou, na ocasião.

Logo depois de assumir, o atual delegado regional, Márcio Savino, confirmou a proposta: “O fim das especializadas foi uma medida necessária neste momento, para aproximar a Polícia Civil, através das delegacias distritais, do público. As investigações, hora em curso, continuarão, agora com as delegacias dos bairros”. Paralelamente, ele criou o Grupo de Resposta Rápida (GRR) para “infrações penais que necessitem de repressão uniforme e rápida”.

Desde a decisão, a Tribuna questionou a Polícia Civil sobre o término das três importantes delegacias especializadas. Ainda no fim de novembro, a reportagem voltou à questão após constatar a escalada de assassinatos na cidade, alguns motivados inclusive por antigas rixas de bairros e outros supostamente ligados a facções criminosas que disputam o domínio do tráfico em determinadas regiões, a maioria deles praticado com pistolas 9mm, de uso restrito e com grande capacidade letal.

Apesar de o fim das especializadas ter criado um clima de insegurança e de incidência real de crimes violentos contra a vida e, de muitas vezes, os homicídios estarem interligados, mesmo acontecendo em regiões diferentes, a instituição reafirmou, por meio da assessoria, que os assassinatos serão, de forma geral, investigados pelas delegacias distritais, ou seja, por aquelas responsáveis por cada uma das sete regiões do município. Dessa forma, a apuração de uma morte violenta na Cidade Alta, por exemplo, deverá feita pela 2ª Delegacia, enquanto um óbito criminoso na Zona Norte será investigado por outra equipe, da 3ª Delegacia, mesmo que os crimes tenham acontecido em regiões limítrofes, o que, em tese, poderia dificultar as possíveis ligações entre os casos.

“A Polícia Civil, através das delegacias distritais, tem a expertise necessária para apurar os crimes que ocorrem em nosso município. Quando necessário, demandas são encaminhadas para o GRR (Grupo de Resposta Rápida), para que estes apurem delitos considerados graves.” A instituição reforçou que três delegacias especializadas – de Atendimento à Mulher (Deam), Núcleo do Idoso e Núcleo de Proteção aos Animais – “continuam desenvolvendo seu trabalho, atendendo nossa população”.

Delegado destaca investigações de homicídios na Zona Norte

No dia 30 de novembro, a Polícia Civil promoveu coletiva de imprensa para detalhar investigações de parte dos seis homicídios ocorridos na Zona Norte naquele mês e garantir que as apurações continuam ágeis e eficientes como antes da extinção das especializadas. Na oportunidade, o delegado titular da 3ª Delegacia, Rodolfo Rolli, informou que um adolescente e quatro suspeitos haviam sido identificados.

No dia 6 de novembro, Kayo Daher da Silva, 17 anos, morreu com dois disparos no Bairro Santa Cruz. A polícia chegou a dois supostos mandantes, de 27 e 28 anos. Na mesma data, Wellerson de Oliveira Nascimento, 21, morador da Vila Esperança II, foi baleado em um bar na principal praça de Benfica. Ele chegou a ser socorrido, mas faleceu na manhã seguinte. Naquela segunda-feira, disparos levaram pânico a moradores da Vila Esperança I em retaliação ao homicídio.
Segundo Rolli, um adolescente, 16, é suspeito do ato infracional e teria confessado a prática. Outros dois investigados, de 28 e 29 anos, também prestaram declarações. “O crime teria sido cometido em virtude de desavenças entre bairros.” No caso do tiroteio, dois suspeitos presos em flagrante foram encaminhados ao sistema prisional e dois adolescentes respondem junto à Vara da Infância e da Juventude.

No dia 14 daquele mês, Emerson Luiz de Souza, 44, foi encontrado morto a tiros no Santa Cruz. A polícia ouviu testemunhas acerca da autoria e motivação, ainda não divulgadas. Em 26 de novembro, Lucas de Souza Miguel, 29, foi encontrado nu em um campo de várzea no Milho Branco. Ele foi alvejado na cabeça e apresentava queimaduras pelo corpo. A PC informou que a motivação seria relacionada ao tráfico e que iria pedir a prisão preventiva de um traficante.
No dia 29, Jonatha Ferreira de Castro, 32, foi executado com disparos no Santa Cruz, e a PC apurou que ele havia chegado à cidade em um ônibus de Bom Jardim de Minas, sendo levado da rodoviária para um terreno baldio por dois homens, que o obrigaram a entrar em uma caminhonete branca. No dia seguinte, Paulo Victor Baldutti Marto, 31, foi assassinado à bala no Industrial.

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Outras regiões

Novembro começou violento na Zona Sul com dois homicídios logo no dia 1º, com as mortes a tiros de Gabriel Felipe Silva Salgueiro, 25, no Sagrado Coração, que faleceu nos braços da mãe, e de Leandro Rodrigo Ferreira, 36, no Ipiranga. No dia 7, Alexsandro Felix dos Santos, 30, foi assassinado na Vila Sô Neném, no Bairro Santa Rita. Dois dias depois, um homem, 27, foi morto a facadas pelo próprio irmão, 21, no Bairro de Lourdes. Em 11 de novembro, mais dois casos: Pablo da Silva Piazzi, 24, foi executado com seis tiros na praça do Jardim Esperança, e Gabriel Henrique Marques da Silva, 21, faleceu esfaqueado durante briga no Centro.

No dia 14, Diogo José da Silva Rocha, 26, foi encontrado morto pela própria mãe, 50, no Linhares. Dois dias depois, Wesley Michael Martins da Silva, 32, foi a óbito por facadas após buscar celular furtado com suposto criminoso no Parque Independência. No dia 19, Cleverson da Silva Costa, 21, morreu e dois homens, de 19 e 26, foram baleados em um bar no Bairro Caiçaras III. No dia seguinte, Iran da Costa de Carvalho, 31, foi assassinado a tiros perto de seu bar no Linhares. No dia 25, Alessandro Guedes Faria, 36, foi encontrado morto, com corte no pescoço, nas imediações da praça do Bairro Grama.

Além dos assassinatos, pelo menos oito tentativas de homicídio também foram registradas em novembro. A onda de violência prossegue em dezembro, com quatro mortes violentas e cinco tentativas.

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