Infraestrutura para volta às aulas presenciais é desafio para UFJF

Em debate promovido pela Rádio CBN de Juiz de Fora, nesta terça, o reitor da UFJF, Marcus David, afirmou que investimentos serão necessários para o retorno


Por Marcos Araújo

18/08/2020 às 21h48

Durante participação em debate, promovido pela Rádio CBN de Juiz de Fora, nesta terça, o reitor da UFJF, Marcus David, afirmou que investimentos em infraestrutura serão necessários para a volta às aulas presenciais. Segundo ele, um dos maiores desafios será esse retorno de forma segura e com garantia de qualidade de ensino. Marcus David, que é vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), afirmou que a associação vai entregar relatório acerca do ensino remoto – com início em 21 de setembro – e sobre a adoção de medidas para as atividades presenciais.

“Temos clareza e consciência de que não vamos poder operar com o volume de estudantes que nós operamos. Quando a universidade anunciar o início da aula presencial, vai gerar um movimento de mobilidade estudantil muito grande. A quantidade de pessoas de fora de Juiz de Fora que teria que vir para o município ou para Governador Valadares, onde está o nosso outro campus, traz todo um risco nesse momento atual ainda na pandemia”, ressaltou.

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Ele pontua que a questão da aglomeração de estudantes no campus, apesar de grande, resulta em preocupação. “São 20 mil pessoas aqui dentro convivendo. Nós não vamos poder ter a prática do restaurante universitário da forma que sempre funcionou, as alternativas de alimentação de estudante, então, se tornam mais caras. Esse autosserviço que há nos restaurantes tem que ser substituído por outras formas de prática. Então, vamos ter um desafio, teremos que mexer em infraestrutura, mexer em infraestrutura de ambiente, dividir ambientes e colocar protetores”, adverte.

Em razão desses investimentos, a universidade requer aporte orçamentário. Todavia, atravessa um momento de cortes de verbas. “Esse é o momento em que nós demandaríamos investimentos adicionais para enfrentar essa crise, que, certamente, é o que nos espera no início do próximo ano. Nós não poderemos fazer isso com redução de orçamento. Se assim fizermos, as universidades, a educação pública de um modo geral, básica e superior, não terá condição de continuar mantendo a oferta no nível em que oferece, para o volume de atendimento que presta e, principalmente, a fim de manter a qualidade que temos”.

Reitores das universidades de Viçosa (Demetrius da Silva, acima, à esquerda); São João del-Rei (Marcelo Pereira Andrade, acima, ao Centro) e Juiz de Fora (Marcus David, abaixo, à esquerda) participaram de debate na CBN/JF com o jornalista Ricardo Ribeiro (acima, à direita) e o editor-geral da Tribuna, Paulo César Magella (abaixo, à direita)

Qualidade e inclusão

Marcus David assinalou que todas as universidades federais já estão com seus processos de trabalho remoto em funcionamento ou em vias de funcionamento. “De um modo geral, as universidades trabalharam com duas preocupações: de não abrir mão da qualidade e da inclusão dos estudantes. Ontem (segunda-feira), o Governo federal anunciou um programa que oferece conectividade para uma parcela do segmento dos estudantes das universidades e institutos federais. Em um primeiro momento, será para aquele grupo que apresenta faixa de renda familiar per capita igual ou inferior a 0,5 do salário mínimo. Então já é uma contribuição importante do Ministério da Educação, mas reconhecemos que ainda é abaixo da nossa necessidade.”

Perspectivas para 2021

Além de Marcus David, também participaram do debate, cujo tema era “O fim do ano letivo e perspectivas para 2021”, os reitores Demetrius da Silva, da Universidade Federal de Viçosa (UFV); e Marcelo Pereira Andrade, da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ).

Para Marcus David, os desafios enfrentados durante a pandemia podem ser explicados pela dimensão das universidades federais, que contam com mais de 1,2 milhão de alunos em todo o país. Como exemplo, ele citou a Federal de Juiz de Fora, que, atualmente, tem um total de 22 mil alunos entre graduação e pós-graduação, 3.200 servidores entre professores e técnicos administrativos, além de mais uma equipe de trabalhadores terceirizados, além dos trabalhadores da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

Segundo Demetrius da Silva, da UFV, a instituição conta com cerca de 21 mil estudantes, considerando desde o ensino médio federal, passando pelo técnico, graduação e pós-graduação. “Temos, atualmente, cerca de 1.300 professores, 2.300 técnicos administrativos e 500 servidores terceirizadas. Temos 76 cursos de graduação em todas as áreas do conhecimento, 50 programas de pós-graduação, que também contemplam todas as áreas de conhecimento, e vivenciamos um momento extremamente complexo. Eu imaginava que viveríamos essas dificuldades, mas não tanto”, ressaltou Silva.

Ainda conforme ele, o grande desafio é manter a qualidade. “Isso é inegociável e, ao mesmo tempo, temos que continuar a ser inclusivos, porque não podemos, por meio das atividades remotas, excluir aquela parcela dos estudantes que tem maior vulnerabilidade socioeconômica e que sempre foi motivo de grande preocupação”.

Marcelo Pereira Andrade, da UFSJ, tem a mesma visão. Segundo ele, a UFSJ tem campi em São João del Rei, Congonhas, Ouro Branco, Divinópolis e Sete Lagoas. “O número de alunos matriculados em 2020 é de cerca de 16.160 estudantes entre graduação e pós-graduação, o que representa na graduação cerca de 13.000, 2.000 lato senso e 1.188 nos programas de stricto senso. Temos ainda 860 professores, 533 técnicos administrativos, e os nossos colaboradores terceirizados somam 466. Temos um orçamento maior que do município de São João Del Rei, mas a forte restrição orçamentária nos últimos anos é um grande desafio para nós. Ressalto que o princípio da universidade pública federal é manter a qualidade e a gratuidade a serviço do povo brasileiro.”

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Para David, o longo período sem correções no orçamento das universidades aliado a cortes nominais no orçamento criou uma dificuldade de operação e de garantia da qualidade. “Manter a qualidade exige investimento, exige comprometimento da sociedade em aportar investimentos nessas instituições. Quando defendemos aportes maiores de recursos é porque temos a compreensão de que para o Brasil continuar se desenvolvendo, tanto do ponto de vista social, sendo capaz de garantir crescimento cultural e social, e também do ponto de vista econômico, porque as pesquisas desenvolvidas dentro das universidades são o que vão dar competitividade para nossas industrias quando se apropria dessa pesquisa por meio de inovação, temos a certeza de que se o Estado interromper esse investimento, está comprometendo não apenas o funcionamento imediato da instituição, mas o futuro da nação”, sentenciou.

O reitor Demetrius Silva observou que, ao longo deste tempo de crise, as instituições procuraram ganhar em eficiência, tentando utilizar da melhor maneira possível os recursos aportados para as universidades. “Só que chega um ponto que isso torna impossível avançar. Então, pensar em um corte linear de 18,02% como está se prevendo no projeto de lei orçamentária de 2021 é impossível, pois já estávamos estrangulados, porque temos uma série de despesas que aumentam ano após ano. Todas as universidades expandiram muito nos últimos tempos e, consequentemente, ainda temos uma série de consolidações por fazer, como cursos novos que foram criados, campi criados que ainda têm carências. Isso tudo torna a situação insustentável. Outra questão é que estamos na contramão do mundo. Todos os países desenvolvidos, em época de crise, é quando mais investem mais em ciência, tecnologia e inovação, que são as maneiras de sair fortalecido do período pós-crise.”

Na visão de Marcelo Pereira Andrade, o percentual de 18,02% de corte, para 2021, é uma verdadeira calamidade. “Porque é justamente agora que precisamos de bolsas para nossos alunos em vulnerabilidade socioeconômica, já que muitos deles as famílias foram acometidas por perda de emprego ou até mesmo de parentes, fazendo muitos deles se tornarem arrimo de família. Sem os programas de apoio estudantil, corremos um risco de a evasão ser ainda maior. Não porque os alunos não tenham interesse nos estudos, mas porque não terão condições de manutenção no curso, mesmo na universidade sendo pública”, destaca.

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