Moradores do Vitorino Braga cobram execução de obras de contenção de encosta
Em fevereiro, casas foram demolidas no local diante da ameaça de desabamento; entretanto, barranco ainda causa preocupação
Quatro meses após a interdição de diversas residências em função de escorregamentos em encosta entre as ruas Rosa Sffeir e Vitorino Braga, no bairro homônimo, região Sudeste, a situação ainda causa preocupação aos moradores. Apesar de ter efetuado demolições de moradias com risco de desabamento, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) ainda não realizou as obras de contenção do barranco de alto risco geológico. Populares solicitam a intervenção no local, que teria sido prometida pelo Executivo municipal ainda em fevereiro.
Na ocasião dos deslizamentos, diversas moradias das ruas Rosa Sffeir e Vitorino Braga tiveram de ser esvaziadas por conta do risco de desabamento das residências localizadas no alto do barranco. A instabilidade do solo ainda gerou acúmulo de lama em residências da Rua Vitorino Braga e também na calçada da via pública, que chegou a ficar fechada para a passagem de veículos em fevereiro.
No dia 14 de fevereiro, a Prefeitura iniciou a demolição de três residências na Rua Rosa Sffeir, processo que foi concluído no dia seguinte. No entanto, ficaram pendentes os trabalhos de contenção da encosta, que ainda gera risco e preocupação a quem possui residências abaixo do barranco. É o caso do comerciante Adailton Aristeu, morador da Rua Vitorino Braga, que teve de deixar a residência ainda em janeiro, assim como outras 26 moradias da via, que seguem interditadas. “Estou morando mais abaixo, em uma casa alugada. Eles (Prefeitura) ajudam com o aluguel social de R$ 600, mas mesmo assim nós temos que inteirar”, conta.
O mesmo aconteceu com a psicóloga Gisele Borges, também moradora da Rua Vitorino Braga. Ainda em janeiro, ela deixou o prédio onde vivia e se mudou para o Bairro Santos Anjos, Zona Sudeste, com os pais. “Nós ficamos uma semana morando na casa de parentes. Mas, depois, nós tomamos noção da dimensão do que estava acontecendo e vimos que realmente teríamos que alugar um imóvel”, conta Gisele. Ela optou por morar juntamente com os pais para ajudá-los na adaptação à nova morada, uma vez que, antes, a psicóloga morava em apartamento separado. Com isso, a família recebe apenas um auxílio-moradia de R$ 600. “O aluguel social não paga nem metade do valor do aluguel na nova casa”, garante.
Em vídeo, Margarida disse já ter recurso para contenção
Entre os moradores da região afetada, circula um vídeo da visita da prefeita Margarida Salomão (PT), em fevereiro, ao local dos deslizamentos. A chefe do Executivo esteve no local no dia 11 daquele mês para avaliar os riscos de novos escorregamentos. Na ocasião, as chuvas ainda atingiam a cidade de maneira ininterrupta, o que gerava preocupação pela possibilidade de agravamento da situação.
Em um vídeo publicado nas redes sociais do Município, a prefeita propôs soluções em três etapas. A primeira delas consistia na demolição de prédios na Rua Rosa Sffeir. Após a demolição, o segundo passo seria a instalação de uma lona impermeável para evitar a infiltração de água no solo e consequentemente novos deslizamentos. A terceira medida seria avaliar a interdição do trecho onde ocorre os deslizamentos, ou seja, a encosta que segue causando preocupação. As duas primeiras etapas foram concluídas.
No vídeo que circula entre os moradores, Margarida cita a necessidade de obras de contenção e, inclusive, diz que o Município já possui verbas para a intervenção. “Já temos recurso para fazer mais uma contenção na Rosa Sffeir”, diz a prefeita, em um trecho do material.
Além de criticar a promessa que não teria sido cumprida, o morador Adailton Aristeu lamenta a falta de diálogo do Executivo com a população desde fevereiro. “Desde então, (a Prefeitura) abandonou a gente. Não deu informação do andamento da obra, quando vai ser, como vai ser feita, se tem algum projeto. Nós queremos saber do projeto, saber a data que vai ser iniciado”, cobra. “A situação não aguenta outro verão. Vai ser uma catástrofe anunciada, todo mundo sabe que vai acontecer.”
As críticas de Aristeu são reforçadas por Gisele Borges, que ainda revela a precariedade de algumas medidas anunciadas pela Prefeitura. “A lona que colocaram no local está toda rasgada, não tem mais cobertura; o barranco tem várias rachaduras; tem várias árvores que, se caírem, vão fazer um estrago”, enumera. “Você liga para a Defesa Civil, e eles falam que estão monitorando, mas ninguém vê eles na rua. Ninguém conversa com a gente.”
PJF aguarda liberação de verba para obras
Em contato na semana passada, no dia 10 de maio, a PJF informou que aguarda a liberação de verbas federais para iniciar as obras de contenção no Vitorino Braga, e não deu prazo para o início da intervenção. Por meio de nota, o Executivo municipal argumenta que os riscos na região foram reduzidos com as iniciativas tomadas após a demolição dos imóveis na Rua Rosa Sffeir, “como colocação de leira e instalação de lona”. A Prefeitura ainda garante que a área é monitorada constantemente.
Ainda na nota, o Município lembra que realizou a interdição total da Rua Rosa Sffeir para garantir que não haja tráfego de veículos pesados; identificou o surgimento de um vazamento na rede de abastecimento de água, problema que foi corrigido pela Cesama; e notificou o proprietário de um terreno onde foi constatada uma movimentação de terra irregular. “Todos os imóveis da Rua Rosa Sffeir foram vistoriados e não foram identificados novos riscos”, garante.