Três pessoas são investigadas por participação em crime de corpos carbonizados

Mitsubishi Pajero incendiado era clonado e estava próximo a granja que pertenceria a um traficante


Por Marcos Araújo e Sandra Zanella Repórteres

17/11/2017 às 12h08- Atualizada 17/11/2017 às 20h03

Por meio do chassi foi possível descobrir que o veículo de luxo era clonado, possivelmente proveniente de furto ou roubo.

As três vítimas carbonizadas encontradas no bagageiro de um Mitsubishi Pajero incendiado são jovens do sexo masculino, sendo um de 22 anos, e dois de 21, moradores em Juiz de Fora. Por ora, a Polícia Civil não irá divulgar a identidade deles, pois ainda depende de exame de DNA para confirmação. O crime macabro ocorrido na tarde de quinta-feira (18), na Estrada de Joazal, nas imediações de um granjeamento próximo à Usina de Marmelos e da Estrada União e Indústria, está sendo investigado pelo delegado Rodrigo Rolli, titular da Delegacia Especializada de Homicídios. Durante esta sexta-feira (17), familiares das possíveis vítimas prestaram depoimentos na unidade policial, em Santa Terezinha. O delegado adiantou que o triplo homicídio estaria ligado a tráfico de drogas e homicídios na região do Esplanada, na Zona Norte. Segundo ele, três pessoas já estão sendo investigadas como suspeitos das mortes.

Como aponta a apuração, esses jovens têm envolvimento direto num homicídio, ocorrido em 27 de setembro deste ano, que vitimou um rapaz, de 23 anos, no Esplanada, devido à disputa por ponto de tráfico de entorpecente. “Uma das possíveis vítimas, a de 22 anos, tinha dívidas de drogas em três pontos da cidade e também estava envolvida diretamente nesse assassinato ocorrido no bairro, em setembro. Inclusive, ele era jurado de morte naquela região. Depois dessa morte ocorrida em setembro, esse jovem ficou sumido por algum tempo e, há cerca de uma semana, retomou o contato com os outros dois rapazes que morreram com ele”, relata Rolli. Como pontua o delegado, uma das teses da apuração aponta que as duas vítimas de 21 anos estavam acompanhando o rapaz mais velho, como se fossem seguranças. “A investigação mostra que, naquela manhã do crime, o trio comprou drogas. Segundo relatos das testemunhas, às 7h30, eles se deslocaram até a região Sudeste, onde compraram drogas e retornaram. Depois, como eles dizem, fizeram o ‘corre’ (revenderam a droga) pela cidade. Às 9h45, fizeram um último contato e depois desapareceram”, afirma o policial.

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Para a confirmação da identidade das três vítimas, será realizada a retirada de material genético de familiares, a partir da próxima segunda-feira (20), e encaminhado para Belo Horizonte. O resultado servirá para uma confrontação com a ossada encontrada no veículo. “Há vários indícios que mostraram que as vítimas são esses três jovens, e isso foi feito em menos de 24 horas graças ao serviço de investigação da equipe de Homicídios. Primeiro, temos três jovens desaparecidos e três cadáveres, três jovens que estavam rodando dentro de um veículo, fazendo ‘corre’ num Peugeot vermelho. Esse veículo foi encontrado abandonado na cidade de Chácara à noite, logo após o crime. Além disso, as famílias constataram o desaparecimento e fizeram essa ligação junto com a polícia”, explica Rolli ao justificar o motivo pelo qual a polícia considera que os corpos encontrados são dessas pessoas.

Crime bárbaro causa repercussão

Os três suspeitos de serem os mortos carbonizados, como aponta a polícia, já tinham envolvimento com o tráfico de drogas desde quando eles eram menores de idade. Além disso, já estiveram presos e têm participações em homicídios. A maneira como foram executados causou repercussão nas redes sociais, já que a morte deles foi comparada aos assassinados ocorridos em regiões do Rio de Janeiro, nos quais as vítimas são queimadas vivas, num crime conhecido como “microondas”. Tal fato despertou a atenção das pessoas para a possível participação de criminosos de fora do município no triplo assassinato.

De acordo com Rodrigo Rolli, as investigações ainda estão muito prematuras, mas a maneira como os jovens foram mortos deixa a polícia em alerta. “Temos de 3 a 4 investigados como possíveis autores para pautar nossa investigação na questão da rivalidade por ponto de tráfico de drogas dentro de Juiz de Fora, mas não dá para descartar que existe a participação de uma pessoa envolvida como autora que seja de fora da cidade. Mas, preliminarmente, temos essa tese da execução devido a essa rivalidade, e, no tráfico de drogas, eles agem com esse requinte de crueldade, com assassinatos de repercussão, porque eles gostam de chamar a atenção”, ressaltou Rolli, acrescentando que irá aguardar o resultado dos exames de DNA, que leva de 30 a 60 dias, intimar o suposto dono do Peugeot abandonado em Chácara, buscar outros familiares para depoimentos e esperar rastreamento dos veículos envolvidos no caso pelo serviço de inteligência da Polícia Civil. A confirmação sobre se as vítimas foram mortas no local onde foram encontradas ou em outro ponto ainda depende do trabalho da Polícia Técnica.

De acordo com o inspetor da Delegacia Especializada em Homicídios, Anderson Gibi, o Peugeot que estava com as supostas vítimas rodou por diversos bairros da cidade dias antes do assassinato e na própria data do crime. Conforme ele, o serviço de inteligência da Polícia Civil está rastreando os veículos por todos os sinais e radares da cidade e região para mapear por onde eles rodaram. “Inicialmente, já sabemos que o Pajero partiu da Vila Ideal para a área de Joazal onde o crime aconteceu.”
O Pajero foi identificado como veículo clonado, que pode ter sido roubado ou furtado em outra cidade. O dono desse carro já foi identificado, em São Bernardo do Campo (SP). “Fizemos contato com o proprietário. Ele explicou que já tinha denunciado no Detran que o carro possui diversas multas em vários estados nos quais ele nunca esteve”, afirmou Gibi.

Veículo foi incendiado próximo à granja de traficante

O automóvel, no qual os corpos foram encontrados carbonizados, o Pajero com placa de São Bernardo do Campo (SP), foi incendiado nas imediações de uma granja abandonada que pertenceria a um traficante que está preso, conforme informações do boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar. Ainda segundo a PM, o imóvel já teria sido utilizado para diversos delitos e transações ilícitas, inclusive para esconder carros roubados. Pessoas que preferiram não se identificar, temendo represálias, disseram aos militares que entre meio-dia e 13h um veículo de grande porte e cor prata passou em alta velocidade em direção ao local. No mesmo horário, um Volkswagen Fox preto teria estacionado às margens da União e Indústria, próximo a um ponto onde há uma trilha de acesso à região do incêndio, possivelmente para dar fuga aos envolvidos.

Duas pessoas foram vistas na trilha seguindo em direção ao Fox. Diante das informações, os policiais seguiram até o citado caminho em meio à vegetação e encontraram duas caixas de fósforo, cheias de palitos intactos e aparentemente novas. Mais à frente, os militares constataram a presença de rastros e pegadas no mato, desvendando a provável rota de fuga. Ainda conforme o registro policial, houve dificuldade na remoção dos corpos, porque eles teriam ficado “colados” no veículo. As vítimas só foram descobertas no porta-malas após o Corpo de Bombeiros conseguir debelar as chamas. A corporação havia sido acionada inicialmente para um ocorrência rotineira de incêndio em veículo. O fogo havia se espalhado também pela vegetação do entorno. Diante do crime, a PM foi acionada, e pelo menos sete viaturas foram mobilizadas. Investigadores da Especializada de Homicídios e a perícia da Polícia Civil também compareceram ao local dos fatos. Os cadáveres foram encaminhados para necropsia no Instituto Médico Legal (IML).

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