Juiz-foranos contam histórias de carinho, afeto e dedicação após adoção de pets
A Tribuna foi atrás de pessoas que abriram as portas de casa para abrigar cães e gatos
Um animal magro e debilitado, estampando no corpo as marcas que só o abandono é capaz de deixar. Muitos cães e gatos carregam um histórico nada agradável. Esse é o tipo de relato mais comum dado por pessoas que se dispõem a dar um lar cheio de carinho a um bichinho desses. Mas o ato de adotar vai muito além disso e requer uma série de cuidados e, acima de tudo, responsabilidade. A Tribuna foi atrás de pessoas que abriram as portas de casa para abrigar cães e gatos abandonados à própria sorte.
Foi numa tarde chuvosa, de trânsito caótico, que a empresária Kika Paço, 42 anos, encontrou Tequila. A cadelinha, ainda filhote, estava na Garganta do Dilermando, perambulando em meio aos carros, em tempo de ser atropelada. “Quando me deparei com a cena, parei o carro, peguei ela e levei para a casa. Estava suja, faminta e cheia de verme”, conta. Seu outro cachorro, Coiote, foi encontrado no trevo do Bom Pastor com o Granbery, muito machucado. “Resgatei e cuidei dos ferimentos. Coiote ainda tinha doença de carrapato e câncer. Foi uma recuperação muito difícil.” Inicialmente, o animal iria ficar temporariamente com Kika, mas durante os nove meses de cuidados, ela decidiu adotá-lo. “Sua vontade de viver e de superar os problemas falou mais forte”, relembra Kika, que já perdeu as contas de quantos animais já pegou e encaminhou para adoção responsável.
Boa parte dos cães que ajudou tinha histórico de doenças, atropelamentos e maus-tratos. “Já fiz muita rifa e vaquinha para levantar dinheiro e bancar tratamentos veterinários. Desde criança, cuido de animais, mas quando estava na faculdade, isso ficou mais sério e passei a me dedicar ainda mais. O sentimento de adotar um animal é incrível! É amor e gratidão que mudam a vida de uma pessoa. Quando a gente encaminha o animal para uma adoção que dá certo, o sentimento é de dever cumprido. É um dever quase que social, pois temos que zelar pelos indefesos”, afirma Kika.
A conquista de um lar definitivo
Foi pensando em ajudar uma amiga que já tinha adotado um monte de gatos que a advogada Núbia da Silva de Oliveira, 35, levou para a casa a Mariângela. Cheia de receios e medo, pois nunca havia cuidado de um gato, resolveu abrigá-la em casa, prometendo aos pais que seria apenas por um tempo. “E lá se foram três anos, virou o xodó da casa.” Depois de Mariângela, veio uma nova adoção: a cadela Gabi. Como quem cai no conto do vigário, Núbia recebeu uma nova gata, Olga, apenas para lar temporário, já que estava doente e havia sido vítima de maus-tratos. Mas a felina passou a fazer parte da família logo depois.
“As gatas conquistaram meu coração. Não consigo imaginar minha vida sem elas. E também não me vejo comprando nenhum bicho, o que já pretendi um dia. Não consigo assimilar essa monetização do amor. Se você é capaz de amar um gato Persa, é capaz de amar um vira-lata igualmente. Quando comecei a conviver com protetores, como essa minha amiga, percebi que isso não faz muito sentido. Há muitos animais desprotegidos precisando de um lar, pode apostar que a sua relação de amor e cuidado não vai ser maior se esse animal custou R$ 5 mil”.
Quando mudou-se para Juiz de Fora para continuar seus estudos em comportamento animal, a médica-veterinária Érika Latorre, 28, queria a companhia de um animal. Durante uma feira de adoção promovida pelo Canil Municipal, encontrou o Ozzy, seu gatinho, e apaixonou-se por ele. “Moro com outros colegas e combinamos em adotar um gato. Nós três cuidamos dele, mas o Ozzy fica mais comigo. Sou veterinária e compreendo como funciona a compra de animais, por isso, é sempre melhor dar uma segunda oportunidade a um animal abandonado. Existem muitos pelas ruas passando fome. Mais pra frente quero adotar outros animais”, planeja.
No caso da enfermeira Maria Izabel Silva Stroppa, 52, não ter uma das patas não foi empecilho para levar o Whisk Augusto para casa. Ela o conheceu por meio de uma publicação do Canil no Facebook e quando foi buscá-lo, soube da sua história. “Ainda filhote, ele foi encontrado no mato e deu ‘bicheira’ em uma das patas, que precisou ser amputada. Ele é um cão maravilhoso, obediente, carinhoso e grato, e também não foi o primeiro que eu trouxe para a casa. Dar uma chance a um animal rejeitado, que nunca teve um lar, nos engrandece enquanto pessoa.”
Mais que amor, responsabilidade
Não é toda pessoa que possui vocação para cuidar de animais. Ao adotar um cão ou um gato, o candidato deve estar ciente de que muita coisa vai mudar na sua vida, como gastos com alimentação e cuidados veterinários. A gerente do Departamento de Controle Animal, Miriam Neder, explica que, antes de adotar um dos animais abrigados no Canil Municipal, os interessados passam por uma entrevista. São perguntas relativas a rotina familiar, renda e despesas com o animal. Observa-se ainda condições da residência, mecanismos de segurança para evitar possíveis fugas e se, em caso de ausência do proprietário, haverá pessoas com quem deixar o animal. É importante saber também quais os motivos para a adoção.
“Após essa conversa, a equipe do Canil realiza uma visita para conhecer a casa onde a pessoa pretende abrigar o animal. O importante é cruzar os perfis dos futuros tutores com os dos animais que temos, para encontrar aquele que se adéqua melhor em cada caso, fazendo que que aquela adoção dê certo”, explica. Depois que o animal é entregue aos novos tutores, ele passa por um período de adaptação. Se, depois de 14 dias, não der certo, o animal pode ser devolvido ao Canil. “Mesmo depois de um ano ou mais, a pessoa pode devolver. Isso evita outros problemas, como um novo abandono. Mas deixamos claro que, a partir do momento da adoção, a responsabilidade sobre o animal passa a ser da responsável. Felizmente, o índice de devoluções é baixo. Não chega a 3%”, explica.
Miriam ressalta que todos os questionários são arquivados e funcionam como um histórico para consulta em outras adoções. Segundo ela, o interesse das pessoas em adotar um animal tem aumentado, principalmente pelos vira-latas e animais especiais, que não possuem uma das patas, por exemplo. Mas a cultura de criar cães de raça e de porte pequeno ainda prevalece. “Temos que conscientizar as pessoas que animais de porte médio e grande não é tão complicados assim. Olhando para o futuro com muita esperança, acredito que isso ainda pode mudar, por isso, temos investido em ações nas escolas e nas feiras de adoção”. Por semana, o Canil tem conseguido dar encaminhamento de cinco a sete animais. Durante as feiras, a taxa de adoção beira os 50%. “Na última, tínhamos 25 cães e dez gatos. Conseguimos lares para 19 deles”.
A próxima feira está prevista para final de setembro, quando acontece a Semana de Proteção Animal. Além das feiras, você pode adotar um animal diretamente no Canil, por meio dos seguintes caminhos: visitando o local de segunda a sexta-feira, das 9h às 10h30 e das 13h às15h30; acompanhar as publicações na página do Facebook e preencher o formulário on-line de intenção de adoção. Também é possível entrar em contato por meio do disque adoção: 3225-9933, que funciona de segunda a sexta-feira, das 8h ao meio-dia e das 13h às 16h. O Canil Municipal fica na Rua Bartolomeu dos Santos, s/n, Bairro São Damião, na Zona Norte.