Inquérito vai apontar causas da explosão de paiol


Por Michele Meireles

17/08/2016 às 09h43- Atualizada 17/08/2016 às 17h44

A Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel) abriu inquérito-técnico administrativo interno para apontar as causas da explosão em um dos paióis da fábrica, localizada no Bairro Araújo, Zona Norte, e que produz munições de grosso calibre para as Forças Armadas Brasileiras. O acidente ocorreu por volta das 23h de terça-feira (17) e levou pânico à população de Juiz de Fora. A explosão no paiol 1 da unidade provocou um forte deslocamento de ar, que destruiu diversas estruturas. O estrondo pôde ser ouvido em diversas regiões da cidade. Apesar do susto, não houve mortos ou feridos, porém, a situação põe em xeque a segurança da empresa, que está situada em uma área com muitas residências no entorno.

Diante da situação, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas, Farmacêuticas e de Material Plástico de Juiz de Fora e Região (Stiquifamp/JF) pediu ao Ministério Público Federal a interdição da fábrica. A solicitação, porém, ainda não havia chegado ao comando da Imbel até a tarde desta quarta-feira (17). De acordo com o presidente do sindicato, Scipião Junior, os trabalhadores só irão retornar ao trabalho após a empresa e o Corpo de Bombeiros emitirem um laudo garantindo a segurança dos funcionários. “Só não ocorreu uma tragédia pois no horário do acidente a fábrica não funcionava. Porém, o que ocorreu mostra que estamos vulneráveis e que existe um risco real.”

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Conforme informações do Corpo de Bombeiros, um paiol foi destruído, e ainda existem munições no local. Porém, de acordo com o Exército, o risco de uma nova explosão é mínimo, já que foi feito isolamento na área. Os Bombeiros disseram ainda que um segundo paiol foi destruído parcialmente e que os outros depósitos não foram atingidos. Outra informação dos Bombeiros é que houve um princípio de incêndio em um depósito com produtos químicos, que foi prontamente debelado pela guarnição. O local foi monitorado por um drone do Exército e toda ação de segurança e controle desenvolvida a fim de evitar o risco de propagação. Ainda não existe previsão para retirada dos armamentos na unidade.

O Exército vem trabalhando para avaliar os danos causados pelo acidente. Em nota enviada pela Imbel, na manhã desta quarta-feira, a empresa destacou que “está tomando todas as medidas necessárias ao restabelecimento da normalidade e tranquiliza a população juiz-forana, assegurando que todos os requisitos de segurança previstos para as atividades de suas unidades de produção são rigorosamente cumpridos”.

Normas técnicas

Na mesma nota, a Imbel explicou ainda que “a instalação é localizada em área afastada de locais de circulação de pessoas e da área urbana, e que destina-se ao armazenamento de explosivos, cujas condições de temperatura e umidade são permanentemente controladas”. O Exército esclareceu que, “a despeito da intensidade da explosão, o projeto de construção do paiol, em conformidade com as normas técnicas vigentes, fez com que ela se desse de forma verticalizada e que a onda de choque resultante fosse contida pela existência de uma barreira de terra circundante. Todos os requisitos de segurança previstos para as atividades de suas unidades são rigorosamente cumpridos”.
Explosão causa prejuízos em vários pontos

A explosão causou prejuízo a moradores de diversos pontos da Zona Norte da cidade, que tiveram portas, janelas e outras estruturas de suas casas danificadas. Além do Bairro Araújo, onde fica a empresa e há muitas pessoas afetadas pelo incidente, há registro de estragos nos bairros Nova Era, São Judas Tadeu, Santa Cruz, Nova Benfica. Em Benfica, a explosão destruiu vidros de uma agência bancária na Praça Jeremias Garcia e também de diversos outros comércios e moradias. Salas da Praça Ceu, localizada quase em frente à fábrica, tiveram vidraças estragadas. Trechos da Avenida Juscelino Kubitschek ficaram tomados por estilhaços de vidros na noite de terça-feira (16).

Desespero nos primeiros minutos

A Tribuna esteve no local pouco tempo após o acidente e encontrou moradores apavorados, alguns deixaram suas casas e foram para locais distantes do ponto. Quem permaneceu no bairro saiu para a rua e foi em busca de informações sobre o ocorrido. Apenas por volta de 1h, após checar a real situação, é que o Exército se pronunciou.

Quase todos os moradores da Rua Coronel Ancino Nunes Pereira tiveram prejuízos. Um deles, Tarcísio Ribeiro, estava deitado quando as telhas de amianto se quebraram e caíram pedaços de tijolo no cômodo. “Na hora, não sei nem o que pensei, foi um susto enorme. Eu ia mudar minha cama de lugar, e ia cair exatamente em cima de mim, foi livramento.”

Os tijolos que quebraram as telhas da casa de Tarcísio foram arremessadas do segundo andar da residência vizinha. O dono deste imóvel, o aposentado Adolfo Gonçalves, contou que assistia a um jogo de vôlei pela TV com sua esposa quando ouviu o estrondo. “Na hora pensei que fosse uma bomba, parecia que meu terraço estava sendo arrancado. A minha cobertura tinha tijolos vazados em cima do beiral, eles foram arrancados. Além disso, tive janelas quebradas e porta danificada. Estamos com medo de ficar aqui, mas não tem como sair e deixar a casa toda aberta”, disse.

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Na mesma rua, a moradora Maria Rosângela, que também teve muitos prejuízos em seu imóvel, relatou que, no momento da explosão, as ruas do bairro viraram um caos. “Ninguém sabia o que tinha acontecido, foi uma correria na rua, todos apavorados. A gente não sabia de onde tinha vindo o barulho, parecia que um trator tinha invadido minha casa. Foi horrível”, disse, acrescentando que ela e o marido estavam fazendo obras na casa, e uma das coisas trocadas foram os vidros das janelas e portas que se quebraram.

O morador Aloísio Rodrigues, que também teve sua casa atingida, questionou a demora no repasse de informações por parte da Imbel. “Muita gente fugiu desesperada daqui, houve boato de que era para evacuar o bairro. Nós ficamos sem saber o que fazer e ninguém nos informou. O cenário que eu vi foi semelhante ao de um bombardeio”, comentou.

O taxista Guilherme Alves estava no ponto de táxi da Praça Jeremias Garcia, em Benfica, quando ocorreu a explosão. Ele viu quando as portas de um banco que fica em frente se quebraram. “Foi um susto muito grande, um barulho alto demais. Além do banco, os vidros da porta do shopping , prédios e luminárias da área, também se quebraram”, contou.

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