Organizações cancelam dois blocos em JF após Justiça determinar alteração de locais

Blocos Lixarte e Debochadas do Vila Ideal cancelaram as festividades carnavalescas marcadas para o final de semana; Unidos do Ripi Rapi mantém evento


Por Gabriel Silva

17/02/2023 às 14h24

Os blocos carnavalescos Debochadas do Vila ideal e Lixarte foram cancelados pelos organizadores após a Justiça determinar, nesta quinta-feira (16), a alteração dos locais onde os eventos aconteceriam. O Unidos do Ripi Rapi, outro bloco afetado pela decisão judicial, por outro lado, mantém a festividade, mas acatou a decisão judicial e alterou o local do bloco para a praça do Bairro Ipiranga, na Região Sul. Até então, o bloco aconteceria no Bairro Vila Ideal, na Zona Sudeste. A decisão da 8ª Promotoria de Justiça de Juiz de Fora expedida na quinta definiu multa diária de R$ 1 mil aos organizadores, além de apreensão de instrumentos musicais e equipamentos de som caso a determinação não fosse atendida.

A decisão judicial estabelece que a concentração e o desfile dos blocos ocorram nos lugares indicados pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), conforme orientação de segurança da Polícia Militar (PMMG), que ficará com a responsabilidade de fiscalizar o trajeto dos blocos e tomar as providências para impedir a realização dos eventos fora dos locais “apontados pelos militares como seguros”.

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Pela determinação, os blocos Debochadas do Vila Ideal e Lixarte, que aconteceriam nos bairros Ipiranga e Olavo Costa, respectivamente, deveriam acontecer na Rua Jacinto Marcelino, 25, Bairro Olavo Costa, o que não foi acatado pelas organizações que optaram, portanto, pelo cancelamento das atividades. Já o bloco Rip Rap foi transferido para a Praça do Bairro Ipiranga, na Rua Dr. Etiene Loures, e acontecerá das 13h às 17h, no domingo (19).

Bloco cancelado no Vila Ideal

Integrante da organização do Debochadas da Vila Ideal, Paulo Oliveira questiona a decisão expedida pela Justiça, uma vez que, de acordo com ele, o bloco sempre foi realizado no mesmo local, passando pelas ruas Altivo Halfeld, Delegado Pinto, Afonso Celso e Machado de Assis. “Há mais de 40 anos o bloco acontece nessa rua. Mas, de uns tempos para cá, falaram que o bairro é perigoso, mas quem conhece o bairro é a gente que vive no bairro”, critica.

A expectativa era que o bloco acontecesse na próxima terça-feira (21), mas a determinação de mudança de local fez com que a realização perdesse o sentido, segundo o organizador. “Eles sugeriram fazer o bloco na Vila Olavo Costa, mas eu vou sair do meu bairro para fazer o bloco em outro bairro? Seria como fazer o carnaval de Juiz de Fora em Matias (Barbosa). Não teria como fazer isso, porque eu tenho que dar valor ao meu bairro”, diz Oliveira.

“Discriminou a comunidade”

Presidente e fundador do Lixarte, Reginaldo Barbosa da Silva, o Bulu, também questiona a decisão da Justiça. Originalmente, os participantes desfilariam, entre 14h e 19h, saindo da Rua da Esperança e passando por áreas conhecidas como Paredão e Trevo, no domingo (19). A alteração para a Rua Jacinto Marcelino, entretanto, foi mal recebida. “Colocaram um lugar para a gente ir, que é um local completamente adverso para nós. O nosso bloco seria dentro da nossa comunidade, na rua principal do bairro.”

De acordo com Bulu, ele já havia participado de reuniões com pessoas ligadas à Prefeitura de Juiz de Fora e à Polícia Militar para articular a realização do bloco, inclusive alterando o período de concentração dos foliões para 15 minutos. A determinação judicial, para ele, foi uma forma de discriminação. “Todo mundo ficou triste, porque discriminou a comunidade inteira. Ainda estou sujeito a pagar uma multa de R$ 1 mil. Eu que nunca tive problema com a Justiça e, agora, com 63 anos, pararam na porta da minha casa duas viaturas, como se eu fosse um bandido. Chateia muito porque a gente procura fazer um trabalho para o bem.”

A decisão pelo cancelamento do bloco, conforme Bulu, causou um prejuízo de R$ 3 mil para a organização, que já havia preparado a festa. “Mas, quem sabe, no próximo ano a gente possa fazer (o bloco). Nós fazemos diversos eventos de rap, de poesia, e geralmente usamos a rua que temos dentro do bairro. Se for olhar ponto de risco, qualquer lugar da cidade tem, até no Centro”, completa.

PM alega abordagem padrão

Em contato com a Tribuna, o assessor de comunicação organizacional da 4ª Região da PM, major Jean Michel Amaral, explicou que o contato feito com o organizador do Lixarte aconteceu para explicar o conteúdo da decisão judicial, sem a presença de um oficial de Justiça. “A nossa presença foi para conversar com o Bulu sobre a decisão da Justiça, de forma a orientá-lo sobre o que poderia acontecer em caso de operação do bloco e informar o senhor Bulu sobre como o policiamento ia acontecer caso ele optasse por alterar o local do desfile”, afirma.

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Segundo o major, a PM também realizou contato com os organizadores dos dois outros blocos que foram afetados pela determinação da Justiça e se deu de maneira padrão. “Não houve qualquer intenção de coação”, diz Amaral, informando que a abordagem foi filmada pelas câmeras acopladas nas fardas dos militares.

A organização do Unidos do Ripi Rapi optou por não se manifestar. A PM informou a reportagem, no entanto, que o bloco entrou com pedido de novo alvará junto à Prefeitura para obter uma estrutura adicional com banheiro químico e palco para realizar o evento estático na Praça do Bairro Ipiranga, e não mais fazer um desfile, como era esperado. A Polícia Militar vai fazer a segurança do bloco, que vai acontecer no domingo, a partir das 13h.

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