Policial é julgado por homicídio de homem que usava sunga dentro de prédio
Escrivão de JF é acusado de disparar pistola ponto 40 contra visitante, que estava com traje de banho no corredor do edifício
Um escrivão da Polícia Civil de Juiz de Fora, de 38 anos, está sendo julgado na tarde desta quinta-feira (17), no Tribunal do Júri de Juiz de Fora, pelo homicídio de Fernando Silva Gomes Neto, 32, ocorrido no dia 8 de janeiro de 2017, no Bairro Marilândia, na Cidade Alta. O crime aconteceu em um dos corredores do prédio onde o policial morava à época, na Rua das Esmeraldas. Fernando residia em Petrópolis (RJ), mas estava na cidade, com sua noiva, participando de um churrasco no apartamento de um casal, na cobertura do mesmo edifício. Ao descer de sunga para buscar um abacaxi no carro, a vítima encontrou com o morador, que retornava de uma missa com sua mulher e filha. O acusado teria pedido a identificação do visitante e alegou, logo após o assassinato, que sua pistola ponto 40, da Polícia Civil, teria disparado acidentalmente. O homem foi alvejado no abdômen e não resistiu.
“Fernando, em determinado momento, foi até seu carro, estacionado em via pública, e encontrou o acusado que chegava da rua. Na volta, já nos corredores do prédio, a vítima se deparou novamente com o policial, que, insatisfeito com os trajes de banho que a mesma transitava pelo condomínio, iniciou uma discussão e, então, sacou uma arma e efetuou o disparo contra ela”, narra a denúncia do Ministério Público (MP). Ainda conforme o MP, o réu agiu por motivo fútil, em razão de uma discussão banal.
Na ocasião do assassinato, o escrivão era lotado na 3ª Delegacia, responsável pela investigação de crimes na Zona Norte de Juiz de Fora. Ele chegou a ser preso em flagrante, mas foi liberado após uma audiência de custódia, no dia seguinte ao homicídio, e respondeu ao processo em liberdade.
Comoção
Fernando veio para Juiz de Fora naquela data visitar sua noiva, que trabalhava na cidade. Os dois estavam juntos há dez anos e iriam se casar naquele ano. Logo após o disparo, a mulher chegou ao local, descendo as escadas da cobertura, junto com o casal de moradores anfitrião. Eles relataram à polícia que aquela não havia sido a primeira vez em que Fernando frequentava o prédio e que nunca havia ocorrido qualquer atrito anterior entre ele o policial.
Na semana seguinte ao homicídio, familiares e amigos da vítima fizeram uma manifestação em Petrópolis, pedindo justiça. Usando camisetas com a foto de Fernando e segurando cartazes de protesto, dezenas de pessoas saíram pelas ruas da cidade onde ele morava, após a celebração da missa de sétimo dia.
No decorrer do ato, a mãe de Fernando, Marta Mathias Gomes, falou emocionada sobre a morte do filho. “Isso é uma injustiça, é um pecado, foi maldade fazer isso com uma pessoa de bem.”
Policial está afastado para aposentadoria por invalidez
Questionada pela Tribuna, nesta quinta-feira, sobre a situação do escrivão que está sendo julgado por homicídio qualificado por motivo fútil, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que instaurou procedimento administrativo para apurar a conduta do servidor, contra o qual há processo judicial em curso. “Desde a época do fato, ele responde à investigação e ao processo em liberdade, por determinação da Justiça.”
Sobre a condição funcional do servidor, a Polícia Civil disse que o escrivão está, desde setembro de 2020, afastado preliminarmente para aposentadoria por invalidez. “A PCMG reafirma seu compromisso com a sociedade e não coaduna com qualquer desvio de conduta praticado por servidores da instituição”, finalizou, por meio de nota.