Minas deve ter mais de 5 mil novos casos de câncer de mama

Dados apontam que mortalidade no estado é de cerca de 52%. Em Juiz de Fora, 405 pessoas morreram vítimas da doença entre 2013 e 2017


Por Carolina Leonel

16/10/2018 às 07h00- Atualizada 16/10/2018 às 14h06

Para a mastologista Carolina Teixeira, maior número de ocorrências da doença também está ligado à efetividade do diagnóstico (Foto: Marcelo Ribeiro)

O câncer de mama é o segundo tipo de neoplasia com maior incidência entre as mulheres no mundo, inclusive no Brasil. A doença é também a quinta causa de morte por câncer em geral, e a causa mais frequente de morte por neoplasia entre o público feminino. O dado, recém atualizado, é do Instituto Nacional de Câncer (Inca), que estima aumento de 29% no número de casos por ano. Em Minas Gerais, dados do órgão, divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), apontam que são esperados, em 2018, 5.360 casos novos de câncer da mama feminina, com a taxa bruta de 50,15 casos novos por cem mil mineiras. No Brasil, cerca de 59.700 pessoas serão diagnosticadas com a doença, segundo a organização.

Outros dados da SES apontam que a mortalidade estadual por neoplasia da mama feminina cresceu em torno de 52% em Minas Gerais de 2006 a 2017. No ano passado, os 1.430 óbitos de mulheres causados pelo câncer de mama representaram 15,5% do total de mortes por todas as neoplasias ocorridas no sexo feminino. Em Juiz de Fora, segundo a Secretaria de Saúde (PJF), entre 2013 e 2017 foram notificados 405 óbitos pela doença, uma média de 81 mortes a cada ano. Diante de números tão alarmantes, a Tribuna conversou com a médica mastologista do Instituto Oncológico de Juiz de Fora, Carolina Teixeira Lopes, para abordar estas e outras questões sobre a incidência da neoplasia mamária. A reportagem é a segunda da série “Outubro Rosa”.

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Para a especialista, o alto e crescente número de ocorrências da doença está intimamente ligado à atual capacidade e efetividade dos diagnósticos. “A gente vê a incidência (de notificações de casos) aumentar por conta da melhora nos métodos diagnósticos, que vão adquirindo qualidade superior, vão ficando mais precisos e efetivos. Além disso, a população se conscientiza mais, busca mais informação e atendimento. Quanto mais se faz exame, mais se vai diagnosticar a doença. E quanto mais a população tiver acesso, também. Então isso ajuda o número de notificações crescer”, afirma a médica. No entanto, ela ressalta que o número pode estar subnotificado, uma vez que o percentual de cobertura mamográfica no país ainda é baixo.

Fatores

Por outro lado, Carolina chama a atenção para a condição do sexo feminino e para o envelhecimento da população, fatores que também aumentam a incidência da doença. Mulheres, inevitavelmente, irão lidar com o risco de desenvolverem o câncer de mama. “A idade, o envelhecimento natural, são fatores que a gente não consegue mudar. O sexo e a condição genética-hereditária, por exemplo, são fatores de risco imutáveis (ver quadro). Com os anos, a chance de se desenvolver uma neoplasia é maior, devido ao envelhecimento da própria célula. Além disso, existe o tempo de exposição hormonal que a mulher sofreu: uma menarca (primeira menstruação) precoce e menopausa tardia são fatores que aumentam as chances de se desenvolver o câncer de mama”. Segundo a médica, homens também correm o risco de desenvolverem câncer de mama. Entretanto, a ocorrência é raríssima, menos de 1% dos casos notificados.

Mamografia é essencial, mas índices são alarmantes

De acordo com a médica mastologista, o autoexame, embora não seja a principal, é mais uma ferramenta que pode auxiliar a mulher em um possível diagnóstico precoce, e deve ser realizado mensalmente, após o período menstrual. Contudo, a orientação da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) é para que as mulheres comecem o rastreio mamográfico a partir dos 40 anos, com o acompanhamento anual de um profissional especialista.

“A mamografia é o único método de rastreio que consegue reduzir a mortalidade pelo câncer de mama. Isso porque é uma prevenção secundária e propicia o diagnóstico precoce. A prevenção secundária nos permite diagnosticar tumores pequenos, até mesmo subclínicos, que, muitas vezes, nem palpáveis são. O tratamento e a cura para a doença estão proporcionalmente relacionados ao tamanho em que o nódulo é descoberto. Se a mamografia é feita anualmente, é possível detectar possíveis lesões em estágio inicial. Nestes casos, a chance de cura é acima de 90%, uma vez que o exame consegue detectar lesões subclínicas com até quatro anos de antecedência”, explica.

O Ministério da Saúde, no entanto, preconiza a realização anual da mamografia para mulheres a partir de 50 anos. O exame está disponível na rede pública, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) para a faixa etária entre 50 e 69 anos. Para mulheres a partir dos 40 anos, há a realização do exame clínico das mamas e realização de mamografia, caso exista indicação da equipe de saúde.

Baixa cobertura

Um estudo concluído em setembro pela SBM, em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa em Mastologia, revelou o percentual de cobertura mamográfica em mulheres entre 50 e 69 anos atendidas pelo SUS, em 2017, no Brasil. Embora os métodos de rastreio estejam mais eficientes, segundo a pesquisa, o índice da cobertura é o menor dos últimos cinco anos. Eram esperadas 11,5 milhões de mamografias e foram realizadas apenas 2,7 milhões – uma cobertura de 24,1%, muito aquém dos 70% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Para a médica Carolina, a má distribuição dos mamógrafos por todo o país é um dos fatores que contribui para a defasagem no mapeio mamográfico das brasileiras, gerando uma grande discrepância entre regiões e estados. “A discrepância de mapeio nas regiões brasileiras é maior ainda. No Pará, por exemplo, o rastreamento é de apenas 7,5% (do público-alvo), sendo que em Santa Catarina é 35%. Nas regiões Sul e Sudeste os mamógrafos estão cada vez mais concentrados”. Portanto, na opinião da mastologista, além da informação e da conscientização, fatores fundamentais, políticas públicas efetivas são essenciais para que o rastreio atinja a taxa de cobertura ideal.

Tratamento depende de diversos fatores

Os tratamentos, segundo a mastologista, dependem de como a neoplasia de mama se apresenta: tamanho e localização do tumor, por exemplo, são os principais fatores analisados, além do desejo da paciente. “Hoje em dia, o que a gente pode afirmar é que a cirurgia conservadora, aquela em que se preserva a mama, associada à radioterapia, tem o mesmo efeito de uma mastectomia”, explica a médica.

Porém, a mastectomia – remoção total da mama – é indicada em casos mais avançados, ou quando a distribuição das microcalcificações é difusa na mama. No entanto, a premissa não é regra. “Vai depender do tamanho da lesão e onde elas estão localizadas. Hoje em dia a gente faz quimioterapia, inclusive, em alguns casos com tumores maiores que, por isso, amenizam e consegue-se fazem uma cirurgia menor, conservadora”.

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Nos casos de mastectomia, a reconstrução da mama é um direito da mulher, e está prevista pela Constituição. A Lei 12.802/2013, torna obrigatória a realização da cirurgia plástica reparadora da mama pela rede de unidades integrantes do SUS, nos casos de mutilação decorrentes de tratamento de câncer, quando houver condições médicas. Se a reconstrução não puder acontecer imediatamente, a paciente deverá ser encaminhada para acompanhamento clínico.

“Atualmente, os tratamentos estão mais eficazes, com a mesma segurança oncológica (que a mastectomia), preservando a autoestima e a qualidade de vida da mulher. Antigamente as pacientes evoluíam com complicações incapacitantes”, expõe. Além disso, os métodos de cura, segundo ela, possibilitam uma sobrevida com menos morbidade, o que garante à mulher um retorno à vida habitual mais rápido. No entanto, a médica pontua que para o êxito nos resultados, sempre se faz necessário o acompanhamento do profissional especialista.

Campanha chama atenção para rastreamento

Com a Campanha “Mais acesso para celebrar a vida” a SBM chama a atenção, durante o Outubro Rosa, para o que a organização considera ser o principal gargalo do “desanimador cenário do câncer de mama no país”: a dificuldade de acesso das mulheres para conseguir atendimento desde o rastreamento para o diagnóstico precoce até o tratamento. Para a sociedade, o acesso das mulheres com alterações clínicas ou radiológicas precisa ser facilitado no Brasil, já que, muitas vezes, entre o início dos sintomas e/ou percepção da alteração no exame, elas levam de 6 a 12 meses para procurar o especialista.

Em Juiz de Fora, durante este mês, as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) funcionam em horários diferenciados e oferecem exames de mamografia e demais orientações sobre o câncer de mama. O Outubro Rosa potencializa as ações de conscientização, prevenção e diagnóstico, no entanto, durante todo o ano, as mulheres podem podem procurar as UBS para ter orientação, acompanhamento e serem devidamente encaminhadas, em conformidade com a preconização do Ministério da Saúde, para realizarem os devidos exames de mapeio nos hospitais credenciados pelo SUS.

Tópicos: outubro rosa

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