PJF inicia atividades remotas para 41 mil alunos da rede pública

Em entrevista à Tribuna, secretária de Educação anunciou intenção de canal de TV para facilitar alcance


Por Sandra Zanella

16/08/2020 às 07h00

Retomada deve mobilizar mais de cinco mil professores, coordenadores pedagógicos e secretários escolares da rede municipal, incluindo em torno de 2.600 temporários (Foto: Fernando Priamo)

Redesenhar os rumos da educação básica pública neste período atípico e no pós-pandemia não tem sido tarefa fácil para professores e gestores. Às vésperas de a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) iniciar a aplicação de atividades remotas para os 41 mil alunos das 101 escolas da rede municipal de ensino – após cinco meses de suspensão das aulas -, a Tribuna conversou com a secretária de Educação, Denise Vieira Franco, e também ouviu especialistas sobre os desafios enfrentados na tentativa de equilibrar saúde e ensino, para evitar a evasão escolar e cumprir a grade curricular. Assim como o Município, o Estado não tem previsão para o retorno das disciplinas presenciais, mas adiantou-se e, desde meados de maio, disponibiliza conteúdos a distância para os 32 mil alunos matriculados nas 45 escolas estaduais da cidade. Os métodos, no entanto, são considerados excludentes por professores, segundo o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação em Minas Gerais (Sind-UTE/ Subsede Juiz de Fora), que denuncia baixa adesão e o aprofundamento da desigualdade social.
Mesmo sem perspectiva a curto prazo da volta do “olho no olho” dentro das instituições de ensino, já que os índices de contaminação da Covid-19 permanecem altos, a PJF e o Governo de Minas estudam estratégias junto aos órgãos sanitários, para possibilitar o “novo normal” e não descartam a tendência de o ano letivo só ser concluído em 2021, diante da exigência do cumprimento de 800 horas anuais.

Apesar de os alunos dos ensinos infantil e fundamental que formam a rede municipal voltarem a receber conteúdos nesta segunda-feira (17) – mobilizando mais de cinco mil professores, coordenadores pedagógicos e secretários escolares, incluindo em torno de 2.600 temporários -, a secretária de Educação destaca que os laços entre docentes e estudantes continuaram sendo mantidos em parte desse período de suspensão.

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“Desde maio e junho fizemos propostas de educação para que as escolas se aproximassem das famílias, uma vez que muitas não têm acesso à internet. Eram possibilidades não conteudistas, e cada escola apresentou um projeto”, detalha Denise, lembrando que a proposição atual não é de Educação a Distância (EAD), que possui suas próprias normativas, mas sim da aplicação de atividades remotas, de acordo com cada realidade.

“Vamos trabalhar com conhecimentos e atividades de formas diversas, seja por meio do WhatsApp ou Facebook dos pais, para aqueles que têm acesso à internet, ou com a entrega presencial de materiais (seguindo os protocolos sanitários). Também estamos concluindo a possibilidade de termos um canal de TV, para chegar a quase totalidade de crianças e adolescentes. Mas isso não é muito fácil, temos que tomar cuidados jurídicos e trabalhar com os direitos de aprendizagem da BNCC (Base Nacional Comum Curricular)”, anuncia Denise, sem previsão de data. Segundo ela, a ideia é que o canal aberto funcione de forma permanente e apenas com programação educacional. “Não queremos nada do tipo aula on-line, em que a criança tem que ficar na TV em situação artificializada.”

A Portaria 4.212 regulamenta o Regime Extraordinário de Atividades dos professores e coordenadores pedagógicos que atuam nas escolas da rede municipal, no período de suspensão das aulas presenciais, e foi publicada no Atos do Governo de terça-feira (11). Até 15 de agosto, os docentes tiveram que elaborar práticas e atividades pedagógicas para estas chegarem às crianças e adolescentes a partir de segunda. “É uma reunião de estratégias para termos a maior efetividade possível dentro do escopo da pandemia e da diversidade. Cada comunidade tem uma característica, e isso deve ser sempre respeitado”, observa a secretária.
A portaria considera que “a longa suspensão das atividades educacionais regulares pode ter como consequência um retrocesso do processo de ensino e aprendizagem dos alunos” e que “o período sem aulas pode acarretar severos danos estruturais e sociais para estudantes e famílias, além do aumento da evasão e da repetência”. Dessa forma, “a oferta de atividades alternativas para as crianças evita a perda do contato destas e de suas famílias com a escola, de forma a minimizar a possibilidade de retrocessos no seu desenvolvimento”. Como o Conselho Nacional de Educação (CNE) autorizou os sistemas de ensino a computar atividades não presenciais para cumprimento de carga horária, a PJF optou pela medida a fim de minimizar os danos ao calendário escolar.

Plataforma digital

Os trabalhos desenvolvidos pelos docentes dentro da nova realidade virtual têm como base a plataforma digital Moodle. Segundo a secretária de Educação, os servidores temporários, que tiveram os contratos mantidos durante as férias de julho, iniciaram o desafio. “Alguns cursos já eram feitos nessa plataforma, mas poucos. Agora reunimos a aprendizagem, o uso e domínio da tecnologia por esses professores. Eles construíram práticas, antecipando esse retorno, e fizemos uma live no YouTube com todos os 2.600. Agora as escolas vão trabalhar com a plataforma, com potencial de desenvolvermos, gradativamente, essa tecnologia a favor do ensino e da aprendizagem”, vislumbra a dirigente da pasta, acrescentando que a Moodle será usada apenas pelos docentes para o planejamento do atendimento aos estudantes. “O acesso aos alunos será pelo WhatsApp, Facebook e via presencial, na entrega esporádica de atividades, e pela possibilidade de programas educacionais na TV aberta”, reforça.

‘Não podemos ficar de braços cruzados e não planejar’

Segundo a secretária Denise Franco, pasta ainda estuda como cumprir o ano letivo; há possibilidade de agregar 2020 e 2021 (Foto: Fernando Priamo)

A secretária de Educação da PJF, Denise Vieira Franco, pondera que, mesmo sendo considerado distante o retorno das aulas presenciais, é responsabilidade de professores e diretores pensar em como isso vai ocorrer. “Não quer dizer que vamos voltar amanhã, daqui um mês ou este ano. Mesmo que tenha o aval dos órgãos sanitários, fazer 101 escolas voltarem, com 41 mil alunos e quase seis mil profissionais, não é de um dia para o outro. A curto prazo, não temos resposta definitiva, mas não podemos ficar de braços cruzados e não planejar.”
Sobre o cumprimento do ano letivo, segundo a gestora, o Conselho Nacional de Educação (CNE) sugere possibilidades de reorganização, como agregar 2020 e 2021 no próximo ano, aumentando a carga horária e os dias letivos. “Estamos analisando as circunstâncias para ver o que será melhor e apresentar ao Conselho Municipal.”

Mesmo sem o corpo a corpo, Denise avalia que a comunidade escolar já deu demonstrações de que vale investir em atividades remotas. “Depois das férias de julho, as escolas entraram em contato com as famílias para essa ação mais direta e intencional na perspectiva de aprendizagem, para saber qual a melhor forma de acessá-las.” Segundo ela, os professores que não tiverem internet disponível em casa vão poder trabalhar nas instituições de ensino, de maneira organizada conforme os protocolos sanitários.

A chefe da pasta de Educação considera que a pandemia não causa prejuízos apenas em termos de aprendizagem. “O psicológico das pessoas foi e está sendo impactado pela tristeza, medo e insegurança. Mas temos que ser positivos com a educação, buscar acolher para que consigam vencer suas próprias dificuldades. Prejuízo vai ter para todos, mas também esperamos ganhos do ponto de vista de olhar mais para o outro, de aprender a conviver e a ter tolerância. São aprendizados em tempos difíceis.”

Denise assegura que, quando tudo isso passar, professores, coordenadores e diretores estarão de braços abertos para as famílias. “Vamos lidar com crianças e adolescentes que perderam entes queridos. O voltar tem que ser, primeiramente, amoroso, para conseguirmos vencer a tristeza do momento. A única certeza que temos é que, por enquanto, não temos perspectiva de retorno. Mas temos que fazer nossa parte e planejar vários cenários. Sempre quem vai nos ajudar é a Saúde, porque estamos lidando com a vida de professores, alunos e funcionários. Como isso vai se adequar, é um processo longo de estudo, porque são as escolas que conhecem a fundo seu cotidiano e espaço escolar. Não dá para antecipar como vai ser. Vamos pensar em conjunto, aprendendo sempre com a experiência de outros estados e países, porque não vivemos em uma ilha.”

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Sinpro afirma permanecer vigilante

A coordenadora do Sindicato dos Professores de Juiz de Fora (Sinpro-JF), Maria Lúcia Lacerda, assevera que a entidade permanece vigilante para garantir que os profissionais tenham seus direitos assegurados, além das condições, inclusive sanitárias, para a realização do teletrabalho na rede municipal, dentro do contexto excepcional imposto pela pandemia. “O sindicato foi chamado pela Prefeitura no meio do ano para o anúncio da suspensão dos contratos, no mês de julho, de quase três mil educadores, metade do quadro do magistério. Felizmente, o sindicato conseguiu reverter a decisão, com a pressão dos trabalhadores e a articulação de iniciativas na Câmara. Agora, vamos acompanhar o desenvolvimento pelas escolas das atividades por teletrabalho, conforme orientado pela portaria da Secretaria de Educação.”

Maria Lúcia considera acertada a decisão de suspender as aulas presenciais para conter a disseminação do coronavírus. “O foco da preocupação de qualquer Administração deve ser a preservação da saúde e da vida de professores, funcionários, alunos e famílias. Qualquer pressão para o retorno às aulas presenciais, neste momento, é uma grande irresponsabilidade.”

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