Atirador erra mira e mata criança de 2 anos em Juiz de Fora

Menino estava no colo da mãe, que ficou ferida no antebraço; os dois estavam na mesma calçada que um jovem de 24 anos, que seria o alvo dos atiradores


Por Michele Meireles

14/05/2018 às 08h36- Atualizada 14/05/2018 às 20h32

Corpo de Davi foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML), onde os familiares aguardam a liberação, na manhã desta segunda-feira. (Foto: Leonardo Costa)

Um menino de 2 anos e dez meses de idade morreu após ser baleado no colo da mãe, 21, no fim da tarde de domingo (13), no Bairro Santa Cândida, Zona Leste de Juiz de Fora. De acordo com informações da Polícia Militar, o alvo dos tiros seria um jovem, 24, que estava na mesma calçada onde estava a mulher com o filho, na Rua Pedro Paulo Vieira. Atingida no antebraço, a mãe da criança disse aos policiais que o rapaz, durante a fuga, teria a empurrado em direção aos atiradores, colocando-a na linha de tiro. O menino Davi Lucas Clemente chegou a ser atendido em dois hospitais, mas o tiro no abdômen causou várias lesões internas, que foram fatais. O alvo dos tiros foi baleado no pé esquerdo. Um suspeito já está preso desde domingo. O crime, ocorrido por volta de 17h30 do Dia das Mães, chocou familiares e vizinhos.

Aos policiais militares, populares informaram que o jovem foi surpreendido por ocupantes de uma motocicleta. O carona, um rapaz de 21 anos, teria descido da moto e aberto fogo. O alvo dos disparos teria corrido e entrado em um imóvel da rua. Antes, porém, teria empurrado a mãe, que estava com o filho no colo, e a colocado na direção dos disparos.

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“O criminoso continuou a atirar mesmo endo uma inocente na linha de tiro”, destacou delegado Rodrigo Rolli (Foto: Leonardo Costa)

Quando os policiais chegaram ao bairro, todos os feridos já haviam sido socorridos. O menino recebeu o primeiro atendimento no Hospital João Felício, mas precisou ser transferido para o Hospital de Pronto Socorro (HPS), para onde foi levado escoltado por uma viatura da PM. A criança morreu ainda na noite de domingo. A mãe foi socorrida até o João Felício, mas recusou-se a permanecer na unidade e deixou o hospital no mesmo dia. Ela confirmou à PM que foi empurrada em direção aos autores pelo jovem. “Sem piedade e sem nenhuma responsabilidade, o criminoso continuou a atirar mesmo tendo uma inocente na linha de tiro”, destacou o delegado Rodrigo Rolli, que investiga o caso.

O alvo dos tiros foi levado para o HPS. Segundo o subcomandante da 4ª Companhia Independente de Policiamento Especializado, capitão Rodrigo Oliveira, ele ficou internado para cirurgia. Ainda na unidade médica, o homem informou aos policiais quem seria um dos atiradores. Os militares fizeram consulta ao sistema e chegaram ao endereço do rapaz de 21 anos, na Vila Olavo Costa, Zona Sudeste. Ele foi encontrado em via pública usando roupas semelhantes à que a vítima havia relatado.
O suspeito resistiu à abordagem e negou participação no crime. Conforme os policiais, em sua casa, foram encontrados dois rádios comunicadores, um capacete e uma jaqueta camuflada. Ele foi preso em flagrante. A perícia esteve no local do crime e recolheu cinco cartuchos deflagrados e um picotado. O segundo envolvido no crime ainda está solto.

Enterro

Na manhã desta segunda-feira, o corpo de Davi seguiu para o Instituto Médico Legal (IML), onde os familiares aguardaram. O enterro foi realizado às 15h, no Cemitério Municipal. Durante o velório, o clima de comoção era evidente entre parentes e amigos. Muito abalados, eles preferiram não falar com a imprensa.

Suspeito preso teria confirmado que matou a pessoa errada

A Polícia Civil abriu inquérito para investigar o caso. Conforme o titular da Delegacia de Homicídios, Rodrigo Rolli, ainda na segunda-feira (14), a equipe da Especializada foi ao local do fato para buscar elementos que ajudem a elucidar o crime. Além disso, foi ouvido, no HPS, o rapaz a quem os tiros eram endereçados. “Ele afirmou que a motivação para os disparos seria uma briga de baile funk, na cidade de Matias Barbosa, ocorrida há cerca de um ou dois meses”, destacou Rolli, acrescentado que o segundo suspeito de participar do crime já foi identificado. O delegado enfatizou que, em menos de 24 horas, a Polícia Civil conseguiu dar uma resposta para o caso. A equipe ainda vai refazer possíveis rotas de fuga da moto e tentar imagens de câmeras de monitoramento que, possivelmente, possam ter flagrado o veículo.

“Seguem apreendidos o capacete e uma jaqueta camuflada usada pelo suspeito no crime. Isso irá facilitar acharmos nas imagens a moto e consultar sua placa. Vamos checar, inclusive, radares, já que as fugas são em alta velocidade, o que pode ter sido flagrado por estes equipamentos”, pontuou Rolli, afirmando que também irá pedir os laudos médicos das vítimas que sobreviveram e o laudo de necropsia da criança.

Esta é a segunda criança atingida por disparo de arma de foto, só este ano, na Rua Pedro Paulo Vieira (Foto: Olavo Prazeres)

De acordo com o delegado, o suspeito preso já seria conhecido do meio policial. O rapaz não quis prestar depoimento à Polícia Civil, reservando-se no direito de só falar em juízo. Conforme consta no inquérito, porém, um policial militar que acompanhou a ocorrência informou que ouviu o suspeito dizer: “Matei a pessoa errada”. O homem teve o flagrante ratificado e foi encaminhado ao Ceresp.

Segunda criança vítima de tiros na mesma via

Este é o segundo episódio, só este ano, ocorrido na Rua Pedro Paulo Vieira, em que uma criança é atingida por disparo de arma de fogo. No dia 8 de janeiro, uma desavença entre dois jovens terminou com uma menina de 7 anos ferida. O crime ocorreu pouco depois das 13h. O alvo dos tiros seria um rapaz, 22, que também ficou ferido. Segundo informações da PM, ele estava passando pela via pública, quando foi avistado pelo suspeito, 20, que abriu fogo. O baleado tentou escapar, mas foi atingido por um tiro no glúteo. O atirador continuou os disparos e acabou ferindo a garota na perna esquerda.

Menina no colo da mãe escapa de tiros no Santa Efigênia

Outro assassinato no domingo (13) foi registrado no Bairro Santa Efigênia, Zona Sul de Juiz de Fora. Por pouco, segundo o Registro de Eventos de Defesa Social (Reds), uma criança não foi atingida. A menina de 3 anos estava no colo de sua mãe, 17, quando um homem disparou contra o namorado da adolescente. Márcio Gonçalves Rodrigues não resistiu aos ferimentos e morreu.

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O crime aconteceu por volta de 18h30, na Rua Antônio da Rocha Lima. A irmã de Márcio disse aos policiais que viu o suspeito se aproximar em uma bicicleta, sacar uma arma e disparar várias vezes. O atirador fugiu pela Rua Antônio da Rocha Lima, acessando depois a Rua Lino Pinto, ambas no Santa Efigênia.A PM foi acionada primeiro na UPA Norte, para onde o baleado foi levado por populares e morreu ainda no domingo. O tiro teria atingido a região da axila. O documento policial afirma que os militares seguiram depois para o local dos fatos, onde não foi encontrado qualquer vestígio de sangue ou cápsulas deflagradas. Uma testemunha disse que ouviu três estampidos e viu Márcio caído inconsciente. Ele não apresentava ferimentos aparentes.

Logo em seguida, a equipe policial foi em busca da adolescente que estaria namorando com o homem há menos de um mês. Ela confirmou as informações prestadas pela irmã da vítima e destacou ainda que os tiros “quase atingiram a criança que estava em seu colo”. Ninguém soube dizer quem é o atirador. Ainda não se sabe o que motivou o crime. O caso será apurado pela Polícia Civil.

Redução de casos

Dados da Polícia Militar apontam que, até 12 de maio deste ano, 26 homicídios foram registrados em Juiz de Fora frente aos 45 registrados no mesmo período de 2017, o que representa uma queda de 42%. Ainda conforme a PM, a taxa de resposta imediata a crimes violentos aumentou 70,2% no comparativo aos primeiros semestres de 2017 e 2018. Já segundo o banco de dados da Tribuna de Minas, que leva em conta também os falecimentos ocorridos posteriormente em hospitais como consequência dos crimes, assim como ocorrências de latrocínio e feminicídio, até 12 de maio deste ano, 36 casos de morte violenta foram computados. No ano passado, no mesmo período, o acumulado foi de 57. Numa comparação, houve redução de 36,8%.

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