Esquema de entrada de drogas na Ariosvaldo em frascos de remédios é desmontado

Quatro detentos estavam envolvidos, e a esposa de um deles foi presa na Operação Panaceia


Por Sandra Zanella

13/09/2017 às 13h00- Atualizada 13/09/2017 às 21h25

Foto: Polícia Civil/Divulgação

Um esquema de entrada de drogas na Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires dentro de frascos de medicamentos foi descoberto em operação conjunta, deflagrada nesta terça-feira e divulgada nesta quarta (13), pela Polícia Civil e Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap). Batizada de Panaceia, em referência a “remédio para todos os males”, a manobra resultou na apreensão de 3kg de maconha e na prisão por tráfico e associação de quatro detentos, com idades entre 23 e 30 anos, que já cumpriam pena no mesmo presídio do Linhares, além da captura da esposa de um deles, 30. Ela foi presa em seu trabalho como caixa de um supermercado no Bairro Jóquei Clube, na Zona Norte, horas depois de ter deixado na portaria da unidade prisional uma receita médica e três potes recheados com maconha.

Essa foi a segunda entrega de entorpecentes escamoteados da mesma forma realizada pela suspeita durante a investigação, iniciada há cerca de 15 dias. “Quando fizeram a vistoria nos remédios há duas semanas, encontraram a droga e, pelos registros, identificaram a mulher, assim como o preso que receberia a encomenda. A Seap procurou a Delegacia Antidrogas para que fosse realizada uma operação conjunta para prendê-los e para identificarmos outras pessoas envolvidas nesse esquema”, revelou o delegado Rogério Woyame. Desta vez, o alerta voltou a ser dado pela Seap à Polícia Civil após a segurança da Ariosvaldo identificar a fraude com a mesma pessoa. “A equipe de inteligência teve tempo de ser avisada, conferiu os materiais e detectou que novamente estavam entrando com drogas no presídio.”

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Outra mulher, 27, também casada com um dos detentos investigados, ainda é procurada pela polícia por fortes indícios de participação no tráfico. Ela seria a responsável por repassar as drogas, já dentro dos frascos de medicamentos, às visitantes cadastradas, que entregariam os produtos na penitenciária. Na casa dela, no Bairro São Sebastião, Zona Leste, os policiais encontraram cerca de 2kg de maconha em barras. “Inclusive já havia parte da droga embalada da maneira que é encontrada dentro do medicamento”, apontou o policial. Ainda será apurado se o emprego dela em um laboratório pode ter contribuído para a habilidade em montar os materiais, já que os potes de remédios, como antiácido estomacal, eram lacrados, diminuindo as chances de a manobra ser descoberta. O acesso dela às mercadorias também poderia ser um facilitador.

Já na residência da mulher presa, no Bairro Cidade do Sol, Zona Norte, foram apreendidas as mesmas embalagens de medicamentos vazias, levantando a suspeita de que ela também confeccionava. “Isso comprova que ela estava envolvida”, disse o delegado, acrescentando que os outros três detentos foram identificados no decorrer da investigação como receptores dos entorpecentes por meio do mesmo modus operandi.

Maconha era embalada em dedos de luvas cirúrgicas

Apesar da hipótese de a funcionária de um laboratório poder se valer de seus conhecimentos para embalar as drogas em frascos de medicamentos enviados à Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires, o delegado Rogério Woyame acredita que há facilidade em fazer a vedação desse tipo de material. “Infelizmente, conseguimos apurar que isso não é difícil. É possível comprar essas tampinhas em alguns supermercados e até na internet. Quando fecha, a tampa automaticamente lacra. Ou seja, o medicamento é aberto e o lacre violado, mas quando uma tampa nova é colocada, fica com a aparência de original.”

A maconha era acondicionada em dedos de luvas cirúrgicas, inseridos junto com um líquido dentro dos potes para não levantar suspeita ao serem sacudidos, já que supostamente se tratavam de remédios aquosos, a maioria para estômago. Cada um chegava a conter em torno de 12 buchas ou 120g de droga. Conforme Woyame, os 3kg de entorpecente apreendidos poderiam valer até R$ 300 mil, já que cada grama da droga costuma ser comercializada a R$ 100 dentro das unidades prisionais.

O esquema de esconder as drogas dentro de frascos de medicamento, burlando a fiscalização dos agentes penitenciários, chamou a atenção por ser muito elaborado. O delegado acredita que o desmantelamento da fraude deve causar repercussão em Minas, já que a estratégia pode ter sido disseminada para outras cadeias. “Certamente vai repercutir em todo o estado, porque todas as unidades serão alertadas desse fato.”

Bando se comunicava por celulares dentro e fora da unidade

Os integrantes do bando suspeito de levar drogas para a Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires dentro de frascos de remédio vão responder por tráfico e associação para o mesmo crime, com o agravante de a venda de entorpecentes ocorrer em um estabelecimento prisional. Na cela onde ficavam dois dos presos envolvidos ainda foram apreendidos dois celulares. “No momento da prisão identificamos que um dos detentos estava em contato, por meio de celular, com a suspeita do lado de fora. A Seap procedeu as buscas nas celas, encontrou dois telefones e mensagens que confirmam essas conversas”, contou o delegado Rogério Woyame.

Os outros dois presos pertencentes ao grupo ficavam em pavilhões diferentes, confirmando que havia uma comunicação entre o grupo, provavelmente por meio dos aparelhos telefônicos. Mais três celulares também foram recolhidos durante a operação, além de R$ 3.100 e cinco chips encontrados dentro de um dos 12 frascos com drogas. Alguns comprimidos entregues na Ariosvaldo junto com as receitas serão periciados.

Os homens que já estavam presos retornaram à Ariosvaldo, e a mulher também foi encaminhada para a ala feminina da mesma unidade. Demais membros da quadrilha já foram identificados, e as investigações para coibir a entrada de drogas no presídio continuam com o intuito de se chegar ao fornecedor dos entorpecentes. “Queremos saber quem era o traficante por trás disso tudo”, adiantou o delegado. “Estamos correndo atrás dos mandados de prisão para essas outras três pessoas que estavam inserindo as drogas no presídio, as duas visitantes e essa mulher que guardava maconha em casa”, completou. A polícia ainda vai apurar se as receitas deixadas junto com os remédios na portaria eram falsas. “Estamos investigando também quem seria o mandante deles, para identificar possível participação de algum servidor da Seap”, concluiu Woyame.

Seap

Em nota, a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) informou que “a operação foi resultado do trabalho interno dos setores de Segurança e da Assessoria de Informação e Inteligência da unidade prisional, que apuraram e identificaram o esquema ilícito, os presos e a visitante envolvidos”. Ainda conforme a assessoria da pasta, “a direção da Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires está adotando as medidas administrativas cabíveis para a continuidade das ações investigativas por parte da polícia judiciária”.

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