Estudantes intensificam campanha contra o preconceito racial


Por Juliana Netto

13/05/2015 às 13h42- Atualizada 13/05/2015 às 17h02

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Para Rafaela, mesmo que velado, estudantes negros da faculdade ainda convivem com criminalização no ambiente acadêmico (Foto: Olavo Prazeres/13-05-15)

Olhares curiosos, cochicho e discussão sobre as frases estampadas em cartazes fixados na parede. No dia em que é lembrada a Abolição da Escravatura, estudantes e servidores da UFJF acompanharam, nesta quarta-feira (13), mais uma atividade do movimento que denuncia casos reais de racismo no ambiente acadêmico. Promovida em âmbito nacional, a ação acontece também em cidades como Brasília e Salvador.

O ato aconteceu na entrada principal do Restaurante Universitário (RU) durante o almoço, com exposição de depoimentos divulgados ao longo da campanha e produção de novas fotos. Na saída, os alunos recebiam a programação de uma série de atividades que seguirá discutindo a questão racial nos próximos dias.

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Para a estudante do curso de direito Rafaela Moreira de Assis, 22 anos, mesmo com 127 anos de abolição, “é preciso avançar na discussão não só no papel. Fomos jogados para fora do desenvolvimento social. Ainda temos um debate bem controverso na faculdade de direito. Muitas vezes, sentimos um certo preconceito e uma certa criminalização do negro durante as discussões das matérias em sala de aula”.

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Mesmo não concordando com a hashtag “ahbrancodaumtempo”, o estudante de direito Bruno Ribeiro Uchoas, 18, também avalia positivamente a ação. “Estava acompanhando a mobilização somente pelas redes sociais, e até então não tinha presenciado nenhuma ação pessoalmente aqui na UFJF. Acho legítima a iniciativa, já que os negros são vítimas desde o século XVI”, afirma. “Acho que uma hashtag do tipo “racista dá um tempo” seria mais convidativa e fraterna ao discurso, deixando de polarizar a questão entre negros e brancos. Mesmo assim, acho que a comunidade acadêmica precisa fazer parte deste diálogo. É daqui que partem as soluções para o restante da sociedade”, frisa.

A organizadora Paula Duarte destaca que, mesmo sem a possibilidade de mensuração dos resultados, “houve uma identificação dos estudantes com a campanha. A visibilidade do assunto aumentou e dentro dos ônibus da faculdade, por exemplo, é grande o burburinho de quem vem discutindo a questão racional.” Ainda conforme ela, “mesmo sem conseguir quantificar a abrangência, o aumento no número de interessados em trabalhar na organização reflete a grande adesão. Antes, éramos apenas quatro pessoas em um grupo no Facebook. Agora já somos 41.”

O projeto teve início na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, por meio da página www.itooamharvard.com. Logo em seguida, estudantes da Universidade de Brasília (UnB) aderiram à causa e criaram uma campanha no país, que atingiu mais de dez mil visualizações e dois mil compartilhamentos. Na UFJF, as fotos estão sendo publicadas no tumblr ahbrancodaumtempoufjf. Somente no Facebook, a primeira postagem da Tribuna sobre o tema rendeu mais de 70 mil visualizações, mais de 1.300 curtidas e centenas de comentários. 

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