Aos 82 anos, morre o jornalista Ronaldo Dutra Pereira

Querido e respeitado pela imprensa local, Ronaldo participou do lançamento da Tribuna de Minas, em 1981, e deixa um legado de profissionalismo


Por Renato Salles

13/01/2022 às 21h19- Atualizada 14/01/2022 às 08h26

Ronaldo gabava-se por ser o primeiro funcionário da Tribuna de Minas (Foto: Olavo Prazeres/Arquivo TM)

O jornalismo de Juiz de Fora perdeu um de seus nomes mais relevantes e respeitados entre os profissionais da área. Morreu nesta quinta-feira (13), aos 82 anos, o jornalista Ronaldo Dutra Pereira, um dos profissionais que participaram da fundação da Tribuna de Minas em 1981. “Teoricamente, sou o primeiro funcionário da Tribuna”, disse o próprio Ronaldo, em 2021, em depoimento à série “Gente que fez a Tribuna” que comemorou os 40 anos do jornal. O velório será nesta sexta-feira, a partir das 8h, no Parque da Saudades. O enterro acontece às 14h. A reportagem ainda apura sobre a causa da morte do jornalista.

“O Ronaldo Dutra Pereira foi um colega de toda vida. Nós começamos juntos lá no Diário Mercantil, ainda nos meados de 1970. Saímos juntos para criar a Tribuna de Minas em 1981. Durante todo o tempo, ele trabalhou conosco tanto no Diário Mercantil, quanto na Tribuna da Tarde, quanto na Tribuna de Minas, nas editorias de Esporte, Internacional e Brasil. Era, assim, uma pessoa extremamente bem-humorada e atenta ao que estava acontecendo. Ronaldo virava noites e fazia do jornal sacerdócio. Era funcionário do INPS (antigo INSS), quando, já um pouco mais velho, fez Comunicação e ingressou nesse meio do qual nunca mais saiu. Mesmo depois de aposentado, ele continuava mantendo o contato conosco, aqui, na redação e com todos os amigos. Diariamente, fazia uma ligação para saber como as pessoas estavam e também para dar alguma informação. Confesso que estamos todos bem menores a partir dessa saída do Ronaldo da nossa cena do dia a dia. Que Deus o receba bem”, lamentou o editor geral da Tribuna, Paulo César Magella.

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Secretário de Comunicação Pública da Prefeitura de Juiz de Fora, o também jornalista Márcio Guerra foi outro que lamentou a partida do colega. “É um amigo muito querido, que me ensinou muito. Foi um jornalista com todas as letras maiúsculas, apaixonado pelo Flamengo, torcedor do Tupi. Apaixonado mesmo. Um cara com muito humor, também com muito ironia, ao mesmo tempo. Foi um vigilante da cidade, apaixonado por Juiz de Fora e, acima de tudo, um profissional de honestidade muito grande, com muita qualidade de texto, de apuração, de tudo. Um grande amigo, uma pessoa que continuava inquieta quando faltava informação, inquieto nas lutas pelos direitos das pessoas. Uma perda incomensurável para o jornalismo da cidade e para a cidade como um todo.”

Para o jornalista Wilson Cid, a trajetória de Ronaldo Dutra Pereira pelo jornalismo local é um dos maiores legados da comunicação da cidade. “O Ronaldo se destacou, sobretudo, por ser uma pessoa multifacetada profissionalmente. Se destacou no Esporte, mas cobriu várias outras editorias. Ficou, por exemplo, muito tempo trabalhando na Editoria Internacional. Ultimamente, ele gostava de acompanhar muito a política nacional. Dormia com rádio junto. Ligava para mim e outros amigos todos os dias para conversar sobre política e sobre os rumos do país. É uma figura muito interessante. O Ronaldo cultivou o jornalismo com amor e dedicação, uma coisa incrível. Assim, o Ronaldo entra para a história de Juiz de Fora por seu grande valor profissional”, considera Cid.

A sensação de perda foi geral na imprensa local. As diretoras da Tribuna, Suzana e Márcia Neves lamentaram a morte de Ronaldo. “Um funcionário exemplar que fez parte da equipe convidada por nosso pai para fundar o jornal. Será sempre lembrado.” Diretor de Edição do Grupo Tribuna de Comunicação, Marcos Neves, remonta todo o aprendizado e a contribuição de Ronaldo para os profissionais de imprensa da cidade. “O Ronaldo ensinou-me a corrigir Telex. Nessa época, o Brasil e o mundo chegavam em rolos de papel. As letras vinham do mesmo tamanho. Não havia pontuação. Fazia-se necessário marcar as maiúsculas, meter os pontos, meter as vírgulas… O Ronaldo ensinava a redação a gritar seu nome quando chegava, a misturar sonoras gargalhadas com café com leite. O Ronaldo me ensinou que eu iria aprender a dormir pouco. O Ronaldo agora se foi. Quem vai, meu Pai, ensinar-nos a viver sem ele aqui nesta existência”, questiona.

Colunista da Tribuna, César Romero disse ter recebido com enorme tristeza a notícia do falecimento “do amigo e ex-colega, muito competente, de redação no Diário Mercantil e Tribuna de Minas”. “Na manhã de quarta-feira conversamos pelo telefone, um hábito quase que diário. Era um grande papo que vai deixar saudade. De memória privilegiada, guardava nomes e datas de fatos esportivos e políticos, sempre recheados com seu toque de irreverência”, lembrou.

O jornalista Ivan Elias usou o futebol, umas das grandes paixões de Ronaldo Dutra, para lembrar e homenagear o colega. “Perguntaram ao craque Cristiano Ronaldo, estes dias, quem era o Ronaldo mais importante, se o próprio português, se o brasileiro artilheiro ou o brasileiro malabarista. Se nos perguntarem hoje, podemos afirmar que o grande craque, e com quem pude aprender um pouco numa redação que não volta mais, chamava-se Ronaldo Dutra Pereira. Irreverente, sacana, gozador, amigo, irrequieto e, ao mesmo tempo, paciente para nos orientar e advertir. Jornalista que não engolia desculpas esfarrapadas das fontes e que nos bastidores, de noites e madrugadas, transformava tudo em ótimas histórias e gargalhadas. Um exemplo rápido do seu olhar jornalístico? Tupi campeão e Ronaldo na cobertura. Um cartola da época, na comemoração, pega e levanta, sozinho, o troféu. Legenda do Ronaldo: “quantos gols ele marcou?””

Nota

Por meio de nota, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Juiz de Fora disse lamentar o falecimento de Ronaldo Dutra Pereira. “Ao mesmo tempo, o Sindicato agradece sua contribuição para o desenvolvimento do jornalismo da cidade e de muitos de nossos profissionais. Ronaldo deixa seu nome eternizado na imprensa de Juiz de Fora e região e sua trajetória é um legado a ser conhecido, respeitado e seguido por aqueles que querem fazer do zelo, da precisão e do cidadão com a informação seu ofício. Ronaldo, presente!”

Convívio familiar

A neta Lívia lembra que o avô Ronaldo era um esposo apaixonado. Nos amigos ocultos da família, independentemente de quem ele tirava, sempre havia um presente para a avó Selma. “O vô fazia tudo pela gente. Estava todo dia na escola. Ajudava a dirigir. Não brigava comigo nunca. Às vezes, fazia um monte de palhaçada. Me levava no jogo do Tupi. Ele acreditava muito na gente”, lembra. A filha Raquel também rememora o papel de pai carinhoso exercido pelo jornalista. “Ele se virava em mil assim pra fazer o que a gente queria. Se a gente precisasse de alguma coisa, ele dava um jeito de conseguir”, conta.

Também jornalista e parceira nas redações do Diário Mercantil e da Tribuna, a irmã de Ronaldo, Neusa Dutra Pereira falou à reportagem em nome dos irmãos e da família. “A gente lamenta. Vamos sofrer a ausência desse irmão, que além de ser o mais velho, era o nosso companheiro de todas as horas. Particularmente, ele era meu companheiro não só como irmão, mas como companheiro de profissão. A gente trabalhou junto como jornalista na Tribuna de Minas durante muitos anos. É lamentável que a gente perca, em um momento tão carente do Brasil, uma pessoa tão firme, honesta, boa e de bom coração.”

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Ronaldo Dutra Pereira deixa esposa, Selma Rinco; cinco filhos, Vinícius, Marcelo, Cláudio, Raquel e Bruno; e seis netos.

Clique aqui para ler o depoimento de Ronaldo Dutra Pereira à série “Gente que fez a Tribuna”, publicado em agosto de 2021. 

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