Família faz campanha para doação de medula óssea
A “família super-herói” terá que enfrentar mais um vilão. É que a leucemia de Paulo Sérgio, o Paulinho, retornou. O menino de 5 anos terá que realizar o transplante de medula óssea para vencer de uma vez por todas essa guerra. Para aumentar suas chances de cura, familiares e amigos lançaram a campanha #JuntospeloPaulinho para incentivar as pessoas a doarem sangue e se cadastrarem no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). Uma página no Facebook foi criada, e o primeiro evento da campanha será uma caminhada na UFJF, no próximo domingo, que contará também com música e recolhimento de alimentos para a Fundação Ricardo Moysés Júnior.
O garoto foi diagnosticado com a doença em abril de 2013, com quase 3 anos. A família ficou conhecida após o pai de Paulinho, Octavio Sampaio, se vestir de super-herói para alegrar o filho. Em janeiro do ano passado, a doença havia sido eliminada, e o menino passava pela fase de manutenção. “De terça para quarta-feira (da última semana), ele passou mal. No dia seguinte, realizou um monte de exames. Choramos muito, pois a informação da possibilidade da doença é pior que o diagnóstico. Na quinta-feira, o diagnóstico foi confirmado”, conta a mãe de Paulinho, Paula de Carvalho. Nesta segunda-feira (11), o menino completou 5 anos e recebeu de presente uma festa com a presença de super-heróis, no Hospital Monte Sinai, onde está internado.
Segundo a mãe, após o início da campanha, 164 pessoas foram doar sangue em um só dia. “Foi o recorde do Hemominas em doações por pessoa. Com a campanha, também queremos acabar com os mitos sobre a doação de medula óssea. Tem gente que acha que doa na hora, outros que podem ficar sem os movimentos. E não tem nada disso. Eu tenho certeza que o Paulinho vai encontrar um doador. E, com a campanha, muitos outros paulinhos serão salvos.” A hematologista do Paulinho, Andrea Nicolato, conta que o garoto passa pela fase de preparação para o tratamento. “Depois, vamos realizar o exame de histocompatibilidade, o HLA, nos irmãos, para ver se eles são compatíveis. Se eles não forem, vamos cadastrá-lo no Redome.”
Para se cadastrar no Redome, o candidato deve ir ao Hemominas portando documento de identidade. “No Hemominas, é realizado o cadastro digital e retirado uma amostra de sangue de 5 ml. Essa amostra passará pelo exame de histocompatibilidade e ficará disponível no Redome”, explica a psicóloga do setor de Captação de Doadores de Sangue e Medula Óssea do Hemominas, Débora Carvalho. Os dados pessoais e os resultados dos testes são cruzados com dados dos pacientes que estão necessitando de um transplante. Em caso de compatibilidade com um paciente, o doador é então chamado para exames complementares e para realizar a doação.
“Na maioria das vezes, a retirada da medula é realizada por punção lombar (no osso da bacia). São retirados menos de 10% da quantidade de medula que a pessoa possui e, em duas semanas, essas medulas já estão recompostas. As pessoas ficam com medo de doar e depois algum parente precisar. Mas ela pode doar quantas vezes for compatível”, acrescenta Débora. Para se candidatar a doador, a pessoa precisa ter entre 18 e 54 anos e não ter tido nenhum câncer ou doença infecciosa.
No Brasil, até novembro do ano passado, havia cerca de 3,5 milhões de doadores inscritos. No entanto, as chances de se encontrar um doador compatível é de uma em cem mil entre pessoas não aparentadas. Entre familiares, as chances de compatibilidade são de aproximadamente 25%.
Doadores
Na última quinta-feira, enquanto Paulinho recebia o diagnóstico indesejável, um outro paciente com leucemia recebia sua chance de cura. A farmacêutica Riany Diniz, 26 anos, estava doando a sua medula óssea em Belo Horizonte. “É muito gratificante. Quando eles me ligaram falando que eu era compatível com alguém, eu fiquei super feliz.” Ela conta que realizou mais de 40 exames antes do transplante para verificar suas condições de saúde. “O procedimento durou cerca de uma hora. Como eu estava anestesiada, não vi nada. No dia seguinte, eu já podia ir para a casa. A gente sente somente um leve desconforto, mas eu já estou bem. Meu nome continua no banco, caso seja compatível com outra pessoa, eu doarei de novo.” Ela ainda não sabe quem recebeu sua medula óssea. Somente foi informada de que o transplante ocorreria em São Paulo. “Mas, depois de um ano, o Redome marca um encontro entre doador e receptor, se os dois quiserem.” Ela conta que todas as despesas foram pagas pelo Redome.
Em Juiz de Fora, somente o Hospital Universitário (HU) realiza os transplantes alogênicos (quando a medula é retirada de um doador). No entanto, somente são realizados os transplantes com doador aparentado. “O primeiro transplante alogênico foi realizado em julho de 2012. Até o momento, foram feitos 11 transplantes alogênicos”, conta o hematologista e professor da UFJF, Abrahão Hallack.