Juiz-foranos lotam postos de vacinação durante sábado de campanha contra a febre amarela
Osmar Ferreira da Silva acordou cedo para estar às 7h na Unidade de Atenção Primária à Saúde (Uaps) do Bairro São Pedro, na Cidade Alta. Morador do Caiçaras, o auxiliar de serviços gerais de 45 anos já estava imunizado contra a febre amarela, mas levava a filha de apenas 4 anos para vacinar. “Lá em casa todo mundo já foi vacinado, menos ela”, contou o homem, na fila, do lado de fora do posto, na manhã desse sábado (11), quando aconteceu o primeiro mutirão de imunização contra a doença, nas 63 Uaps da cidade, além do PAM-Marechal e dos Departamentos de Saúde da Criança e do Idoso. Sob um sol com sensação térmica de 27 graus, Osmar se mantinha na fila, ainda do lado de fora, às 10h, carregando a menina num carrinho de bebê a fim de protegê-la do sol. Mais à frente na fila, a corretora Rosane Melo, 46, precisou acordar às 5h30 para chegar ao posto às 6h20, sendo atendida mais de três horas depois.
Com uma fila formada do lado de fora, para o preenchimento do cartão, e outra dentro da unidade, para a aplicação da vacina, o cenário do posto no bairro onde foi encontrado o macaco infectado por febre amarela era de desorganização. Às 9h30 foi dada a ordem, pela responsável pelo posto, de que o preenchimento de uma ficha de inscrição fosse cancelado, mantendo apenas o preenchimento dos cartões de vacina, o que conferiu maior celeridade ao processo. Uma funcionária que preferiu não se identificar justificou o fato apontando para a reduzida equipe da unidade, que mesmo contando com o auxílio de voluntários, não deu conta de responder à superlativa demanda. Segundo ela, prova da baixa expectativa, também, eram as 1.800 vacinas que o local recebeu, insuficiente para a totalidade dos cidadãos que formavam uma fila que subiu morro acima, volteando o quarteirão.
No PAM-Marechal, onde a fila se estendia pela Rua Marechal Deodoro, adentrando a Rua Batista de Oliveira até chegar ao Calçadão, a demanda também se mostrou bastante alta, sendo necessária a distribuição de senhas para que o horário de atendimento não ultrapassasse as 13h. A secretária do lar Maria Helena de Castro, 47, precisou chegar às 7h30 para ser vacinada às 10h30. Nesse horário, a estudante Marina Marques, 24, carregava consigo a senha de número 100, a última da fila. Moradora do Bairro Vale do Ipê, a jovem estava acompanhada da mãe, a técnica em contabilidade Jucimeire Marques, 57, que alegava não conseguir encaixar seu horário ao dos postos de vacinação e, por isso, escolheu o sábado para se imunizar. “É constrangedor ver as pessoas voltando. Tinham que ter explicado que haveriam senhas. Muita gente está voltando”, levantava a mulher, bem à frente de um funcionário da unidade que permaneceu avisando aos que chegavam que a fila já estava concluída e só seria possível se vacinar a partir de segunda-feira.
Sem fila preferencial no PAM-Marechal, idosos foram encaminhados ao Departamento de Saúde do Idoso (Rua Batista de Oliveira, 943), com a orientação de só vacinarem aqueles que portassem prescrição médica. Já as crianças foram encaminhadas ao Departamento de Saúde da Criança (Rua São Sebastião, 776), que encerrou o atendimento antes do meio-dia, como na Uaps do Bairro Jardim Natal, na Zona Norte, cuja distribuição de senhas foi realizada após a fila se formar, dispensando aqueles que não foram contemplados com o papel. Às 12h55 o portão da unidade foi fechado, desconsiderando as dezenas de pessoas que ainda estavam em fila. Douglas Felizardo da Rocha, 37 anos, chegou às 11h40 e portava a penúltima senha para atendimento. “Pedi informação para saber até onde iria a fila, quem seria atendido, mas foi negado. Pedi para fazerem uma triagem para agilizar, mas eles alegaram que não havia contingente”, lamentou o homem.
Usuários relatam bom atendimento em algumas unidades
A Tribuna também acompanhou a vacinação na Uaps Centro Sul, uma das unidades mais procuradas pelos juiz-foranos. Localizada no Bairro São Mateus, a Uaps já foi alvo de reclamações por parte da população. Nesse sábado, no entanto, apesar da demora de cerca de uma hora e meia na fila, a vacinação começou tranquila e os usuários relataram bom atendimento.
Bruno da Silva Santos, morador do Bairro Santa Efigênia, foi um dos primeiros a se vacinar na unidade. Ele chegou na Uaps às 6h e era o 11º na fila. “Logo que a unidade abriu, já fui atendido. Sempre passo por aqui e vejo filas, por isso cheguei mais cedo. Mas o atendimento foi rápido e consegui me vacinar”, relatou à Tribuna. Por volta das 8h20, quando a unidade deu início à vacinação, centenas de usuários já estavam no local. A fila saía da unidade, passando por um posto de combustíveis localizado na esquina da Avenida Rio Branco, chegando até a Rua Doutor Romualdo.
Milton Fernantes Pinho, morador do Bom Pastor, foi se vacinar acompanhado da família. Ele chegou por volta das 8h30, quando a unidade já estava aberta, e foi atendido às 10h. “Já imaginávamos que teria muitas pessoas nessa unidade. Cheguei a ir à Uaps de Santa Luzia, mas a fila estava muito grande e resolvi mudar o local. Escolhi o sábado porque durante a semana seria impossível aguardar esse tempo todo, mas a campanha foi boa para ampliar a vacinação e facilitar para os usuários”.
Simone Fernandes, moradora do Bairro Recanto da Mata, também relatou tranquilidade para se vacinar na Uaps do Bairro Cidade do Sol. Ela aguardou cerca de 15 minutos. “Fui cedo para evitar fila. Foi tudo muito tranquilo e rápido. Não tive nenhum problema”, contou.
Secretária de Saúde afirma que ‘não há motivo para correria’
Procurada pela Tribuna para esclarecer questionamentos de usuários que não conseguiram se vacinar, a secretária de Saúde Elizabeth Jucá informou que a Secretaria de Saúde está elaborando um balanço para verificar o que aconteceu em cada unidade. Ela reconheceu que pode ter havido falhas no esquema de vacinação, mas destacou que a orientação era de que os usuários que não fossem vacinados recebessem uma senha relativa a um agendamento para a vacinação na próxima semana.
“Pode haver falhas em uma organização com mais de 800 pessoas. Trabalhamos nesse sábado com 800 profissionais da Secretaria de Saúde e mais alguns voluntários, mas estamos apurando para verificar o que aconteceu em cada uma das 63 Uaps. Nosso horário era de 8h às 13h, por uma recomendação, inclusive, do Ministério do Trabalho, com relação ao horário de trabalho dos profissionais. Tínhamos vacinas e estrutura, mas a procura foi muito grande. Por isso, distribuímos a senha para atender todo mundo e agendar o atendimento para aqueles que não foram vacinados”, explicou.
Questionada sobre o funcionário que teria encerrado o atendimento no PAM-Marechal por volta das 10h30, a secretaria afirmou que tratava-se de um voluntário que, na tentativa de ajudar, acabou não seguindo as orientações da Secretaria. Já sobre a quantidade de vacinas disponíveis na Uaps do Bairro São Pedro, Elizabeth informou que 700 doses foram aplicadas nesse sábado. “Reabastecemos os postos de saúde diariamente. Por isso, não há um grande estoque de doses nas unidades. Nesse sábado, a quantidade de doses enviadas para a Uaps do São Pedro foi maior, mas a informação dada pela funcionária da unidade não procede”. Ainda conforme Elizabeth, a meta de vacinar 20 mil pessoas foi superada.
Ela aproveitou para destacar que o esquema de vacinação continua normalmente na próxima semana, das 8h às 10h45 e das 13h às 16h45. “Realizamos esse dia especial de vacinação para atender toda a população. Não há motivo para correria, e as pessoas que não conseguiram se vacinar nesse sábado podem ser imunizadas com calma na próxima semana”.