Educador físico transforma sua dor em solidariedade

Após perder companheira, Paul Almeida decide criar projeto para acolher pessoas que passam por transtornos emocionais


Por Fabiane Almeida, estagiária sob supervisão da editora Regina Campos

10/11/2019 às 07h00- Atualizada 22/11/2019 às 14h56

A vida é feita de escolhas, todos nós sabemos disso. A questão é descobrir quais são as escolhas certas. Na segunda reportagem da Série Solidariedade, vamos contar a história de um educador físico que escolheu transformar sua dor em amor e ajudar quem passa pela depressão, doença que ele conheceu de perto. Paul Almeida idealizou o “Projeto Sol – Abraçando a vida” pouco após perder a companheira que lutava contra a depressão. A proposta, que surgiu em um momento de muita tristeza, tem levado alegria para pessoas que enfrentam a doença ou sofrem de transtornos de ansiedade, solidão, estresse e ou problemas familiares e amorosos. “Queria acolher pessoas que passam ou não por transtornos emocionais e oferecer um local onde elas possam interagir, ouvir palestras, música e até dançar”, conta.

O projeto, que não tem fins lucrativos, começou em janeiro deste ano e acontece toda segunda-feira, às 19h30, no Ritz Hotel, que é parceiro da proposta. Ao longo de suas edições, cerca de 1.800 pessoas já passaram por lá, sendo uma média de 250 a 320 participantes atendidos a cada encontro. “Alguns vão para se prevenir, o que é tão importante quanto se curar. Outras pessoas vão para levar um familiar, amigo (a), namorado (a) ou esposo (a)”, diz o idealizador e coordenador. Ao lado de Paul, atuam outros 22 voluntários, além de palestrantes, professores de dança e músicos colaboradores que ajudam a compor a programação.

PUBLICIDADE
“A perda que sofri me fez desejar fazer algo para ajudar outras pessoas. Isso ajudou a me reerguer”, garante Paul Almeida, idealizador do Projeto Sol (Foto: Olavo Prazeres)

Cada evento é pensado cuidadosamente. Os voluntários estudam as causas e consequências de doenças emocionais e tentam encontrar maneiras para superá-las. Assim, o lazer se mostrou um elemento-chave no processo de melhora do paciente. Outras questões, no entanto, são relevantes para a prevenção e cura. “Cada semana tratamos de um tema diferente como, por exemplo, nutrição. Se a pessoa com depressão tem uma dieta regrada, isso pode ajudá-la a superar a doença. Tratamos também de educação financeira. Quem se endivida, geralmente, começa a ter problemas com a família e pode entrar em depressão. Já trouxemos um convidado para falar sobre comunicação, porque quanto mais você conversa, e tem pessoas para te ouvir, mais você consegue sair da ansiedade e da depressão, mesmo que seja uma conversa do dia-a-dia. Cães e gatos também podem ser companheiros e afastar a solidão. Há ainda palestras sobre cuidado com as plantas. São detalhes mínimos que podem ajudar muito”, diz Paul.

Mas para ajudar o outro, o voluntário precisa ter uma preocupação importante: o autocuidado. “É importante que o voluntário esteja bem psicologicamente e fisicamente para acolher muito bem quem chega para conhecer o projeto”, explica o idealizador.

Escolha certa

Desde que iniciou o projeto, Paul Almeida teve a certeza de que fez a escolha certa ao transformar a dor em trabalho. A tristeza que sentiu ao se despedir da companheira foi, aos poucos, sendo substituída pela alegria em ver a superação de tantas pessoas que encontram no Projeto Sol a força que precisavam para lutar contra as doenças emocionais. “Podemos notar a mudança de comportamento dos participantes, melhora de suas feições e disposição para se comunicar. Muitos afirmam se sentirem melhores só de frequentar nosso encontro”, comemora o coordenador.

Paul ressalta que é preciso estar sempre atento aos sintomas da depressão, considerada a doença do século. Para ele, a tecnologia tem afastado muito as pessoas de um contato mais humanizado. Além disso, a crise financeira por qual passa o país tem contribuído para o agravamento do quadro. O educador físico defende uma maior aproximação das pessoas e uma sociedade mais solidária. “Depois do que aconteceu comigo, em fevereiro de 2018, fiquei muito baqueado. A perda que sofri me fez desejar fazer algo para ajudar outras pessoas. Isso, consequentemente, ajudou a me reerguer. É muito bom ver as pessoas que chegam chorando e saem sorrindo. Pessoas que não conheciam ninguém e já chamam os voluntários pelo nome, além dos casais que se formaram aqui.”

Quem quiser doar e receber amor, pode entrar em contato com o Projeto Sol através do Facebook Projeto SOL Juiz de Fora ou Instagram @ projetosoljf

LEIA MAIS: 

O conteúdo continua após o anúncio

 

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.