Aluno da Delfim Moreira é esfaqueado na porta da escola
Atualizada às 16h16
Um adolescente de 14 anos foi esfaqueado na porta da Escola Estadual Delfim Moreira (Grupo Central), na manhã desta sexta-feira (10), na esquina das ruas Santo Antônio e Fernando Lobo, no Centro de Juiz de Fora. Segundo informações da Polícia Militar, o jovem é aluno da instituição de ensino há três meses e estaria chegando para a aula, por volta das 7h, quando foi surpreendido pelo agressor e golpeado nas costas. A vítima sofreu três perfurações e foi socorrida pelo Samu, sendo encaminhada para atendimento médico no HPS. Conforme a PM, o paciente sofreu cortes contusos, sendo medicado e liberado. A assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde confirmou que ele foi avaliado e teve alta.
Quando a PM chegou ao local, a vítima estava ferida em frente ao colégio. O adolescente relatou que, ao se aproximar da escola, um rapaz que usava blusa de frio, boné e mochila o esfaqueou sem motivos aparentes. O jovem acrescentou que não possui inimigos e que acredita ter sido confundido com outra pessoa. Após a agressão, o criminoso fugiu em direção à Avenida Itamar Franco. Várias viaturas foram mobilizadas no rastreamento, mas nenhum suspeito foi encontrado. A ocorrência foi registrada como lesão corporal.
De acordo com uma funcionária da escola que não quis se identificar, antes de atacar o estudante, o criminoso teria questionado se ele conhecia uma pessoa. Diante da negativa, o rapaz desferiu facadas contra as costas dele. Ainda segundo ela, o aluno não tinha envolvimento com brigas internas ou externas e é considerado um “menino tranquilo”. A docente acrescentou que já fez à Polícia Militar pedidos de policiamento no local durante a entrada e saída dos estudantes.
A falta de estrutura da Delfim Moreira, que funciona em um prédio improvisado desde 2013, enquanto aguarda a reforma da sua sede original, na Avenida Rio Branco, e a violência no entorno da instituição já foram alvo de uma série de matérias da Tribuna.
Secretaria Educação
Em nota, a Secretaria de Estado de Educação afirmou já ter conhecimento do incidente ocorrido na porta da Escola Estadual Delfim Moreira, “quando um estudante da unidade foi agredido a facadas por um homem, no horário de entrada do turno da manhã”, e afirmou que as aulas não foram prejudicadas. Segundo a pasta, o agressor não é aluno da instituição de ensino. “O estudante foi socorrido imediatamente por funcionários e colegas que presenciaram o crime, ocorrido ainda fora da escola por volta de 6h40 da manhã”. Ainda de acordo com a assessoria, a direção do colégio entrou em contato com a mãe do aluno, que o acompanhou até o HPS. A escola também está monitorando junto à família o estado de saúde da vítima, mas nenhum órgão vital foi atingido. “O estudante recebeu o atendimento médico necessário e passa bem.”
A secretaria acrescentou o fato de a PM ter registrado boletim de ocorrência, sendo o crime investigado pelos órgãos competentes. Também conforme a pasta, a Superintendência Regional de Ensino de Juiz de Fora está acompanhando o caso, por meio da equipe de inspeção escolar. “Vale salientar que a SRE já está articulando uma reunião com diretores de escolas estaduais, representantes das polícias Militar e Civil, da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania e da Secretaria de Fóruns Regionais, para debater e definir estratégias conjuntas de prevenção a situações de insegurança nas proximidades de unidades escolares e violência contra o patrimônio nas escolas estaduais de Juiz de Fora”, finalizou a secretaria em nota.
Rixa de bairros chega aos arredores da escola
Funcionários do Grupo Central afirmam que não há casos de violência no interior da instituição. “No turno da manhã, que foi quando ocorreu a agressão ao nosso aluno, temos apenas estudantes realmente interessados em estudar, focados no vestibular. Acreditamos que o aluno agredido foi confundido, o que poderia ocorrer com qualquer um de nós”, disse uma funcionária. “Os casos de briga fora do colégio acontecem quando grupos de jovens que não são alunos vêm até aqui para brigar. Acreditamos que possa ser motivações de rixas entre bairros”, relata outra funcionária. Para elas, seria importante ter um policiamento nos horários de saída do colégio para evitar estas situações.
Vizinhos da sede provisória da escola contam que mudaram a rotina por conta da violência nos arredores da instituição. “A minha janela vive fechada, pois eu tenho medo de, numa dessas brigas, alguém estar armado. As confusões acontecem dia sim, dia não. Os alunos saem da aula e ficam muito tempo na porta do colégio, por vezes, já há grupos de outros jovens que não são da escola esperando só para brigar”, relatou uma moradora que preferiu não se identificar.
Um morador da Rua Fernando Lobo diz que passou a dar voltas no entorno do colégio antes de entrar em casa de carro. “Também passei a buscar a minha filha na Avenida Rio Branco, quando ela volta da faculdade à noite”, relata. As alterações na rotina aconteceram por conta dos recorrentes casos de violência e uso de drogas nas redondezas. “A gente não sabe quem é, mas isso vem ocorrendo desde que a escola veio para cá. A rua se tornou um transtorno, pois a escadaria que dá acesso à Praça do Cruzeiro agora é ponto onde jovens fumam maconha e cheiram cocaína. Já me deparei com situações absurdas, como ver um garoto mostrando uma arma para o outro, e chegar em casa e encontrar um casal de adolescentes fazendo sexo na porta da minha garagem. Precisamos de policiamento urgente.”
Segundo ele, os moradores acabam por se calar diante da falta de solução. “Nós vamos convivendo com a situação porque não há respostas, não há policiamento. A gente é obrigado a ver as nossas casas pichadas, desviar dos usuários de drogas e conviver com esse medo da violência.” Um outro vizinho, morador da Rua Santo Antônio, relata os mesmos problemas. “Já vi jovens fumando maconha na porta do colégio, de manhã e à noite. As brigas na rua acontecem com frequência. No ano passado, entrei no meio de duas confusões para separar os adolescentes, pois não consigo ver uma situação dessas e não fazer nada.”
Outra moradora destaca que a área residencial não tem estrutura para receber um colégio do porte do Delfim Moreira. “A localização não é adequada para receber o barulho e a movimentação de escola. Sabemos que os estudantes estão numa sede provisória completamente sem infraestrutura, é uma situação muito complicada. O Governo do estado deveria olhar com mais atenção. A falta de policiamento coloca em risco os estudantes, os professores e os moradores.”
Sem previsão
Conforme mostrado por reportagem da Tribuna publicada no dia 24 de fevereiro, o Grupo Central aguarda há mais de três anos pela reforma de sua sede, o Palacete Santa Mafalda, que é tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal. A realocação ocorreu após acidentes dentro da instituição. Desde a mudança para a sede provisória, nenhuma obra foi iniciada, e o imóvel apresenta agravos no processo de deterioração externa. O projeto de reforma segue em avaliação do Conselho Municipal de Preservação de Patrimônio Cultural (Comppac) com caráter de urgência.