Moradores e comerciantes do Bairro Industrial temem novas inundações

Alagamentos recorrentes fazem com que moradores e comerciantes fiquem em alerta, com receio de prejuízos


Por Nayara Zanetti, sob supervisão da editora Fabíola Costa

10/01/2023 às 18h59

Tribuna esteve no bairro na manhã desta terça-feira e ouviu moradores e comerciantes (Foto: Pedro Moysés)

Juiz de Fora teve mais uma noite de chuvas volumosas. De acordo com o pluviômetro do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), instalado no Bairro Ponte Preta, o acumulado de precipitações entre a manhã de segunda e a manhã de terça, no período de 24 horas, foi de 85,55 milímetros. Este índice representa quase 27% de todas as chuvas previstas para janeiro, ou 322,1 milímetros. O alto volume de chuvas tem causado estragos em diferentes regiões da cidade. Nesta madrugada, o Córrego Humaitá, no Bairro Industrial, Zona Norte, transbordou e alagou a Avenida Lúcio Bittencourt. A água chegou em ruas próximas da avenida. Moradores temem, mais uma vez, risco de inundação.

Os pais de Célia Keller moram há 43 anos no Bairro Industrial, na rua do córrego. Ela conta que, no ano passado, a água entrou na residência deles no início de janeiro. “Prejuízo material nunca tivemos, mas o emocional acaba sendo muito afetado. Meu pai está com 90 anos e minha mãe 83, então, para eles, a situação é muito difícil. Ontem (segunda-feira) eram 21h quando subimos os móveis. A chuva estava muito intensa e nós decidimos subir para não haver danos”, comenta Célia. Ela acrescenta que essa ação já passou a ser rotineira no período chuvoso.

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A representante da Associação de Moradores do Bairro Industrial, Fernanda Assis, também se preocupa com o psicológico dos moradores. “As pessoas não dormiram essa noite porque ficaram preocupadas com o que poderia acontecer, isso desencadeia ansiedade, pânico, depressão. Muitas pessoas são afetadas por isso, principalmente os idosos. É pior para a saúde mental deles.” Fernanda disse que, nesta segunda, foi para a rua ajudar os moradores a levantar os móveis. Segundo ela, todos estavam em alerta, observando o nível da água.

Como moradora, Fernanda conta que já perdeu muitos móveis e outros itens várias vezes com as enchentes. “Minha mãe mora na Rua Henrique Simões, onde é um dos primeiros pontos de alagamentos, e eu e minha filha já chegamos a sair de lá no bote do Corpo de Bombeiros.” Segundo ela, se não fossem as ações de desassoreamento do Rio Paraibuna e a limpeza do córrego, as casas já estariam inundadas há dias. Até o momento, a associação não recebeu nenhuma informação de moradores que, este ano, sofreram perdas por conta das chuvas. “Com o alerta de muita chuva nos próximos dias, as pessoas estão preocupadas e em estado de alerta. Precisamos que algo seja feito de forma muito rápida, porque ninguém merece mais passar por isso.”

Descarte irregular

Segundo moradora, descarte irregular de lixo é comum no bairro (Foto: Pedro Moysés)

Na última segunda-feira (9), a representante presenciou o descarte irregular de lixo e entulhos nas extremidades do córrego. Segundo Fernanda, é comum os moradores depositarem lixos e até móveis em locais inapropriados. Nesta terça, a reportagem flagrou lixo espalhado pelas ruas e até no Rio Paraibuna, que também corta o bairro. No dia anterior, Fernanda acionou as autoridades e uma equipe de limpeza da Prefeitura foi até o local. Logo em seguida, começou a chover e o córrego transbordou. “Se não tivessem retirado esses entulhos estariam boiando agora.”

Os moradores entrevistados pela reportagem notaram uma melhora no cenário, após a realização de ações preventivas, como o desassoreamento do Paraibuna e a limpeza do córrego. No entanto, a população cobra a mureta de proteção que separava o córrego da via pública, que caiu há mais de um ano e não foi restaurada. Além disso, de acordo com comerciantes locais, já foi solicitada, aos órgãos públicos, a reparação de um bueiro entupido na Rua Moura Valente, que tem contribuído para as enchentes. Mas, até o momento, não obtiveram retorno.

Moradores contabilizam prejuízos anteriores

Córrego Humaitá, que corta o bairro, transbordou na noite de segunda-feira (Foto: Pedro Moysés)

Desde 1998, Rogério Brandão, proprietário de comércio na região, já presenciou cerca de 15 alagamentos. O empresário trabalha com equipamentos de alto custo, que, com os danos, geram prejuízos difíceis de recuperar. “Já perdi peça, computador e caminhonete com os alagamentos. Com isso, a gente deixa de atender o cliente, porque fica, no mínimo, quatro dias sem a loja funcionar e mais três para limpar o local”, conta. Além dos danos materiais, Rogério já chegou a ficar dois dias sem poder sair do estabelecimento em 2020. “Alagou tão rápido que não deu tempo de sair.”

Geraldo Toledo é proprietário de um mercado, localizado em frente ao córrego, há 40 anos. Ele conta que já perdeu mais de R$ 6 mil em mercadorias. Quando a reportagem chegou no local, nesta manhã, algumas mercadorias já tinham sido colocadas na parte mais alta das prateleiras, para evitar novos prejuízos. “As mercadorias já estão todas para cima porque, se molhar, já era. Eu gosto muito daqui. Se não fosse isso, eu já teria saído daqui.”

O frentista Ivan Roberto, que trabalha em um posto de gasolina localizado próximo ao córrego, comenta que, durante o período de chuvas, o movimento tende a diminuir por causa do transbordamento frequente do córrego. Em relação aos prejuízos ao estabelecimento, Ivan conta que aconteceu apenas uma vez, em 2010, quando duas bombas queimaram. “Todo ano é isso, entra prefeito e sai prefeito e ninguém faz nada. A gente espera que, com a promessa de novas obras, isso melhore.”

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Há 30 anos, Giovani Antônio Pinto mora na Avenida Lúcio Bittencourt, a mais afetada pelas inundações. A casa dele fica na esquina da avenida, em frente ao córrego, e, por muitos anos, sua família foi afetada pelos estragos causados pela chuva. “Nós já perdemos muita coisa”, relembra o morador. Foi quando ele decidiu elaborar um sistema para evitar que a água entrasse na sua casa. “Entra água no jardim, mas dentro de casa, não. Nós temos uma válvula de retenção na rede de esgoto e colocamos placas de ferro nos portões, até onde o nível da água atinge. Ajuda, porque não entra água, só que ficamos ilhados dentro de casa quando acontecem as inundações.” Sem as alternativas, sua família já teria perdido muitos bens, comenta.

PJF monitora os níveis do Córrego Humaitá e do Rio Paraibuna

Em nota enviada à Tribuna, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) disse que está monitorando os níveis do Córrego Humaitá e do Rio Paraibuna. “Equipes do Demlurb, da Empav e da Defesa Civil estão no local atuando na mitigação de danos pelo transbordamento das águas e na limpeza das margens do córrego e das vias”, diz a nota. Sobre as obras de macrodrenagem para o bairro, a informação é que foi apresentado à Câmara Municipal um pedido de financiamento para remodelar todo o sistema de drenagem no Bairro Industrial nesta segunda-feira.

Ainda segundo o Município, a Rua Moura Valente está entre as prioridades para a execução da limpeza de boca de lobo. Conforme a PJF, no bairro foi iniciado o processo para remodelar as margens de contenção do Córrego Humaitá na Avenida Lúcio Bittencourt, atendendo ao projeto de solução de alagamentos e inundações na região. “Como medidas de mitigação de danos, a Prefeitura realizou uma série de ações anteriormente, como o desassoreamento do Rio Paraibuna, a limpeza dos córregos, a limpeza de mais de 2.420 bocas de lobo em toda cidade e a instalação de lonas nas áreas de risco.”

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