Rio Paraibuna tem segunda maior cheia em 20 anos, segundo Defesa Civil

Nível do rio chegou a 3,98m na tarde desta segunda; em seis horas, choveu 10% do esperado para todo o mês


Por Mariana Floriano, sob supervisão da editora Juliana Netto (colaborou Marcos Araújo)

10/01/2022 às 15h33- Atualizada 10/01/2022 às 21h48

Córrego Humaitá, no Bairro Industrial, que estava cheio, novamente transbordou (Foto: Fernando Priamo)

Juiz de Fora registrou mais uma forte chuva na tarde desta segunda-feira (10), trazendo como consequências novos alagamentos em vários pontos da cidade. O rio chegou a subir 63 centímentros em quatro horas. Por volta das 17h desta segunda, o nível era de 3,98 metros, apenas 37 centímetros abaixo do limite suportado pelas pontes do município, que é de 4,35 metros. De acordo com a Defesa Civil, esta já é a segunda maior cheia do Paraibuna nos últimos 20 anos, cujo nível normal é de 1,40m.

Até por volta das 18h, a situação mais grave era na Zona Norte, onde o Rio Paraibuna transbordou nas imediações do Acesso Norte, no Bairro Industrial, onde o Córrego Humaitá também já tinha saído da calha. Os alagamentos são frequentes no bairro, mas a situação vem piorando por conta da falta de drenagem, conforme relatou Biá Galvão, morador do bairro há 50 anos, à Tribuna. “O rio hoje é muito raso, muito estreito. É preciso que se realize a dragagem, porque esse alagamento está prejudicando muito os moradores do bairro. Para mim e para muitos moradores, a única solução é essa”, afirmou.

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Fernanda Alves, que mora no bairro há 13 anos e faz parte da associação de moradores, afirmou que a apreensão em épocas de chuva é constante. “Mesmo que a água diminua, a gente sabe que daqui a pouco volta.” Ela disse ainda que falta um monitoramento de prevenção. “Minha preocupação não é apenas que a água entre na casa, mas que seja feita uma fiscalização para monitorar as condições da estrutura do prédio”, lamentou.

Com isso, os ônibus, segundo a Secretaria de Mobilidade Urbana (SMU), passaram a ser desviados para a Avenida JK, que também apresentou pontos de alagamentos durante a pancada mais forte, mas teve a situação controlada posteriormente.

Outras regiões

Além do Córrego Humaitá, o Córrego São Pedro, que corta os bairros do Vale do Ipê e Democrata, também transbordou. A água ultrapassou o limite da ponte na Rua Benjamim Guimarães, no trecho de ligação com o Bairro Democrata.

Vias do Democrata também foram tomadas pela água (Foto: Fernando Priamo)

Já em Santa Terezinha, a ponte de ferro vermelha (Domingos Alves Ferreira) precisou ser temporariamente bloqueada para o tráfego de veículos devido ao grande volume de água.

Volume de água na cachoeira do Vale do Ipê pode ser avistado de longe (Foto: Fernando Priamo)

Outros pontos de alagamento também foram registrados, como na Avenida Barão do Rio Branco, no Centro. No local, as chuvas também acarretaram o deslizamento de um barranco em cima de um ponto de ônibus. De acordo com a Secretaria de Mobilidade Urbana (SMU), o ponto foi desativado, e a via ficou interditada em meia pista. Houve registros de alagamentos também nas ruas São Mateus e Ibitiguaia, nos bairros São Mateus e Santa Luzia, e na Rua Santo Antônio, no Centro.

Defesa Civil atende cem ocorrências

Até as 19h30 desta segunda-feira, a Defesa Civil atendeu cem ocorrências por conta das chuvas em Juiz de Fora. A cidade já soma 27 pessoas desalojadas, não há desabrigados. Treze imóveis estão interditados e, no total, 77 foram vistoriados. No entanto, até a edição desta reportagem, a pasta não havia passado mais informações sobre os cem atendimentos.

Em nota enviada à Tribuna, o órgão destacou que é preciso ficar atento à possibilidade de alagamento, transbordamento de rios e córregos que cortam o município e de deslizamentos de terra. “A população deve ficar atenta para indícios de ameaça de deslizamentos, como trincas e fissuras nas moradias e trincas e movimentação de solo nos terrenos. Quem estiver em local seguro, deve permanecer até o fim da chuva intensa. Além disso, a Defesa Civil pede que as pessoas evitem transitar em áreas alagadas e próximas a córregos, canais e rios”, afirmou.

Os bombeiros registraram uma queda de muro na Rua José Batista de Oliveira, no Bairro Bom Pastor, Zona Sul. Por conta das chuvas, um muro caiu em uma área de garagem onde existia uma central de gás. Os militares se deslocaram para o local e verificaram que não havia vítimas. Com isso, sanaram o vazamento e interditaram parte da garagem devido ao risco de queda de outra parte do muro.

Cesama diz que não há risco de colapsos nas represas

Apesar de os alagamentos decorrentes dos córregos serem um problema crônico de Juiz de Fora, o transbordamento do Rio Paraibuna não acontece com frequência. Foi o que destacou a própria prefeita Margarida Salomão, em live transmitida nas redes sociais durante a tarde desta segunda-feira. O problema não ocorria desde março de 2020.

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Para além da cheia dos córregos e do rio, entretanto, há também preocupação com os níveis das represas, devido ao grande volume de chuva que tem atingido a cidade nas últimas semanas. À Tribuna, a Companhia de Saneamento Municipal (Cesama) afirmou que os níveis das barragens administradas pela companhia se encontram controlados e que não há risco de colapso.

Águas do Paraibuna e do Córrego Humaitá fecharam o Acesso Norte. (Foto: Fernando Priamo)

A barragem de João Penido, no entanto, tinha 96,5% da sua capacidade preenchida nesta segunda, nível considerado elevado. Porém, até o momento, segundo a Cesama, não sofreu extravasamento. Caso essa medida seja necessária, a água excedente deve ser despejada no Rio Paraibuna, o que pode elevar ainda mais o nível da água.

Já nas demais barragens, como a de Chapéu d´Uvas, o nível está a 3,7 metros abaixo do nível recomendado para a liberação de água. Quanto à barragem de São Pedro, este ano a Cesama diminuiu o seu nível ao máximo, que voltou a subir agora com as chuvas. Contudo, também não há necessidade de liberação de água pelo dispositivo extravasador, conforme a companhia.

Em seis horas, choveu 10% de todo o mês

Dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) apontam que, em seis horas, Juiz de Fora recebeu um total de 32,8 milímetros de chuva nesta segunda-feira. O volume representa 10% do previsto para todo mês de janeiro (322.1 milímetros). Os bairros onde o volume de chuva foi maior no período foram: Monte Castelo, com 43,66 milímetros; seguido por São Pedro, com 30,28 milímetros; além de Grama, com 30,02 milímetros.

Com aumento de 63 centímentros em quatro horas, águas do Paraibuna se aproximaram da ponte em Santa Terezinha (Foto: Fernando Priamo)

Para os próximos dias, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as condições meteorológicas continuam favoráveis ao tempo instável em decorrência da atuação de áreas de instabilidade atmosféricas que atuam sobre o Brasil Central. Há condições de chuva moderada a forte que podem vir acompanhadas de descargas elétricas, em diversas regiões de Minas Gerais, incluindo a Zona da Mata.

A Defesa Civil da Prefeitura emitiu, nesta segunda, alerta para possíveis tempestades na cidade, com possibilidade de acumulado de chuva de 50 a 100 milímetros por dia. O alerta é válido até a manhã desta terça-feira (11).

Com as chuvas, a temperatura da cidade tende a ficar amena. Para terça-feira (11) é esperada máxima de 24 graus e mínima de 17. A situação é semelhante à observada nesta segunda, quando os termômetros do 5º Distrito de Meteorologia do Inmet, instalados no campus da UFJF, aferiram máxima de 24 graus e mínima de 16,8.

Tópicos: chuva

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