Jornalista juiz-forana é assassinada a facadas em Brasília

Vanessa Esteves foi rendida por dois bandidos armados na porta do prédio onde morava; três suspeitos foram detidos por latrocínio


Por Marcos Araújo

09/08/2017 às 19h09- Atualizada 10/08/2017 às 07h27

Acolher quem estava por perto, no estilo grande mãe, era a característica mais marcante apontada pelos amigos sobre a jornalista juiz-forana Maria Vanessa Veiga Esteves, de 55 anos, vítima de assassinato a facadas, em Brasília, onde ela morava há dois anos. A morte ocorreu após as 23h desta terça-feira (8), depois que ela foi abordada por dois homens, ainda não identificados, quando estacionava o carro ao chegar a seu prédio, na Asa Norte. A Polícia Civil do Distrito Federal investiga a hipótese de latrocínio (roubo seguido morte), uma vez que os bandidos levaram a bolsa e o celular da vítima. A dupla abordou a mulher e, enquanto um a segurou, o outro a esfaqueou pelas costas. Em seguida, eles fugiram. Vanessa morreu antes mesmo de o Samu chegar ao local para o socorro. No início da noite desta quarta-feira, o site do jornal Correio Braziliense noticiou a detenção de três suspeitos.

A notícia da morte da juiz-forana deixou triste a quarta-feira dos diversos familiares e amigos que ela tinha na cidade, onde formou-se na Faculdade de Comunicação Social da UFJF, em 1985. “A Vanessa foi uma amiga muito querida, uma pessoa especial e fiquei muito chocada ao saber de sua morte. Ela foi muito minha amiga e era uma amiga preocupada com a gente. Quando meu pai morreu, ela passou uma semana dormindo na casa da minha mãe e passou a tomar conta de mim. Ela adotava a gente e era uma mãezona. Até emprego arrumou para mim”, frisou a jornalista Andrea Andrade, que se formou junto com Vanessa.

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O jornalista e professor Mauro Pianta, além de amigo, atuou ao lado de Vanessa na produção de filmes em Juiz de Fora. “Ela era de uma inteligência rara, de um raciocínio rápido, sempre foi mãezona de todos, sempre muito cuidadosa e extremamente alegre e sorridente. Tinha nas pontas dos dedos todo o controle quando ela se envolvia na produção de um trabalho, possuía um profissionalismo muito arraigado. Estamos todos muito arrasados com essa notícia”, lamentou, lembrando que Vanessa fez a produção, edição e sonoplastia do curta-metragem em VHS Bar Redentor, dirigido por José Santos, em 1987, e disponível no Youtube, onde o vídeo tem alcançado grande repercussão.

O diretor do Grupo Divulgação e professor aposentado da Faculdade de Comunicação da UFJF, José Luiz Ribeiro, recorda-se da jornalista ainda menina, quando ela fez a protagonista de um espetáculo montado por ele no Grupo Magister de Teatro. “Ela fez o papel da Gata Borralheira, além disso também foi minha aluna da Faculdade de Comunicação. Era uma pessoa muito querida. Tenho uma lembrança daquele frescor da juventude que ela tinha e, no meu livro de 50 anos de teatro, tem o retrato dela no final desse espetáculo. Levamos um susto com a notícia de sua morte”, afirmou.

Vanessa era solteira e não tinha filhos. Mudou-se para Brasília há dois anos, depois de ser aprovada em concurso temporário no Ministério da Cultura para o cargo de analista de projetos audiovisuais da Lei Rouanet e ainda fazia mestrado na Universidade de Brasília (UnB). Por cerca 20 anos trabalhou no Canal GNT, no Rio de Janeiro, participando de sua implantação. Ela ainda atuou como coordenadora de programação internacional dos canais Globo Internacional e Globosat, além de editora da TV Cultura e da TV Manchete. De acordo com o irmão dela, Nonato Estevez, nesta quarta, outros dois irmãos viajaram para Brasília a fim de providenciar a vinda do corpo da jornalista para Juiz de Fora. O sepultamento será realizado no Parque da Saudade, onde a família possui sepultura, mas o horário ainda não foi divulgado. “Ela era meu guia, meu norte. Para a vida, foi ela quem me guiou. Ela era a fortaleza da família e vai continuar sendo”, afirmou Nonato, que soube da morte pelo Facebook por meio de um amigo da irmã em Brasília.

Segundo familiares da jornalista, o corpo de Vanessa deve chegar em Juiz de Fora por volta de meio-dia desta quinta-feira (10) e será velado no Cemitério Parque da Saudade. O sepultamento será às 16h30.

Suspeitos presos

No início da noite desta quarta-feira, o jornal Correio Braziliense noticiou em seu site a prisão de dois homens e a apreensão de um adolescente, todos suspeitos da morte da jornalista. Eles foram identificados após a Polícia Civil do Distrito Federal analisar as imagens das câmeras de segurança da quadra. As imagens mostram o momento em que Vanessa estaciona seu carro em frente ao bloco residencial. Logo depois, aparece um homem usando blusa branca com capuz e calça escura. Em outras imagens, é possível ver os dois suspeitos fugindo. O trio foi localizado o em um apartamento na Quadra 208 da Asa Norte. Com eles, foram encontrados os pertences de Vanessa. Os supostos assassinos, escoltados por policiais, chegaram à 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte), por volta das 18h50.

Respeito e reconhecimento

Por meio de nota, o Ministério da Cultura se manifestou sobre o falecimento da profissional. “Ela era bastante respeitada pelo conhecimento que detinha e pela própria pessoa amável e incrível”, afirmou o secretário do Audiovisual do MinC, João Batista Silva. O gerente da Secretaria de Audiovisual (SAv), onde ela estava lotada, Wanderlan Fernandes Guedes Filho, afirmou que todos os colegas estão consternados com a notícia. “Ela estava cheia de planos e feliz por ter tido a notícia de que um de seus trabalhos foi aprovado para ser apresentado em um simpósio, em Portugal. Foi uma crueldade o que fizeram, porque ela não esboçou nenhuma reação”, disse.

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O Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal postou nota de pesar sobre o assassinato. No texto, eles descrevem Maria Vanessa como “admiradora da cultura, das artes e crítica do desmonte das políticas culturais”. Além disso, o Sindicato também “exige das autoridades públicas do DF uma investigação transparente e a responsabilização dos envolvidos no crime”.

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