O perigo da exposição nas redes sociais


Por Tribuna

09/08/2016 às 07h00- Atualizada 09/08/2016 às 11h44

A exposição pessoal nas redes sociais pode ser mais perigosa do que se pensa. Juiz-foranos tiveram suas informações pessoais roubadas e utilizadas em perfis falsos, entre eles um médico que teve o sobrenome e algumas fotos utilizadas por golpistas. Além de suas imagens pessoais terem sido exploradas, o residente de cardiologia do município teve um receituário impresso com o nome dele em uma cidade do Paraná. Jovens de classe alta também foram enganadas por uma pessoa que utilizou informações de terceiros para manter um relacionamento com elas. Para entrar na esfera privada dessas jovens, o indivíduo criou, ainda, um perfil falso de uma boate de Juiz de Fora, ganhando a confiança de um grupo amplo. Desta forma, os criminosos lançaram mão do que especialistas da área chamam de “engenharia social”, quando várias histórias falsas são construídas a partir do acesso a informações reais. A princípio, uma mulher do Paraná é suspeita de encabeçar os crimes. Uma das jovens enganadas, que é de outro município, chegou a enviar vários nudes pelas redes sociais para o “namorado virtual”, sendo, posteriormente, ameaçada por isso. Se o caso chegasse ao conhecimento da polícia, ela teria suas imagens vazadas.

A namorada do médico residente de Juiz de Fora – que também é médica em Belo Horizonte -, conta que uma de suas amigas se relacionou virtualmente com a falsa pessoa por quatro meses. Nesse período, elas conversavam por telefone, mas nunca pelo vídeo do celular ou do computador. “A pessoa usava o sobrenome do meu namorado e o apelido do marido de uma amiga nossa. Ela conseguiu, inclusive, entrar no Instagran da minha cunhada e roubar fotos dos meus sobrinhos. Descobrimos que ela usava as fotos de um rapaz de Assis, em São Paulo, fazendo-se passar por ele”, revela. Segundo a médica que faz residência na capital mineira, após a descoberta da farsa, ela chegou a acionar a boate de Juiz de Fora que teve o nome indevidamente utilizado, mas não obteve resposta. “Tentei avisá-los”, diz. Nenhuma das vítimas, no entanto, registrou ocorrência na polícia.

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Especialista em direito digital, o advogado Alexandre Atheniense, contou que uma de suas clientes também foi alvo de um criminoso do Paraná. Jovem e bonita, ela teve suas imagens utilizadas para atrair vários homens que passaram a enviar fotos nuas para a pessoa que criou o perfil falso. Homossexual, o indivíduo utilizava as fotos da mulher para obter vantagens sexuais. “O brasileiro é extremamente exibicionista e um pouco ingênuo em termos de privacidade. Como se manda um nudes para alguém que não se conhece presencialmente? Geralmente, quem cria um perfil falso está em busca de vantagem financeira ou sexual. Ao criar um perfil falso a partir de informações e imagens de pessoas verdadeiras, essas vítimas podem ter sua honra afetada”.

A delegada de Mulheres, Ângela Fellet, concorda e alerta: “Ninguém sabe quem está do outro lado do computador. Além disso, é comum ocorrer casos em que a namorada manda um nudes para o namorado, mas, quando ele se torna ex, usa as fotos contra ela, seja ameaçando para conseguir reatar o namoro ou vendendo as imagens para sites que publicam vídeos pornôs caseiros.”

Cuidados

Segundo Alexandre, todo o cuidado é pouco, e isso vale para o terreno virtual. “Os internautas jamais devem revelar nas redes sociais seus hábitos pessoais e imagens de sua esfera íntima. “Nós não estamos lidando com pessoas, mas com letras e números. A primeira coisa que questiono é se há meios de checar as referências dadas pela pessoa, porque muitos montam uma rede que pode parecer familiar exatamente para sair da esfera pública e entrar na vida privada de alguém, visando a obter vantagens que podem se refletir na esfera criminal e cível”,alerta.

Por se tratarem de autores do Paraná, a delegada Ângela Fellet explica que, assim como ocorreu no caso das irmãs da cidade enganadas com a falsa promessa de uma carreira de modelo, os novos episódios, dessa vez envolvendo adultos, deverão ser investigados por delegacia especializada daquele estado.

Marco legal resultou em avanços

Considerados de difícil apuração, os crimes digitais também deixam rastro através dos registros eletrônicos armazenados nos provedores das redes sociais, o que permite identificar o agente. No entanto, a identificação do cadastro válido só é possível mediante solicitação por via judicial. Na prática, o sigilo da fonte só pode ser quebrado mediante ordem judicial. Para o especialista em direito digital, o advogado Alexandre Atheniense, desde 2014, quando entrou em vigor no país o marco civil da internet, foi possível avançar na investigação dos casos. “A preservação dos indícios eletrônicos é indispensável para a investigação da autoria. Ela aumenta a possibilidade de êxito não só em relação à identificação da autoria, mas na punição dos infratores.”

Apesar da informação, o advogado diz que não existe no país um levantamento sobre o número de casos nos quais houve responsabilização efetiva dos autores. “Posso dizer que, entre as fraudes mais comuns, estão o estelionato e a difamação sobretudo pelas redes sociais”, diz.

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Segundo Alexandre, todo internauta deve manter o hábito de monitorar as informações vinculadas ao seu nome na internet, exatamente para verificar se está sendo divulgada alguma coisa que afete sua reputação. Outra dica é preservar a prova, porque a vítima age por impulso e, muitas vezes, decide apagar o conteúdo das mensagens. “Quando se preserva a prova, consegue-se o rastro necessário para identificação da autoria. Além disso, não basta registrar um Boletim de Ocorrência. Quanto mais rápido ela partir para o enfrentamento, maior a chance de obter êxito. Para resolver o problema, é necessário tomar medidas coercitivas através da constituição de advogado”, orienta.

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