Suspeito de se passar por juiz e promotor é preso

Polícia Civil aponta a existência de ao menos 14 vítimas de suposto golpista, que também já se identificou como médico


Por Sandra Zanella

09/03/2018 às 16h38- Atualizada 09/03/2018 às 19h23

Segundo delegado Luciano Vidal, suspeito foi capturado pela equipe da 1ª Delegacia nesta quinta-feira (Foto: Leonardo Costa)

Um homem de 48 anos que se passaria por promotor e juiz para extorquir pessoas com falsas promessas de emprego e de soltura de detentos foi preso pela Polícia Civil, na tarde de quinta-feira (8), nas imediações do Fórum Benjamin Colucci, onde costumava agir, no Centro de Juiz de Fora. Em entrevista nesta sexta, o delegado Luciano Vidal explicou que o suspeito foi capturado pela equipe da 1ª Delegacia, mediante mandado de prisão expedido, no último dia 2, pela Vara de Execuções para cumprimento de pena. O suposto estelionatário é morador da Zona Sul e, só nos últimos cinco anos, teria conseguido ludibriar, pelo menos, 14 vítimas, conforme número de inquéritos e outros procedimentos instaurados pela Polícia Civil desde 2012.

“Ele é conhecido (no meio policial) há muito tempo e tem procedimentos de estelionato espalhados por várias delegacias. Ou seja, ele não tem uma área específica de atuação, age na cidade inteira. A própria folha dele de antecedentes tem 17 páginas. Em oito casos, ele já foi indiciado, fora os que estão em andamento sem conclusão”, disse o delegado, responsável pela apuração de três crimes. Um deles, já concluso com indiciamento em 2014, foi relativo a uma academia. “Ele deu o golpe falando que tinha contatos para inserir o estabelecimento na Lei Rouanet. Foi criativo, porque é uma lei de incentivo à cultura e à arte. Disse que tinha um contato e que iriam receber uma quantia do programa do Governo federal, além de angariar pessoas para as atividades esportivas. Segundo as informações que tivemos, ele ainda deu aulas de taekwondo nessa academia, porque seria lutador de artes marciais, mas não sabemos se isso é verídico ou não.”

PUBLICIDADE

Ainda conforme Vidal, o suposto golpista já teria se passado até por médico para ter credibilidade na venda de um apartamento, que não era dele. “Ele é polivalente nos golpes, apesar do carro-chefe dele ser esse de se passar por promotor de justiça e juiz. Geralmente, prometia emprego ou procurava famílias que tinham parentes presos, garantindo auxiliar na soltura. Falava que a Justiça estava com mutirão de desencarceramento e que aquela pessoa já estaria em condições de estar em liberdade. Ele cobrava uma quantia falando que seria das custas processuais. Muitas vezes, faz abordagens na porta do Fórum. Vê alguém chorando e se aproxima, angariando os ‘clientes’ ali.”

Dois casos ainda estão sendo investigados pelo delegado, nos quais o possível estelionatário teria usado o mesmo nome falso de “Doutor Sebastian”. Em uma das farsas, ele se passou por assessor de promotor em 2012 e causou prejuízo de quase R$ 5 mil a uma mulher, 34, alegando que ela precisava tirar carteira nacional de habilitação (CNH) para trabalhar com ele. “Ele dizia que tinha acesso ao Detran e que iria facilitar.” Segundo Vidal, outra vítima, 31, tem uma lanchonete no Ipiranga, Zona Sul, e teria sido abordada pelo homem no local, como promotor, no fim do ano passado, também com a falsa promessa de trabalho. Mas não teria chegado a entregar dinheiro a ele. “Muitas outras pessoas devem tê-lo conhecido, mas nem acreditam que caíram em um golpe”, observou o delegado, orientando outras possíveis vítimas a comparecerem à delegacia mais próxima. “Ele se passava por promotor ou juiz, mas nunca marcava encontros no Fórum”. alertou.

Promessa de emprego com plano de saúde e convênio escolar

Uma das vítimas mais recentes do suposto golpista de 48 anos preso pela Polícia Civil na quinta-feira (8) é uma vendedora, 26. Há cerca de duas semanas, ela conheceu o homem em seu próprio local de trabalho em uma loja no Centro, quando ele chegou interessado em um plano de telefonia celular. Após o contato, ele ofereceu a ela emprego como secretária no Fórum Benjamin Colucci, com salário de R$ 1.845, plano de saúde e convênio escolar para o filho dela estudar em um colégio particular. Ganhando um salário mínino, além das comissões, a vítima teve interesse na atraente proposta.

“Fiz um plano para ele, e me disse que trabalhava no Fórum, que tinha uma vaga de emprego, se apresentando como promotor e advogado. Eu aceitei, disse que trabalharia com ele e dei meus documentos. Ele falou que, para conseguir a vaga, eu precisaria preencher um requerimento no valor de R$ 380. Iria mandar para Belo Horizonte e obter meu crachá. Pensei que tinha sido abençoada”, contou a vítima à Tribuna. O possível estelionatário retornou alguns dias depois, alegando que ela havia tido os documentos clonados. A mulher chegou a desconfiar de um conhecido, e o homem confirmou que deveria ser ele o responsável pela clonagem, acrescentando que veículos já haviam sido adquiridos no nome dela. As taxas cobradas para “limpar” o nome da vendedora, com mais o requerimento pago, chegaram a R$ 1.100. Ela só desconfiou do golpe após ser alertada por outra vítima. “Confirmei que ele era estelionatário e procurei meus direitos, informando à polícia.”

Para o delegado Luciano Vidal, o suspeito tem uma capacidade considerável para ludibriar. “Notamos que os crimes mais recorrentes são aqueles em que ele se passa por promotor de justiça e juiz de direito, oferecendo emprego para pessoas mais humildes. Acreditamos que exista subnotificação, porque (as vítimas) não sabem que se trata deste homem. Gostaríamos que as pessoas que foram lesadas pela utilização do nome Sebastian ou por outro, mas que acreditam ser ele, procurem a delegacia para fazer a denúncia e confirmar.” Para não cair nesse tipo de golpe, o delegado orienta a desconfiar de ofertas vantajosas. “Devem procurar os órgãos públicos para conferir se aquela pessoa trabalha naquela unidade e se o serviço ofertado é legítimo. Também deve-se evitar passar documentos sem a confirmação de que o emprego existe.”

O conteúdo continua após o anúncio

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.