Demora em manutenção leva aspecto de abandono às praças da cidade

Tribuna percorre sete praças da cidade após receber reclamações de leitores. A maioria tem baixa procura de moradores do entorno por causa da precariedade dos equipamentos


Por Renan Ribeiro

08/02/2018 às 07h00

As más condições de praças de várias regiões de Juiz de Fora vêm sendo denunciadas por moradores do entorno. A Tribuna recebeu relatos de leitores indicando falta de estrutura de brinquedos e problemas como buracos, rachaduras, acúmulo de lixo, mato alto, entre outros. Diante das queixas, a equipe percorreu sete praças das regiões Sul, Norte, Leste e Central para verificar as reclamações e encontrou pessoas que não deixam de usar os equipamentos públicos, embora reivindiquem soluções para o estado geral das praças.

Em cada uma das áreas visitadas foi notada a baixa presença de usuários. Os que resistem e foram encontrados nos locais explicam e mostram as causas do afastamento. Não há, segundo eles, atrativos que os levem a frequentar mais os espaços. Os aparelhos e estruturas existentes, segundo eles, estão com estado de conservação precários e seriam insuficientes para atender a demanda. Seria preciso ir além dos poucos brinquedos e quadras. Como indicou a dona de casa Simone de Fátima Oliveira, no Bairro Nova Era, faltam cuidados e uma programação de políticas públicas que atraiam a população.

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Simone, assim como o estudante Richard Luiz, morador do Vitorino Braga, e a dona de casa Geisiane da Cruz Costa, do Santa Cândida, apontaram a Praça de Artes e Esportes Unificados (CEU) em Benfica como boa referência do que poderia ser levado para outras localidades, não só pela estrutura, mas pelos programas de ocupação existentes. “Seria muito interessante ter incentivo ao esporte, ao teatro, para que crianças e adolescentes que hoje estão sem opção e até ficam nas ruas pudessem se desenvolver por meio do lazer e da cultura, como acontece na CEU”, diz Geisiane. A Empav afirma que a CEU foge ao modelo das demais praças da cidade, por integrar outro projeto. “O complexo de Cultura e Lazer é um projeto do Governo federal administrado pela Funalfa e financiado pela União, que oferece à comunidade espaços para realização das aulas de dança, teatro, oficinas, além de um anfiteatro e vários equipamentos integrados. E, como dito, não é administrado nem mantido pela Empav.”

Também pelo relato dos moradores é possível notar que a manutenção acontece, mas é demorada. O que faz com que os locais apresentem estrutura precária na maior parte do tempo, até que seja possível incluí-los novamente na rota de manutenção. Isso faz com que a aparência de abandono persista por meses a fio até que cada local volte a entrar no cronograma da Empav, modelo que é criticado por moradores de vários bairros.
De acordo com a Empav, há na cidade 250 logradouros públicos, que incluem 160 praças, canteiros, rotatórias e taludes acompanhados pelo órgão.

Ainda segundo a divisão, a manutenção é feita conforme demanda, por meio de programação sequencial por região. A Empav exemplifica que uma equipe presente na região Norte começa seu trabalho pelos canteiros centrais da Avenida JK e vai seguindo bairro a bairro. Nesse trabalho é dada a prioridade às praças e aos canteiros que estiverem necessitando de maiores cuidados. Há também, conforme a Empav, uma dificuldade extra para o serviço de manutenção no verão, por causa da combinação de temperaturas altas com pancadas de chuva, o que faz o mato crescer mais rápido.

Apoio da população

Outro ponto importante para a empresa é a colaboração da população. “Não jogando lixo no chão, não utilizando brinquedos de forma inadequada, sempre garantindo a forma ideal de uso conforme tamanho, peso e altura. (Há casos em que adultos usam os brinquedos e acabam danificando o que é destinado a crianças).” A Empav explica ainda que há um registro significativo de casos de vandalismo, por isso, a orientação é que os moradores acionem a Polícia Militar por meio do 190 e denunciem, quando testemunharem essas situações.

Outro esclarecimento feito pela divisão de Parques e Jardins da Empav é relativo à diferença entre revitalização e manutenção. “Na maioria das praças visitadas pela reportagem, os moradores querem a revitalização. Esclarecemos que a manutenção é realizada com a roçada do mato, poda de árvores, varrição e limpeza geral. Já a revitalização é a reforma de todo o espaço, com os itens da manutenção e mais a reforma dos parquinhos, academia ao ar livre, quadra, pintura geral.” Para esse tipo de solicitação, a empresa afirma que é necessária a captação de recursos, porque essas intervenções demandam aporte financeiro. “Dentro da programação, a Empav está empenhada em consertar os parquinhos danificados, que é a principal reclamação, e será atendida independente da revitalização do espaço”, pontuou a nota.

Vocação das praças como local de encontro

Segundo o arquiteto e professor do Departamento de História da UFJF, Marcos Olender, várias questões influenciam na utilização das praças. Entre elas a concorrência das novas ofertas de lazer, que vão desde shoppings a clubes, além da falta de gestão pública concentrada nas potencialidades do equipamento. “A praça é um lugar público de congregação por excelência. Se há um bom planejamento urbano, e a infraestrutura de lazer, esporte e cultura nesses lugares for boa, ele vai ser utilizado.” Ele exemplifica essa falta por meio da Praça da República, no Bairro Poço Rico, Zona Sudeste. O local abriga o Marco do Centenário de Juiz de Fora: monumento tombado pelo patrimônio assinado por Arthur Arcuri com um painel de Di Cavalcanti, que não é conservado como deveria, de acordo com Olender. “Além do marco, não há outro elemento urbano que possa atrair as pessoas do ponto de vista do estar, algo que pudesse fazê-las conviver naquele espaço.”

Para o professor, é preciso garantir a tradução das demandas das comunidades. “Quando a população demanda uma intervenção, quer dizer que aquele espaço está em desuso. É preciso torná-lo mais atrativo.” Bom exemplo disso, segundo Olender, seria a Curva do Lacet, no Dom Bosco, Cidade Alta. Ele relembra que o local abrigou uma praça de esportes, contava com uma quadra e era muito utilizada. “Quando o shopping se instalou na região, a praça virou apenas um espaço de circulação que dá acesso ao empreendimento. Ou seja, o espaço perdeu sua função social, embora exista a demanda. Mas é preciso entender quais são os interesses atendidos com o não retorno da praça, se ela atenderia uma demanda de uma população vizinha. É uma falta de lucidez urbana ter um espaço daquele tamanho sendo usado da forma como é hoje”, avalia o professor. Ele ainda reforça que alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFJF e a população já fizeram manifestações pela volta da praça para a Curva do Lacet e não foram atendidos.

Outras questões importantes também são contempladas por Marcos Olender. Faltam políticas de ocupação que facilitem a descentralização das atividades de cultura, esporte e lazer. “O Plano Municipal de Cultura indicar diretrizes básicas de descentralização foi fundamental, porque a atual centralidade desses eventos é nociva em termos de ocupação. Temos a Praça CEU (em Benfica), por exemplo, que foi um projeto muito bem-sucedido. Essas propostas são super bem-vindas,mas é preciso ir além. As praças fora do Centro também precisam ser ocupadas pela população.” Ele ainda reitera a importância de oferecer uma segurança, que não seja feita por meio de grades, já que a praça é concebida como local aberto a todos. “Para garantir essa segurança, é preciso investir em iluminação, limpeza, cuidado, manutenção.”

Praça Rafael Silva Cruz, bairro Nova Era

(Foto: Olavo Prazeres)

Chegamos à Praça Rafael Silva Cruz, no Bairro Nova Era, Zona Norte, por volta das 16h50 da quarta-feira (25). Nesse horário não havia ninguém lá. Andamos pela área que ocupa um quarteirão e conta com quadra, parquinho e uma raia de bocha. Foi quando vimos se aproximar a dona de casa Simone de Fátima Oliveira, moradora do Santa Lúcia, com seus dois filhos. Ela apontou para a quadra e mostrou que a rede de proteção tem várias falhas. Do banco onde nos sentamos para conversar, víamos que o mato que recobre boa parte do local está alto e que, em vários pontos, há concentração de lixo. “A praça está abandonada. Há sujeira por todo lado. A areia do parquinho está imunda, isso tudo apresenta muitos riscos. Falta uma barreira para que as crianças menores não caiam da parte mais alta para a mais baixa. Tudo isso afasta as pessoas. Deveria ser uma área de lazer frequentada e cuidada por todos, mas não é o que acontece.” Ela diz que frequentemente percorre dois quilômetros a mais, deixando de ir à praça do Nova Era, que fica mais perto de sua residência, para ter acesso à estrutura oferecida pela Praça CEU, em Benfica.

“Essa falta de cuidado com a praça reflete muito o que acontece na Zona Norte toda, em que os espaços estão muito abandonados. Não sabemos como são os cronogramas da Prefeitura, mas acho que deveriam ser suficientes para manter todas as praças bem cuidadas. É uma questão de falta de manutenção, falta de revitalização. Vemos que os brinquedos estão bem cuidados. Tem sinal de tempo, mas tudo funciona, não tem nada quebrado. O portão da quadra está no lugar. As grades é que estão muito danificadas. O chão, quando chove, também fica muito empossado.” Conforme a assessoria da Empav, a manutenção seria realizada assim que os trabalhos com os canteiros centrais da Avenida JK estivessem finalizados.

Praça Teotônio Vilela, Vitorino Braga

(Foto: Olavo Prazeres)

A estrutura da Praça CEU também é tida como referência em outras localidades, como é o caso de quem vive nas proximidades da Praça Senador Teotônio Vilela, no Bairro Vitorino Braga, Zona Leste. Nela, o parquinho conta com um balanço que está quebrado, com um escorregador com o corrimão partido e muitos danos da estrutura física em vários outros pontos. Além disso, a sujeira se acumulava. Um problema, dos mais aparentes, é um buraco na rampa de skate. Na entrada da praça, o comerciante Jamerson Ferreira já afirmava: “As crianças não usam a praça.” Os moradores contaram que cobram do poder público a manutenção, mas ela não ocorre como deveria ser. “Ficamos meses sem limpeza. Até denunciarmos a situação na internet. Depois de muita insistência, a Prefeitura trouxe uma equipe para limpar. Também brigamos pela iluminação, estou com dois protocolos em mãos, mas ainda não consegui nada. Isso ajuda a aumentar a sensação de insegurança”, diz o morador e estudante universitário Richard Luiz. Ele também relata que foram encontrados animais peçonhentos na praça, por causa da sujeira. “O que não entendemos é como uma praça que fica tão perto do Centro pode ficar tão abandonada. Tem outras que contam com manutenção, pintura, poda de árvores. Se na Praça CEU tem, lá em Benfica, por que não podemos ter aqui também? Aqui algo só é feito quando quebra e não tem mais jeito. Eles alegam que é culpa do morador, mas não é. As pessoas não usam mais a praça até por questões de segurança e até mesmo por falta de atividades saudáveis”, reforça Richard.

Além dele, outros moradores disseram que o abandono favorece a instalação de pessoas em situação de rua e atrai usuários de entorpecentes.
Quando chegamos perto da pista de skate, entendemos a gravidade de tudo o que é dito por eles. Um grupo de jovens que se revezava no percurso foi indicando onde estão os problemas considerados por eles como mais graves. Um buraco aberto em uma das rampas chamou a atenção. “Se a roda prende em um desses, é tombo e lesão na certa!”, disse um deles. O outro confirmou ter conhecido um rapaz que levou um tombo por causa do problema. O skatista Pedro Dutra, 16 anos, aponta a rampa do lado contrário e diz que a rachadura enorme compromete a prática. “Essa não é uma pista ruim. Pelo contrário, ela é uma das melhores da cidade, mas precisa ter manutenção. Porque muita gente usa.” Segundo a Empav, a manutenção da Praça Senador Teotônio Vilela foi feita em janeiro, por meio de uma parceria com o Demlurb. “Essa parceria também possibilitou a manutenção de outras importantes praças, como a da Baleia, no Bairu, e a Praça de Benfica. Em relação à iluminação precária, um técnico iria ao local avaliar e, caso seja necessária a revitalização, será elaborado projeto para execução de acordo com disponibilidade orçamentária/financeira”, detalhou a empresa em nota.

Praça Doutor Pedro Batista Martins, Grajaú

(Foto: Olavo Prazeres)

Na Praça Doutor Pedro Batista Martins, no Grajaú, Zona Leste, também havia sujeira espalhada, além do mato alto. Encontramos um grupo de adolescentes jogando futebol na quadra. Dependendo da direção para qual chutassem a bola, ela sairia da quadra, e eles teriam que correr para apanhá-la, por causa dos buracos na rede. “São muitas falhas nessas telas. É muita coisa que falta. Só temos dois brinquedos no parquinho, as traves do gol estão sem rede, também seria muito bom se tivesse uma pintura”, avaliou o estudante Arthur Morais, 15 anos. Ele conta que adoraria ter uma praça que pudesse contar, por exemplo, com um bebedouro para que não tivessem que parar a brincadeira para ir em casa matar a sede. “Isso é o nosso sonho. Nós gostaríamos de ter mais coisas. Sabemos que nem tudo dá para fazer, mas ter as grades e tirar o mato alto já ajudaria muito.” De acordo com a Empav, a manutenção seria feita ainda em janeiro. O órgão ainda afirmou que a revitalização desta praça foi feita no ano passado. Ao retornar à praça nesta quarta-feira, a Tribuna encontrou o local capinado, mas ainda cheio de lixo.

Praça Jarbas de Lery dos Santos, São Mateus

(Foto: Olavo Prazeres)

O professor André Luiz S. Rocha estava de férias em janeiro, e a opção de lazer que teria junto com a filha seria frequentar a Praça Jarbas de Lery Santos, em São Mateus. Nas ocasiões em que foi ao local, houve um caso em que uma criança se machucou com uma farpa do escorregador de madeira, e, em outro momento, um garoto ficou com a perna presa numa falha na plataforma do mesmo brinquedo. Motivado pela situação que presenciou, o professor decidiu ligar para a Empav. “Eles disseram que iam providenciar. Mas quando voltei dias depois, o problema persistia. A população colocou dois cabos de vassouras na falha para chamar a atenção dos pais e das crianças. Fora isso, acho que eles são muito inadequados. São de madeira, muito altos, embora não tenha conhecimento técnico para avaliar, acredito que poderia ter outros tipos de equipamento.” Ele relatou ter retomado o contato com a Empav, mas diz não ter recebido nenhuma resposta posterior.

André Luís lamenta o ocorrido justamente nessa fase do ano. “É o momento em que as crianças estavam de férias, alguns pais também, muitas crianças estavam na praça pela manhã e mais a noite. Então é ruim, porque perdemos essa oportunidade de conviver na praça.” Ele também destaca ainda que acha a iluminação do local insuficiente. “Já fiz um pedido para o JF Luz também. Não pude perceber ainda se trocaram as lâmpadas que percebi que estavam queimadas.”

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A jornalista Elisa Lomeu Pedreti critica a forma como a praça vem sendo tratada. “Aqui fica muito sujo, minha filha já quase pisou em um caco de vidro grande. Os brinquedos estão sem qualquer manutenção. As madeiras estão podres, soltam farpas. Com isso, as opções de lazer que são poucas, ficam ainda menores. Nas férias, não tínhamos para onde ir.” A cabeleireira Marina Albanese reitera as reclamações de Elisa. “O parcão parece ser mais bem cuidado que o resto da praça. Nossos filhos brincam aqui desde que nasceram. Pagamos impostos altos e não vemos as melhorias que precisamos. É um descaso, porque mesmo vigiando, mesmo estando junto, eles acabam se machucando por causa das condições precárias dos equipamentos.”

Sobre a situação desta praça, a Empav afirmou que a manutenção foi feita em janeiro. A empresa reforçou que toda a iluminação foi revitalizada em 2013, quando todo o espaço passou por reforma. “Se alguma lâmpada estiver queimada, a solicitação de substituição deve ser feita através do JF + Luz pelo telefone 0800 940 3777. No momento da ligação, o solicitante deve informar o número da plaqueta amarela afixada no poste”, orienta.

Praça Maria Ilídia de Rezende, São Benedito

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(Foto: Olavo Prazeres)

O lixo estava espalhado por toda extensão da Praça Maria Ilídia de Rezende, no Bairro São Benedito, Zona Leste, quando estivemos na localidade, no dia 25 de janeiro. Um senhor que preferiu não ser identificado disse que não deixa mais seus netos entrarem no parquinho, porque ele teme que as crianças se machuquem. “As redes de arame estão todas arrebentadas, o mato está muito alto e tudo está sujo. Eu moro aqui perto e sempre que posso contribuo, varrendo. Os brinquedos estão cheios de soldas e podem cair a qualquer momento, falta lubrificação nas juntas dos equipamentos. Até as lixeiras estão quebradas.”

As crianças que brincavam na praça tropeçavam em garrafas PETs, embalagens e caixas descartadas dentro do parquinho. As menores quase caíam diante dos obstáculos. A dona de casa Hercília Lourenço Ferreira Balbino vai à praça, mesmo notando todos os problemas. “Trago meu sobrinho e minha neta. Sei que ela poderia ser muito melhor. É um espaço que deve ser deles, mas realmente está muito sujo, muito maltratado. Se pudesse, faria algo que a ajudasse a melhorar.” A neta dela, Rayane, de 8 anos imagina como seria a praça que gostaria de ter no bairro. “Os brinquedos são poucos. Já enjoamos do escorregador e do balanço. Gosto quando tem mais crianças para brincar. Mas seria muito legal ter aquelas casinhas que imitam castelo, aquele brinquedo que podemos escalar, um gira-gira.” A Empav confirmou que a praça passou por manutenção na última semana de janeiro. A Tribuna voltou ao local na tarde desta quarta-feira (7) e verificou que a capina foi feita.

Praça Hamilton Alves da Costa, Santa Cândida

(Foto: Olavo Prazeres)

Antes mesmo de entrar na Praça Hamilton Alves da Costa, no Bairro Santa Cândida, Zona Leste, percebemos que os degraus estão danificados, os muros contendo muitas rachaduras e a presença de lixo acumulado em vários pontos. Havia crianças e adolescentes brincando na quadra. Como em parte das outras localidades visitadas, o estado das redes era precário. “Aqui já foi um lugar legal. Depois, acabaram com os brinquedos. Tem muito mato, lixo, falta pintar, arrumar a quadra, colocar mais brinquedos. É importante ter tudo conservado, porque as crianças que ficam em casa à toa podem ter uma oportunidade de fazer um esporte, ou ocupar o tempo brincando, se desenvolvendo”, disse a dona de casa Geisiane da Cruz Costa.
As brincadeiras das crianças naquele dia soavam como ato de resistência, como elas mesmo destacaram depois. “Todo mundo sair para brincar como aconteceu hoje não é comum. Por conta de toda essa falta de estrutura, não nos sentimos seguros. Ficar aqui de noite, nem pensar. Nós já encontramos até cobra aqui. Não tem lata de lixo. O balanço é inseguro, e sabemos que as pessoas também destroem o espaço”, disse o adolescente Jonatha Franco Marcelino. Conforme as demandas vão aparecendo no local, os moradores do entorno tentam encontrar soluções.

“Os meninos usavam muito a quadra, quando víamos falhas na rede, nós mesmos soldávamos, tentávamos fazer a manutenção. Mas agora já está muito danificado, só a solda não adianta mais. Infelizmente, não dá para a Prefeitura vir consertar toda hora. Nós pensamos que mudanças são possíveis, mas é preciso esforço. Temos uma pista de skate, por exemplo, que não é utilizada e poderia ser convertida em um parquinho maior, ou uma academia ao ar livre”, diz o morador Everton da Silva. Em nota, a Empav ressaltou que o Demlurb realizou manutenção no mês de janeiro. “Mas infelizmente, algumas pessoas não colaboram e, às vezes, na mesma semana, jogam lixo e entulho na praça”, lamentou o órgão.

Praça Carlos Rutier, Granbery

A reclamação que havia sobre a Praça Carlos Rutier, no Bairro Granbery, área Central, destinava-se principalmente ao mato alto. Durante a visita que fizemos, percebemos que o serviço tinha sido feito. A Empav também confirmou em nota que realizou manutenção no local. A folhagem parecia ter sido retirada há pouco tempo. “Retiraram todo o mato, mas ainda há um abandono. Muitos usuários de drogas se abrigam na praça. Esse é um local com um potencial enorme, que não é aproveitado. Vejo que essa mesma questão se multiplica por toda a cidade,” detalha o advogado e militar Marcelo Maximiliano Mendes Pascoalino.

Embora o mato alto tenha sido resolvido, ainda faltam outros cuidados. “Uma praça como essa precisa de um reforço na conservação, na pintura, na iluminação, mas acima de tudo, precisa de uma campanha de conscientização. Porque os órgãos de segurança pública não podem ficar o dia todo por conta das praças. Não que não falte policiamento, mas é necessário ter uma intervenção que promova uma maior interação entre poder público e quem mora no entorno.” Segundo ele, essa aproximação pode ser eficaz para mudar o aspecto do local.

Ainda é possível pensar, segundo o morador, em maneiras de incentivar a ocupação saudável do lugar. “Se as pessoas usam, ocupam, a criminalidade não chega, os moradores em situação de rua não se estabelecem. Em bairros em que isso acontece, há conservação, há cuidado. Nas localidades mais afastadas do Centro não há esse tipo de aproximação.” No caso da Praça Carlos Rutier, a Empav confirmou a realização de manutenção na última semana de janeiro.

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