Adolescentes buscam informações sobre saúde reprodutiva
De janeiro a outubro deste ano, foram realizados 2.668 atendimentos no Serviço de Atenção Saúde do Adolescente
Todos os dias, o Serviço de Atenção Saúde do Adolescente (Sasad), ligado ao Departamento de Saúde da Criança e do Adolescente da Secretaria de Saúde, realiza dois pré-natais de novas gestantes. A procura ao serviço público localizado na região central da cidade vem atraindo não só meninas grávidas de classe baixa, mas jovens de classe média e alta que buscam informações sobre a saúde reprodutiva. Apesar de a sexualidade ser um tema discutido nas escolas públicas e privadas, muitas garotas não se sentem à vontade para falar de suas dúvidas nesse ambiente e também não encontram apoio em casa. O resultado é que elas iniciam a vida sexual e engravidam antes mesmo de adotarem um dos cinco métodos contraceptivos disponíveis, interrompendo a jornada escolar e tornando-se mães precocemente.
De janeiro a outubro deste ano, foram realizados 2.668 atendimentos no Sasad relativos não só a consultas de pré-natal, mas atendimento de psiquiatria, psicologia, ginecologia, clínica geral, endocrinologia e dermatologia. Apesar de o levantamento ainda não incluir os dois últimos meses do ano, o número já é maior do que 2016, quando ocorreram 2.649 atendimentos. Além disso, só o grupo de saúde reprodutiva reúne cerca de 80 meninas ao mês dispostas a compreender os métodos de contracepção e planejamento familiar e as diversas formas de prevenção. Deste total, dez jovens estão grávidas, mas dispostas a evitar futuras gestações. A maioria das adolescentes que procura o serviço localizado na Rua São Sebastião, entre a Rua Santo Antônio e Avenida Rio Branco, vai ao Sasad desacompanhada, o que reforça a ideia da busca de um lugar longe do bairro de origem, um local no qual elas não se sintam julgadas, mas acolhidas.
“A facilidade de acesso ao serviço e o acolhimento imediato, para que a menina não volte para casa sem ser atendida, são características do serviço de saúde integral para o adolescente”, afirma a psicóloga e coordenadora interina do Sasad, Eriane Pimenta. Ela explica que o atendimento a crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual também é realizado na instituição.
Falta diálogo
Os dilemas e a imaturidade que envolvem a adolescência ficam claros durante as consultas, entre elas a de pré-natal. Das seis meninas entrevistadas pelo jornal entre 15 e 19 anos somente uma fazia uso de método contraceptivo. Todas as outras engravidaram pouco tempo depois do início da vida sexual e pelo menos uma engravidou na primeira relação sexual. Ainda assustada com a notícia da gravidez, G., 15 anos, admite que a gestação jamais passou pela sua cabeça. Ela, que já tinha abandonado a escola no 6º ano do ensino fundamental, não conseguia enxergar um futuro na escola. Agora tem que se preocupar por dois. “Minha mãe, que teve o primeiro filho aos13 anos, não gostou de saber da notícia”, relata a menina que, atualmente, mora com um dos irmãos e acrescenta: “Esse bebê vai mudar a minha vida para sempre”, reconhece.
Psicóloga e coordenadora interina do Sasad, Eriane Pimenta, afirma que a negação da sexualidade dos filhos pelos pais resulta em falta de diálogo dentro de casa. “A maioria das meninas que chega aqui admite que não conversava em casa sobre o tema”, explica, dizendo que o Sasad procura compartilhar informações disponibilizadas dentro do serviço através da realização de oficinas nas escolas, a fim de que os professores também sejam alcançados. “Essas rodas de conversas com os adolescentes precisam ser incentivadas. Além disso, é preciso ter uma política voltada para a qualidade educacional, a fim de que esses jovens tenham interesse em permanecer na escola inclusive no contraturno para que possam ampliar suas oportunidades”, defende.