José Luiz Rezende Pereira, 70 anos – Professor dos números e dos afetos


Por Mauro Morais

07/06/2020 às 06h59

Foto: Arquivo Pessoal

Nascido em Leopoldina, vivia na roça, numa família de oito filhos. Disciplinado, José Luiz mudou-se para Juiz de Fora com a intenção de prosseguir nos estudos. Os pais alertaram o filho de que não tinham condições de arcar com aquela nova vida. Estavam felizes, mas faltavam recursos. Se algo não desse certo, as portas estavam abertas para que o filho retornasse. Mas deu certo. José Luiz dava aulas para ganhar dinheiro e poder estudar. De início, morava no próprio cursinho. Formou-se em engenharia elétrica e rapidamente tornou-se professor e pesquisador, após ser aprovado, dois anos depois, num concurso da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na sala de aula, conheceu Dayse, com quem se casou e partiu para o doutorado na Universidade de Manchester, na Grã-Bretanha. Pouco depois de retornar ao Brasil, nasceu a primeira de seus três filhos. Em 1993, José Luiz passou a integrar o corpo docente da UFJF, onde foi vice-reitor por duas gestões, de 2006 a 2014. Trabalhava muito, todo o tempo. E levava para a casa, para as viagens, tanto as pesquisas, quanto as orientações. Cuidava da casa, também, por prazer e dom. “Foi ele quem ensinou minha mãe a cozinhar”, conta a filha mais velha, a educadora física Marina Pereira, a única a não escolher engenharia na casa de engenheiros. “Era muito teimoso. Se era azul, era azul. Ele sempre sabia o que devia ser feito. E se ele falou, era aquilo”, lembra ela, sobre o homem reconhecido por uma seriedade gentil. Não negava sorriso. Gostava de estar em família e de casa cheia. “Ele sempre foi uma pessoa muito amorosa, disposto a ouvir. Os primos, tios e amigos sempre procuravam ele para ter uma opinião. E ele gostava de ajudar”, diz a filha. Mesmo aposentado, o que aconteceu há dois anos, José Luiz seguia lecionando na pós-graduação. Para aproveitar o fim do verão, viajou com a esposa para o Nordeste. Visitaram Maceió e se hospedaram num resort em Maragogi, nas Alagoas. Era o paraíso. E os dois estavam felizes, vibrantes. Já alardeados com as primeiras notícias acerca do coronavírus no país, José Luiz e Dayse tomaram alguns cuidados no trajeto de retorno, mas o despreparo ainda era grande em toda parte. José Luiz costumava voltar gripado das viagens que fazia e não se importou muito com a febre que já deu seus sinais no dia seguinte à sua chegada em casa. Uma semana depois, o desconforto aumentou, e ele precisou ser internado. Desde o início foi tratado como um paciente de Covid-19, doença cujo diagnóstico só saiu tempos depois. No dia 8 de abril, José Luiz não resistiu e tornou-se a primeira vítima fatal do vírus em Juiz de Fora. “Ele era meu herói, um exemplo de homem”, emociona-se a filha Marina sobre um homem bom.

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Tópicos: coronavírus

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