Medalha Rosa Cabinda homenageia 25 mulheres na Câmara Municipal
Cerimônia aconteceu na noite desta quarta-feira (8), agraciando mulheres de Juiz de Fora
Quem ouve a voz de Júlia Pessôa reverberar pelas páginas da Tribuna, pode sentir que está sentado diante de alguém conhecido, papeando enquanto toma uma boa xícara de café. Ela fala de questões fundamentais da sociedade contemporânea como quem quer ajudar um amigo a ver algo que ele teima em não enxergar. Com palavras cuidadosamente escolhidas e trabalhadas, a repórter, colunista e professora fala, ora com uma entonação forte e irônica, ora com tons mais brandos e acolhedores, sobre tudo aquilo que não pode mais ficar sem ser dito. Por usar sua coragem para dizer na cara de quem precisa ouvir, o que precisa ouvir, sem meias palavras, Júlia subiu à plenária da Câmara para receber a Medalha Rosa Cabinda, ao lado de Suzana Villaça, defensora dos Direitos Humanos em Juiz de Fora e Minas e de outras 23 mulheres que se destacam em seus diversos campos de atuação na cidade, na noite dessa quarta-feira (7), véspera do Dia Internacional da Mulher (Confira abaixo a relação de todas as agraciadas).
A honraria, que contou com a indicação de mais de 30 grupos, movimentos de mulheres e sindicatos, cria uma homenagem que parte delas, para elas, da maneira delas. “O feminismo passa por um combate a sistemas como o capitalismo e o patriarcado. Mas o movimento também inclui a intenção de que a gente não quer ser igual aos homens. A ideia de igualdade é para direitos e oportunidades”, considera Júlia. Nesse sentido, a proposta de uma ‘anti-medalha’, nesses moldes, é para ela, genial. “Não é dizer: ‘não quero uma medalha igual a sua’, é: quero ocupar aquele espaço, honrar quem eu quiser, do jeito que eu quiser.”
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Seja na redação, ou nas salas de aula, a maneira como a jornalista toca as pessoas não passa despercebida. Esse trabalho vem ajudando a dar visibilidade a inúmeros assuntos muito sensíveis não só ao movimento feminista, mas também na defesa de direitos a todos os grupos tratados como minorias. “As pessoas podem odiar ou amar o que faço, mas elas estão ali, consumindo aquele material. Por isso, não teria reconhecimento melhor para mim. É como receber um ISO 9000. Como se me dissessem ‘obrigado por tentar fazer algo por um mundo mais igualitário e menos inóspito para quem é minoria.”
Momento oportuno
A Medalha Rosa Cabinda é criada em um momento de eclosão de diversos protestos e contextos que colocam a mulher em posição de destaque e buscam legitimar seus espaços e discursos. Acabamos de testemunhar a força do Time’s Up, em que mulheres trabalhadoras da indústria do cinema e da música protestaram em cerimônias importantes como Globo de Ouro, Bafta e Grammys, lutando por igualdade e contra os inúmeros abusos dos quais elas são vítimas. A própria comenda, além de agraciar o trabalho dessas 25 mulheres, lança luz para a história da primeira mulher negra a utilizar a Justiça para ter direito de comprar a própria liberdade em Juiz de Fora, antes mesmo da criação da Lei Áurea, em 1870. Rosa tem o reconhecimento histórico marcado pelo grupo que organiza o evento.
“Com os retrocessos que vivemos, as pessoas estão atentas, mesmo que seja para discordar, elas reconhecem a legitimidade de todos esses movimentos. É impossível não prestar atenção nisso agora, quando se fala sobre o assunto o tempo todo. O momento é oportuno por causa disso. Esses casos não vão passar batidos”, reforça Júlia Pessôa. A representatividade alcançada não só pela honraria, como por todos esses esforços é o que vai ajudar a tornar a compreensão sobre o mundo mais complexa. “Precisamos ter atenção ao plural, ao diferente, para conseguirmos voltar a caminhar, porque vejo que estamos estagnados. Sou contra o discurso de que somos todos iguais, porque com ele se cala muita coisa. Iniciativas como essa e tantas outras rompem com o silenciamento do diferente e a importância delas está aí.”