Censo 2022: pesquisa em JF alcançou apenas 38% da população estimada

Falta de servidores, ausências de moradores e recusas de prestar informações atrasam levantamento do IBGE na cidade


Por Gabriel Silva

05/10/2022 às 07h51

Dos 520 recenseadores treinados até agosto, como João Pedro do Carmo Vieira e Samuel Muniz Martins, apenas 270 estão nas ruas (Foto: Felipe Couri)

Após pouco mais de dois meses de trabalhos, a pesquisa domiciliar para o Censo 2022 caminha em ritmo abaixo do esperado em Juiz de Fora. De acordo com dados atualizados na segunda-feira (3), 220.445 pessoas foram entrevistadas na cidade, o que representa apenas 38% das 577 mil entrevistas esperadas para todo o levantamento. A responsável pela pesquisa no município credita a lentidão à escassez de recenseadores e às ausências e recusas de prestação de informações por parte de moradores. Os obstáculos, inclusive, motivaram o alargamento do prazo de recenseamento a nível nacional, que agora vai até dezembro deste ano.

Originalmente, o levantamento, que não é realizado há 12 anos, aconteceria entre os dias 1º de agosto e 31 de outubro. A estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de que Juiz de Fora tenha 187.190 domicílios atendidos em todo o processo. Para tal, a cidade foi dividida em quatro zonas e 1.151 setores censitários, entre os quais apenas 20,2% tiveram os trabalhos concluídos, conforme números do portal do Censo 2022.

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Até o momento, segundo a responsável pelo Censo 2022 em Juiz de Fora, Ana Cândida de Paiva, 102.291 domicílios foram visitados pelos recenseadores. Desses, em 16.677 os entrevistadores não conseguiram coletar as informações devido à ausência dos moradores ou por recusa dos mesmos, taxa de cerca de 16%. “É um fenômeno que acontece no país inteiro. A gente não conseguiria terminar a pesquisa como terminamos nos outros censos”, argumenta Ana sobre a mudança de prazo.

Recusas e ausências

Entre as questões que levam ao atraso do recenseamento, a responsável pelo processo em Juiz de Fora cita as recusas e as ausências como pontos importantes. Conforme Ana Cândida, em caso do morador não estar presente, os entrevistadores são orientados a voltar pelo menos outras três vezes ao domicílio, sendo uma visita em cada período do dia e outra no final de semana, se necessário. Além disso, o recenseador deixa uma carta em cada uma dessas ocasiões, com um contato de Whatsapp para agendamento da entrevista em um horário no qual o morador tenha disponibilidade. “Só que a resposta é baixíssima, a pessoa costuma ignorar aquele papel”, diz.

Já nos casos de negativa às entrevistas, o recenseador ainda tenta encontrar outro morador no domicílio e, por vezes, o supervisor de recenseamento também tenta um novo contato. A prestação de informações para o IBGE é obrigatória, de acordo com a lei 5.534/1968, a qual define que “toda pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, que esteja sob a jurisdição da lei brasileira é obrigada a prestar as informações solicitadas pela Fundação IBGE”. O infrator, ainda conforme o texto da lei, fica sujeito a multa de até dez salários-mínimos, valor que pode dobrar em caso de reincidência.

A responsável pelo levantamento em Juiz de Fora, entretanto, defende que o convencimento da população seja feito por meio da conscientização das pessoas “sobre a importância do Censo. O IBGE realiza o Censo para o bem da população, uma vez que tudo que será realizado pelos próximos dez anos terá como base as estatísticas coletadas, como nas áreas de saúde e segurança pública”, avalia.

Segundo ela, as recusas acontecem, sobretudo, por questões políticas, enquanto uma minoria recusa prestar informações por medo de golpes. Para se certificar que o entrevistador é mesmo servidor do IBGE, todos os recenseadores estão identificados com boné e colete, além do crachá de identificação, que possui um QR Code no qual o entrevistado pode apontar a câmera do celular e confirmar o nome e a foto do recenseador. A pesquisa é feita entre 8h e 21h, de segunda a domingo, incluindo feriados.

Conforme o IBGE, a busca ativa em Juiz de Fora também está muito baixa (Foto: Felipe Couri)

Busca ativa ao Censo

Conforme o IBGE, a busca ativa em Juiz de Fora também está muito baixa. Além da carta com telefone de contato deixada pelo recenseador no imóvel visitado em que não tenha encontrado o morador, a fim de que as pessoas agendem uma visita para um horário em que possam responder a pesquisa, também existe a opção de preencher o questionário via internet. Após uma visita inicial obrigatória, na qual o recenseador também registra as coordenadas de cada endereço, o morador poderá fazer a escolha pelo autopreenchimento on-line. A partir daí, será gerado um e-ticket, com prazo de validade de sete dias para as respostas.

Há também a possibilidade de preenchimento por telefone, pelo Centro de Apoio ao Censo (CAC), disponível via 0800 721 8181. Após a visita para o cadastramento do endereço e de pelo menos um contato com o morador, ele poderá escolher responder por telefone, momento no qual precisará conceder autorização ao agente para que este preencha o questionário junto ao entrevistado.

Baixo número de recenseadores

Outro fator que atrapalha o andamento do levantamento é a escassez de recenseadores, problema que acontece desde o pontapé inicial da pesquisa no município. Em Juiz de Fora, dos 520 servidores treinados até agosto, 400 foram para as ruas, por conta do alto número de desistências. Na ocasião, outras 120 pessoas seriam convocadas da lista de espera para suprir a lacuna. Após dois meses, no entanto, a cidade tem apenas 270 entrevistadores, pouco mais da metade do número projetado inicialmente.

De acordo com Ana Cândida de Paiva, as condições do trabalho causam as desistências graduais ao longo do processo. “O recenseador faz o treinamento, mas eles vão abandonando e, quando chega ao final, nós só conseguimos contratar 30% da quantidade pretendida. É um trabalho sob sol, sob chuva e de porta em porta. Então, aos poucos, as pessoas desistem”, afirma.

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O Censo

A pesquisa do IBGE acontece com dois anos de atraso. Em 2020, o levantamento foi adiado por causa da pandemia de Covid-19 e, em 2021, sofreu novo adiamento por falta de orçamento. Em via de regra, a pesquisa nacional é realizada a cada 10 anos. Em 2022, a estimativa é de que os recenseadores entrevistem mais de 214,8 milhões de pessoas em todo o país.

A coleta de informações é feita com dois tipos de questionário: o básico e o de amostra. Em Juiz de Fora são 95% de questionários básicos e 5% de amostra. O básico conta com 26 questões e investiga as principais características do domicílio e dos moradores. Já o de amostra tem 77 questões mais detalhadas, com temas específicos: características dos domicílios, identificação étnico-racial, nupcialidade, núcleo familiar, fecundidade, religião ou culto, deficiência, migração interna ou internacional, educação, deslocamento para estudo, trabalho e rendimento, deslocamento para trabalho, mortalidade e autismo.

Antes da alteração do prazo final do processo, o IBGE estimava que os primeiros resultados do Censo 2022 seriam divulgados ainda neste ano. Mesmo com a mudança, o IBGE assumiu o compromisso de entregar os dados da contagem da população ainda no fim do ano ao Tribunal de Contas da União, para subsidiar a repartição do Fundo de Participação de Estados e Municípios. As estatísticas e as análises devem ser divulgadas ao longo de 2023 e 2024.

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