Cova onde soldado foi sepultado revolta família


Por Sandra Zanella

05/02/2017 às 03h00

PAI FAZ manifesto solitário no Cemitério Municipal e, em meio a matagal, procura local da cova 677, onde o filho Breno Luiz Teixeira foi sepultado  (LEONARDO COSTA)

Pai faz manifesto solitário no Cemitério Municipal e, em meio a matagal, procura local da cova 677, onde o filho Breno Luiz Teixeira foi sepultado (LEONARDO COSTA)

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Saber que os restos mortais do filho estão sob a terra coberta por mato e identificados apenas pelo número 677 tem agravado ainda mais a dor do pai do soldado Breno Luiz Teixeira, 19 anos, morto com um tiro de fuzil, no dia 23 de agosto de 2015, quando trabalhava em cumprimento do serviço militar obrigatório no 4º Grupo de Artilharia de Campanha Leve (GAC), no Bairro Nova Era, Zona Norte. Quase um ano e meio após o caso, concluído em inquérito policial militar (IPM) como suicídio, contra a crença da família, a Tribuna acompanhou Sebastião Teixeira Lima, 48, em uma visita ao túmulo do recruta, enterrado em uma das 21 mil covas rasas do Cemitério Municipal. Partindo da entrada próxima às capelas, no Poço Rico, a caminhada morro acima terminou com uma busca angustiante pelo local exato da sepultura de Breno. O mato alto e os aclives e declives dificultam ainda mais o acesso ao lugar, que fica já próximo ao prédio do Instituto Médico Legal (IML), no Bairro Granbery.

“Na época, o Exército falou que a despesa seria toda por conta deles, mas enterraram meu filho lá em cima como um animal, não como um ser humano. Acho que deveriam ter tido um pouco mais de respeito, porque ele estava servindo à pátria, ao nosso Exército Brasileiro. O Breno deveria ter tido direito a um enterro mais decente, a um túmulo com um histórico da vida e carreira dele. Não tem uma placa com identificação, muito mal tem uma numeração que a gente custa a achar, porque são várias covas próximas. Também tem muito mato nascendo em cima. No Dia de Finados tive que pedir a um homem para limpar. Acho um desrespeito e um descaso total com a família”, desabafou Sebastião.

Ele justificou a demora em reclamar da situação pelo fato de ter ficado muito abalado com a morte do filho. “Não me toquei. Acompanhei o enterro, mas achei que fossem fazer alguma coisa depois ali. Eu estava muito chocado, não estava conseguindo entender o que estava acontecendo e até hoje não acredito que perdi meu filho.”

Para o pai, a morte de Breno às vésperas do Dia do Soldado ainda não foi esclarecida. Naquela ocasião, o Exército informou que o soldado estava em um posto de sentinela no 4º GAC, quando foi alvejado por um disparo de fuzil, que teria entrado por baixo de seu queixo. O disparo teria partido da arma que ele mesmo portava. A família do recruta, que sonhava em ser policial militar ou engenheiro, acredita que ele não teria motivos para tirar a própria vida de forma proposital.

Comando
Em nota, o atual comandante do 4º GAC, coronel Marcelo Marques da Silva Brun, reiterou que, conforme o IPM instaurado para apurar os fatos que levaram à morte de Breno, “o disparo de arma de fogo que o atingiu, durante o serviço da guarda do quartel, foi resultado de suicídio”. O comando acrescentou “que não houve ligação entre o fato e qualquer circunstância que pudesse causar responsabilização de outros envolvidos”.

O comandante lamentou o falecimento do jovem e esclareceu as providências tomadas em relação ao enterro: “Conforme legislação, os custos são indenizáveis após o sepultamento e comprovados por nota fiscal. Na época, a família do Breno relatou que não tinha recursos para realizar o sepultamento. Em consideração ao jovem, um militar do 4º GAC custeou os gastos e depois foi indenizado pelo Exército Brasileiro.” Ainda segundo o coronel Brun, foram incluídos os serviços de funeral, como fornecimento de caixão, flores e coroas, aluguel de capela, preparo e transporte do corpo e desembaraço da certidão de óbito. “Durante o velório, foi dado apoio médico aos familiares, e o capelão militar realizou preces religiosas. Em respeito ao soldado falecido, foram realizadas, também, honras militares, e foi entregue a bandeira nacional à sua mãe”, complementou o comandante.

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Secretaria de Obras justifica problema de manutenção

De acordo com a assessoria da Secretaria de Obras, o Cemitério Municipal possui equipe própria para a manutenção, mas devido à extensão de 110 mil metros quadrados e ao período chuvoso, quando o mato cresce rápido, tem sido inviável realizar a capina a cada 15 dias, período em que a vegetação se desenvolve. “Mas trabalhamos incessantemente para manter o local sempre acessível”, garantiu a pasta.

Segundo a assessoria, a cova rasa é utilizada para o sepultamento do cidadão que não possui jazigo perpétuo, mediante algumas regras. “A mesma cova é utilizada de três em três anos e, nesse período, a família tem que se pronunciar para a retirada dos restos mortais e adquirir um ossário para colocá-los.” Caso contrário, os restos mortais são colocados mais profundos na cavidade, para que outro sepultamento seja realizado.

Sem espaço
A taxa para utilização da cova rasa é de R$ 33,10, mas sua perpetuidade não é permitida porque poderia comprometer futuros sepultamentos, já que o Cemitério Municipal não possui mais espaço físico para jazigos. Como esses espaços pertencem ao município, e não às famílias, as 21 mil covas existentes atualmente no espaço são identificadas apenas por números, controlados de forma informatizada. “Qualquer cidadão juiz-forano tem o direito de ser enterrado, mesmo que não possua jazigo, por isso existem as covas rasas”, conclui a Secretaria de Obras.

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