Semana encoraja mulheres à amamentação
Aliança de Mulheres pela Maternidade Ativa lembra das dificuldades enfrentadas hoje pelas lactantes, que precisam de apoio e orientação
O leite materno contém todas as proteínas, os açúcares, as gorduras e as vitaminas que o bebê necessita para ser saudável. Recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como fonte de alimentação exclusiva para bebês com até 6 meses de idade, o aleitamento materno também é um ato de amor e pode fortalecer o vínculo afetivo entre mãe e filho, oferecendo benefícios, inclusive, para a saúde da mulher. No entanto, a prática é cercada de tabus e preconceitos. Com o objetivo de desmistificar a romantização da amamentação, a Semana Mundial do Aleitamento Materno, comemorada nesta semana, traz debates sobre o tema e quer defender a importância da amamentação.
Apesar de a mulher ser protagonista no processo de amamentação, juntamente com o bebê, nem sempre são levados em consideração seus medos e inseguranças. É o que afirma a coordenadora do grupo Aliança de Mulheres pela Maternidade Ativa (Amma), Malu Machado.
De acordo com ela, o ato de amamentar não é mais tão natural como era antigamente, e, ao longo dos anos, a mulher deixou de ter o apoio necessário para enfrentar as dificuldades da maternidade. “Não só a amamentação, mas todo o puerpério é um momento muito difícil para a mulher moderna. Antigamente, os filhos eram criados em comunidade. Hoje em dia isso é muito raro, e o apoio dos familiares é primordial para a mulher conseguir passar por esse momento e amamentar, pois ela está insegura, com os hormônios aflorados.”
Com a chegada do bebê, a mulher vira mãe e passa a se preocupar com a saúde do seu filho. Mas mesmo que ela se sinta preparada para aquele momento, pode se surpreender com as dificuldades, principalmente ao amamentar. Foi o que aconteceu com a professora de pilates Juliana Amaral, 33 anos. “Sempre me preparei para amamentar. Mas já no hospital, tive rachaduras no bico do peito. Os primeiros 15 dias foram de muita dor.” Ela também se viu em meio a um impasse sobre o tempo que deveria dedicar ao filho. “Ninguém tinha me falado sobre a disponibilidade que temos que ter com o neném. Optei pela livre demanda e fiz questão de a amamentação ser exclusiva até o sexto mês. Com isso, o bebê é amamentado quando quiser. Na teoria, é ótimo, mas exige despojamento das nossas vontades, dos nossos quereres, a gente fica por conta do bebê.”
Para ela, a falta de informação é o que mais atrapalha as mães a compreenderem o processo da maternidade. “O problema é que existe uma falta de informação mais qualificada a cada mulher, porque cada bebê é de um jeito. Além disso, não existe o que muitas mulheres acreditam ser ‘leite fraco’. O bebê precisa mamar todo o leite para chegar à camada de gordura do leite e ficar bem alimentado, mas muitas não conseguem chegar a esse ponto. Elas vão ao médico, e eles indicam complementos, ao invés de dar dicas sobre amamentação.”
A falta de instrução para amamentar foi o que levou a pedagoga Thays Saçço, 33 anos, a trocar de pediatra quatro vezes após dar a luz. A filha dela nasceu prematura, com 34 semanas de gestação, e passou uma semana na UTI. Por conta desta situação, a menina foi considerada muito magra por diversos médicos, e a mãe foi orientada a oferecer leite artificial. “A sociedade, no geral, desencoraja a mulher a amamentar. Faço amamentação prolongada e continuo amamentando minha filha com 2 anos e 4 meses, e ouço muitos comentários negativos.” Assim como Juliana, ela sentiu dor ao amamentar e quase teve uma mastite, mas conseguiu vencer as dificuldades com a ajuda de uma consultora em amamentação.
Questionada sobre o preconceito ao amamentar em lugares públicos, a pedagoga dá uma aula de conscientização. “Muitas pessoas julgam com o olhar, olham de cara fechada, como se estivéssemos fazendo algo errado. Elas acham que a mulher quer aparecer, mas amamentar é um ato de amor e deveria ser natural. Aquelas mulheres que não estão munidas de informação e do apoio necessário, acabam desistindo da amamentação antes da hora. É realmente muito doloroso, mas para quem tem persistência, acaba se tornando muito gostoso.”
Hora do Mamaço no Parque Halfeld
Para encerrar a programação da Semana Mundial do Aleitamento Materno, no sábado (5), o Banco de Leite Humano, em parceria com a Amma, vai realizar a Hora do Mamaço, às 10h, no Parque Halfeld. O objetivo é reunir mães em uma roda de conversa sobre “Amamentação: importância, prazeres e dificuldades”. A atividade é aberta ao público e tem como tema “Todos juntos pela amamentação”. Qualquer mulher pode participar, se estiver amamentando ou não. Os pais também são convidados. Conforme a coordenadora da Amma, Malu Machado, a ideia é que as participantes compartilhem seus relatos sobre a experiência de amamentar. “Nossa dinâmica leva sempre em consideração a troca de conhecimento. Queremos dar voz, principalmente para as mães que não conseguiram amamentar. Quanto mais pessoas comparecerem, melhor, para conscientizar sobre a importância da amamentação.”
A semana especial será encerrada nesta segunda-feira (7), mas durante todo o mês, chamado de Agosto Dourado, o Banco de Leite vai continuar a campanha. Para a coordenadora do órgão, Bernadete Monteiro de Oliveira, esse tipo de ação é importante para mostrar que não adianta só conscientizar a mulher e não dar apoio a ela após o nascimento do bebê.
Ainda de acordo com Bernadete, o preconceito com relação à amamentação em público ainda é grande. “Ainda existe muito preconceito. Se o leite materno é o melhor alimento para o bebê, e a mãe pode oferecer esse alimento, é direito dela amamentar em qualquer lugar. A realização da Hora do Mamaço em lugares públicos é justamente mostrar isso para as mulheres que estão amamentando que é um direito delas. Elas podem e devem amamentar onde puderem e quiserem, e a nossa expectativa é que, com esse tipo de campanha, possamos quebrar esse preconceito aos poucos.”
Banco de Leite precisa de doações
Questionada sobre quais os maiores entraves para aumentar o número de doações, a coordenadora afirma acreditar que muitas mulheres ainda acreditam que, caso elas façam a doação, faltará leite para seu próprio filho. De acordo com Bernadete, o que acontece é justamente o contrário: quanto mais leite a mulher ordenha, mais leite terá. “A partir do momento em que a mulher ordena o excesso do leite dela, o organismo entende que é necessário produzir a quantidade que ela está tirando e que o bebê está ingerindo. Um litro de leite dá para salvar a vida de dez crianças.”
As mulheres interessadas em doar devem procurar o Banco de Leite Humano de Juiz de Fora, localizado na Rua São Sebastião 772/776, Centro. O órgão fornece, gratuitamente, um frasco esterilizado, onde o leite deve ser congelado. A ordenha deve ser feita manualmente, com a mão limpa somente com água. O banco também fornece um kit com touca e máscara de proteção, para proteger o leite de micro-organismos.
Consultoria em amamentação é opção para mães com dificuldades
Com a amamentação surgem dúvidas e inseguranças para a mãe. A saúde do bebê se torna a principal preocupação dos profissionais de saúde e da própria família, e a mulher, muitas vezes, se vê deixada de lado. Além disso, as mães têm que enfrentar o estigma de que amamentar é fácil e natural, mas 90% das mulheres têm alguma dificuldade. A estimativa é da consultora em amamentação Bruna Malagoli. De acordo com ela, a consultoria surgiu com o objetivo de suprir a falta de informação sobre o aleitamento materno.
“Sabemos que o ideal seria que a mulher, na gestação, tivesse todas as informações sobre amamentação e saísse da maternidade preparada, mas infelizmente não é o que acontece. Prepara-se muito para o parto, e a mulher acaba sendo pega de surpresa na amamentação, porque existe aquele estigma de que é natural, que o bebê vai nascer e já vai saber pegar o peito”, explica.
Apesar de a profissão de consultora ainda não ser regulamentada, crescem as opções de cursos de formação em aleitamento materno. Segundo a consultora, em Belo Horizonte está sendo desenvolvido um curso de pós-graduação sobre o assunto. Capacitada por um curso de formação e pelas próprias experiências, ao ter dificuldade em amamentar sua filha, a consultora, que também é farmacêutica, se uniu com uma amiga para criar a Maternura, que oferece serviços de consultoria em amamentação pré e pós-parto, entre outras orientações.
De acordo com Bruna, há diferenças nos planos de consultoria. O mais completo fornece informações primordiais para o aleitamento. “No acompanhamento pré e pós-parto, vamos até a casa da mulher, que é o ambiente onde ela vai estar com o bebê, e fornecemos informações sobre primeiros cuidados, fazemos avaliação das mamas para verificar se há algum fator que possa causar mais dificuldade, ensinamos sobre a pega do peito e as posições para amamentar. Quando a mulher tem o bebê, retornamos para verificar a pega, que é uma grande dificuldade no início, pois o bebê precisa abrir bem a boca e abocanhar a auréola, e não só o mamilo, porque isso fere e causa dor”, explica.
Caso a mulher não tenha condições de pagar o plano completo ou se sinta mais segura e tenha apenas algumas dúvidas, podem ser contratadas visitas emergenciais. “Em alguns casos, as dúvidas são causadas só por insegurança. Em outros, existem problemas físicos que precisam ser avaliados, como mama cheia ou suspeita de infecção, por exemplo, quando recomendamos acompanhamento médico. Também vamos avaliar como a amamentação está sendo para o bebê.”
A consultora destaca que independente do tipo de consultoria, o foco é ajudar a mãe que está nascendo juntamente com o bebê. “Na maioria dos casos, a mulher não era mãe antes e nunca amamentou, e as dificuldades acabam jogando a confiança dela para baixo. A mãe vai se enchendo de medos. É um momento de muita fragilidade, e o olhar da consultora vai nutrir as necessidades da própria mulher”, finaliza.