Agente penitenciário é acusado injustamente de estupro em mensagens nas redes sociais

“Meus colegas de outros estados receberam, assim como os de Juiz de Fora e os que moram em Três Rios, e agora tenho minha imagem manchada por um crime que jamais cometi”, desabafa


Por Vívia Lima

04/08/2017 às 08h34- Atualizada 04/08/2017 às 16h22

Mensagem que circulava pelo WhatsApp chegou ao conhecimento de Ualace. (Foto: Reprodução/WhatsApp)

O agente penitenciário Ualace do Prado Marcos, de 32 anos, viu sua vida virar de cabeça para baixo nos últimos dias. A foto dele, acompanhada de uma mensagem identificando-o como estuprador, viralizou nas redes sociais e, desde o dia de 31 de julho, o trabalhador tem sido apontado como criminoso nas ruas da cidade de Três Rios (RJ), onde mora. Ualace, que trabalha no Ceresp em Juiz de Fora, viu como única alternativa passar uma temporada na cidade onde trabalha, na casa de amigos. A Polícia Civil informou que Ualace não possui passagens policiais.

Diante da avalanche de comentários e centenas de compartilhamentos da imagem no Facebook e em grupos de WhatsApp afirmando que ele andava em um Gol, espancava mulheres e as colocava dentro do carro para estuprá-las, Ualace procurou a Polícia Militar. Na última quarta-feira (2), fez denúncia à Delegacia de Repressão a Crimes de Informática, no Rio de Janeiro, com objetivo de descobrir de onde partiram as fotos.

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A mensagem, que rapidamente foi vista por inúmeras pessoas, também relatava que o agente já havia feito, pelo menos, três vítimas e pedia para que as pessoas divulgassem o conteúdo, a fim de que fosse feita justiça. Tais situações trazem à tona os perigos das informações falsas que circulam na internet. Ainda que muitas mensagem estejam cercadas de boas intenções, o compartilhamento deste e de outros tipos de boatos pode ter desdobramentos trágicos.

Ualace procurou ajuda na Delegacia de Repressão a Crimes de Informática, no Rio de Janeiro. (Foto: Arquivo pessoal)

Em entrevista à Tribuna, Ualace contou que descobriu a acusação após amigos receberem a postagem que foi feita como uma forma de alerta para a comunidade, apontando o rapaz como autor de crimes de estupro. “Quando chegou ao meu conhecimento, já não foi mais possível controlar. Meus colegas de outros estados receberam, assim como os de Juiz de Fora e os que moram em Três Rios, e agora tenho minha imagem manchada por um crime que jamais cometi.”

No último domingo, dia 30, Ualace diz ter sido perseguido por um veículo ocupado por quatro jovens que o acusaram de estupro. “Procurei uma viatura e, em contato com os policiais, tive a informação de que esses jovens disseram que eu havia assediado uma garota. Depois fiquei sabendo que um deles me conhece e a tal jovem seria namorada de um dos envolvidos. Como eles não conseguiram emplacar a acusação, acredito que fizeram a montagem para me prejudicar”, afirmou, acrescentando que um dos rapazes já pode ter sido prisioneiro na unidade onde Ualace atua como agente penitenciário. Portanto, ele acredita que a acusação seja uma suposta vingança.

Diante da situação, Ualace, que, desde o ocorrido, tem medo de sair às ruas sozinho, seguiu até a Delegacia da Três Rios para registrar a ocorrência acompanhado de amigos de profissão. No momento em que chegava ao local, foi apontado e ainda ouviu de algumas pessoas: “Olha, já prenderam o estuprador”.

“Estou passando por uma situação constrangedora, minha família mora aqui. Meu irmão é bastante parecido comigo e tenho medo dele ser confundido comigo e sofrer algo. Meu medo é tanto que não estou saindo de casa para comprar nada. Por isso, ainda essa semana, vou para Juiz de Fora ficar um tempo na casa dos meus amigos”, desabafou.

O caso está sendo apurado pelo titular da 108ª Delegacia Distrital de Três Rios, delegado Ney Loureiro. A instituição informou que Ualace não possui passagens policiais. Um inquérito policial foi aberto, e o caso deverá ser concluído no prazo de 30 dias e remetido à Justiça. Ainda conforme a Polícia Civil, os investigadores estão em contato direto com a Polícia Militar a fim de identificar os jovens que teriam perseguido o agente penitenciário, na noite de domingo. Tão logo eles sejam reconhecidos, serão intimados a depor na unidade.

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