Defesa Civil registra 221 ocorrências em função das chuvas em JF

Bairro Industrial permanece alagado; nove casas foram interditadas, e dez famílias ficam desalojadas


Por Gabriel Ferreira Borges, Renan Ribeiro (repórteres), Gabriel Silva e Iuri Fontana, estagiários sob supervisão Luciane Faquini

04/03/2020 às 10h27- Atualizada 04/03/2020 às 22h03

As fortes chuvas que atingiram Juiz de Fora desde domingo deixaram dez famílias desalojadas e resultaram em 221 ocorrências, registradas na Defesa Civil até quarta (4). Diversos acessos foram interrompidos parcialmente ou totalmente por deslizamentos e quedas de árvores, como nos bairros Grama, Zona Nordeste, e Graminha, Santa Luzia e Santa Cecília, Zona Sul. Das nove residências interditadas, duas desabaram, sendo uma no Bairro Grajaú e, outra, no Santa Luzia. Conforme a Defesa Civil, a maioria das demandas foi atendida, mas a tendência é que técnicos e engenheiros do Executivo, além de Corpo de Bombeiros, continuem os trabalhos nesta quinta-feira (5).

De acordo com a Defesa Civil, a Zona Leste registrou o maior número de ocorrências, 58, seguida pela Região Sul, 55, e Zona Norte, 54. Entretanto, o bairro com o maior número de ocorrências atendidas foi Santa Luzia, Região Sul, com 15. O Bairro Linhares, Zona Leste, teve dez, e, Santa Cecília, Região Sul, nove. Permanecem obstruídas as ruas Gabriel Rodrigues e Almir Monteiro, no Santa Cecília, Geraldo Albano Fernandes, no Bairro Cidade do Sol, e José Claro Dia, Dom Bosco.

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Rua João Francisco Monteiro, Bairro Santa Cecília (Foto: Gabriel Silva)

Como consequência das diversas ocorrências, centenas de pessoas tiveram o fornecimento de energia elétrica interrompido nos bairros Santa Cecília, São Pedro, Cidade do Sol e Grajaú, conforme informado pela Cemig. Em nota, a estatal informa que, ao fim desta quarta, há ainda 588 clientes sem energia em Juiz de Fora. De acordo com a Cemig, 19 equipes de manutenção estão trabalhando na região para restabelecer o serviço aos atingidos o mais rápido possível. Entretanto, a companhia não informou as vias e as regiões onde a energia elétrica não foi restabelecida.

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As Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de Chapéu D’uvas, Paula Lima, Rosário de Minas, Santa Cecília, Sarandira, e Toledos não funcionaram nesta quarta em razão de danos provocados pelas chuvas. De acordo com a Prefeitura, as estruturas não foram diretamente comprometidas, mas há problemas nos acessos a estas localidades.

Deslizamentos no Santa Cecília interdita residências

Entre as diversas localidades nas quais os órgãos estiveram presentes, a situação do Bairro Santa Cecília foi destacada pelo coordenador da Defesa Civil. Na Rua Gabriel Rodrigues, residências tiveram de ser interditadas por conta de deslizamento, que atingiu um poste e dois carros, por volta das 18h de terça. “Várias casas foram interditadas preventivamente no bairro. A maioria das vistorias foi feita à noite, quando a primeira providência é retirar as pessoas para, depois, fazer uma melhor avaliação”, explica Rodrigues.

Rua Gabriel Rodrigues, Bairro Santa Cecília (Foto: Gabriel Silva)

A Rua João Francisco Monteiro também teve queda de barreira, impedindo o trânsito de veículos. Outro caso parecido já havia acontecido em meados de janeiro, conforme moradores. “Já tínhamos escutado um estalo antes do deslizamento de ontem (terça)”, conta Selma Omar. Após a visita da Tribuna, por volta das 10h, a Defesa Civil chegou ao local para orientar a população que ainda estava preocupada com a possibilidade de novos deslizamentos e da queda do poste. Enquanto isso, agentes da Secretaria de Obras realizavam retiradas de barreiras que impediam o tráfego em outras ruas do bairro. Um dos funcionários, que preferiu não ser identificado, garantiu: “Hoje é o dia todo de trabalho no bairro, e ainda tem outras quatro equipes retirando materiais em outros pontos da cidade”.

Moradores da via encontravam-se consternados pelo acontecido na noite anterior. Não havia qualquer demarcação ou impedimento na circulação de pessoas no local da queda do poste, uma vez que apenas os Bombeiros prestaram socorro imediatamente após o ocorrido. A moradora Cristiany de Lima Freitas foi surpreendida pelo deslizamento pouco depois de chegar em casa com os filhos. “Nós chegamos, estacionamos como de costume na rua e, logo que a gente entrou em casa, em questão de segundos escutamos um estrondo muito forte. Começou a sair fogo do poste e, quando saímos de casa para ver, já estava tudo aqui na rua”, relata Cristiany.

O carro da moradora foi atingido pela terra, que chegou até o portão da residência. Após alguns minutos, toda a vizinhança já estava na rua com a preocupação de ter alguém soterrado dentro de outro automóvel que estava estacionado e foi atingido. “A nossa preocupação era se tinha alguém no carro ou passando na hora.”

Cessão parcial de rua no Santa Luzia

No Santa Luzia, bairro com o maior número de ocorrências registradas junto à Defesa Civil, o asfalto da Rua Francisco Altomar cedeu e fez descer um barranco, atingindo um conjunto de residências na altura do número 947 da Rua Ibitiguaia, por volta das 19h de terça. A ocorrência não deixou nenhum ferido, mas obrigou a saída de todos os moradores.

“Eu estava em casa quando escutei o barulho e senti a terra pegando na parede da minha casa. A minha vizinha estava quase desmaiando, quando eu a acudi e fomos para fora da casa”, relata Leonardo de Oliveira, um dos moradores.

A casa dos fundos, mais próxima da rua que cedeu, ficou parcialmente soterrada. Na residência de Leonardo, a terra chegava até as janelas, mas sem invadir o interior da casa. “Eu fui para a minha sogra, que mora perto daqui. Um rapaz dos Bombeiros falou que ainda não pode tirar a terra, mas eu já estou pensando em mudar de casa, porque não tem como ficar aqui”, lamenta o morador.

Ruas do Bairro Industrial seguem submersas

Na Avenida Brasil, na altura do Bairro Industrial, parte da via permanecia submersa nesta quarta, causando a interdição em trecho da avenida. Diversas ruas do bairro também estavam com água a cerca de um metro de altura, apesar de a situação já ter melhorado desde o período mais intenso da chuva. Isabela Cardoso teve que se refugiar na casa do pai, na Rua Dalila Leri, por não conseguir acessar sua própria residência na Rua Henrique Simões. “A minha casa é no alto da rua, não atingiu. Mas não consigo chegar até lá”, conta Isabela.

Ruas ainda continuavam tomadas por água nesta quarta-feira (Foto: Thiago Debortoli)

No entanto, a Rua Dalila Leri também foi atingida pelo temporal e seguia com enchente. No momento em que conversou com a Tribuna, Isabela estava lavando a varanda da casa do pai, que ficou inundada durante toda a madrugada. “Entrou água na parte da frente e nos fundos da casa, onde fica a cozinha. Com a previsão de mais chuva, nós ficamos tentando prevenir, já subimos todos os móveis, e algumas pessoas já foram para outras casas”, destaca a moradora. “A gente está até acostumado, porque toda chuva dá enchente. Mas, dessa vez, foi mais.”

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Acesso Norte ficou com água acumulada durante todo o dia (Foto: Fernando Priamo)

A Escola Estadual Professor José Freire, que funciona no bairro, manteve a suspensão das aulas nesta quinta, por medida de segurança.

Curva da Miséria

Um leitor da Tribuna flagrou deslizamento de um barranco localizado em um ponto conhecido como “Curva da Miséria”, no entroncamento dos bairros Fábrica e Cerâmica, na Zona Norte. Em dezembro do ano passado, a reportagem havia publicado matéria sobre um deslizamento de pedra no mesmo local.

Foto: Clodoveu Riolino

Próximo a este ponto, a terra cobriu um escadão localizado na Rua Dr. Norberto Gerhein, no número 110. A preocupação dos moradores no entorno é de que as árvores caiam e atinjam casas e veículos, considerando que a via conta com fluxo intenso.

Ônibus atolado em acesso na Zona Norte

Na manhã de quarta, cerca de 25 passageiros de um ônibus precisaram ser resgatados pelo Corpo de Bombeiros após o veículo atolar em um trecho da estrada de acesso do Bairro São Damião ao Nova Benfica, na região Norte. Segundo os militares, o ônibus levava funcionários para uma empresa localizada na BR-040 quando ficou preso na lama. O resgate foi acionado, pois segundo os bombeiros, a porta do veículo ficou emperrada e precisou ser quebrada para que os ocupantes pudessem sair do coletivo. Até o fechamento desta edição, a Tribuna não obteve a informação se o ônibus foi retirado do local.

Casa interditada em Nova Era

No Bairro Nova Era, um deslizamento, às 11h30, levou à interdição de casa na Rua Doutor Dias da Cruz. O volume de terra invadiu a casa após quebrar uma das paredes. Embora estivessem no local, os quatro moradores – um homem, uma mulher e duas crianças -, não ficaram feridos. A Defesa Civil interditou a casa.

O secretário da Associação dos Moradores do Bairro Nova Era, Wagner Luiz Ferreira, apontou os problemas da região. “Nessa terça, o entroncamento entre a Rua Guimarães Júnior e a Avenida Doutor Bezerra de Menezes ficou todo alagado. Na esquina da Rua Raimundo Corrêa com a Rua João Evangelista dos Santos, a chuva levou todo o asfalto. O asfalto amanheceu em frente à padaria devido à pressão da chuva. Além disso, a gente queria que a Prefeitura fizesse ao menos duas bocas de lobo para diminuir o volume de água em frente à Escola Municipal Cecília Meirelles. Em dia de chuva alta, as crianças não conseguem sair por causa do alto volume de água.”

Tópicos: chuva

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