Especialistas apontam cuidados para curtir o verão sem descuidar da saúde dos olhos
Se a sua rotina de cuidados durante o verão prioriza apenas a pele e os cabelos, lembre-se de incluir os olhos nesta lista. Mas não pense que só o uso de óculos escuros é suficiente. Ao frequentar praias e piscinas, muita atenção quanto aos diversos agentes que podem ser nocivos aos olhos, bem como produtos químicos e poluentes ambientais, além dos elementos naturais, como o sal e microorganismos.
“Os olhos são estruturas muito sensíveis e precisam de cuidados para evitar que sejam expostos a possíveis danos e irritações. Desta forma, ao ter contato com cloro e água do mar, estamos sujeitos a irritações químicas e infecções oculares, como a conjuntivite”, explica o médico oftalmologista Emmerson Badaró. Ele acrescenta que é nesta época do ano que se registram mais casos de conjuntivites. A conjuntivite nada mais é do que a inflamação da conjuntiva, a membrana transparente que recobre o branco do olho, a esclera. Ela pode ser viral, bacteriana, alérgica, tóxica, química ou traumática, e tem como principais sintomas a vermelhidão, lacrimejamento, coceira, ardência e sensação de areia nos olhos.
“O tratamento varia de acordo com o tipo de conjuntivite, portanto deve-se evitar a automedicação. As do tipo virais são comuns no verão, pois o calor e a umidade favorecem a disseminação do vírus, podendo causar epidemias, principalmente em locais com grandes aglomerações. São altamente contagiosas, mas para ser infectado é necessário o contato com o vírus pela secreção ou por pertences pessoais de quem já está infectado, como óculos, maquiagem e toalha. O contágio pelo ar é possível, mas muito difícil”, ressalta Dayana Kneipp, também médica oftalmologista, acrescentando que uma das formas de prevenção é manter as mãos sempre limpas e evitar o hábito de coçar e esfregar os olhos.
A água também irrita
A água do mar e da piscina pode ser relaxante, mas, ao mesmo tempo, é um perigo para os olhos. “Tanto o cloro quanto a água do mar podem provocar o que chamamos de conjuntivite química. Os olhos ficam vermelhos, ardem e coçam, pois as composições da água do mar e da piscina são bem diferentes da composição da nossa lágrima, irritando a superfície ocular, além de conter impurezas e microrganismos que podem causar conjuntivites infecciosas”, alerta Dayana Kneipp.
Uma das formas de se prevenir o problema é lavar o rosto e a área dos olhos com solução fisiológica ou água filtrada logo após banhos de mar e de piscina. Em olhos mais sensíveis, segundo a médica, devem ser utilizados colírios de lágrima artificial, que devem ser indicados pelo oftalmologista. Eles ajudam a melhorar a hidratação e proteger a superfície ocular. Outra dica é, ao entrar na água, manter os olhos fechados enquanto estiver com a cabeça submersa ou usar óculos de natação.
Mais que estética, proteção
Outra maneira de manter os olhos bem longe dessas intercorrências é usar, sempre que estiver em ambientes com luz natural, óculos solares com proteção ultravioleta. Segundo Emmerson Badaró, é a forma mais efetiva de proteção. “A exposição ao sol pode propiciar o aparecimento de catarata, pterígio, tumores oculares e degeneração macular. Por isso, a importância dos óculos terem proteção contra raios ultravioleta, que são os mais nocivos aos olhos. Usar modelos sem procedência, falsificados ou com lentes de qualidade ruim pode causar mais danos do que ajudar, visto que inibe os reflexos naturais do olho e permite que os raios solares entrem diretamente e causem dano”, comenta.
O médico ressalta que a certificação das lentes pode acontecer por meio de equipamentos que permitem avaliar o filtro de luz ultravioleta, e reitera que a cor da lente não influencia na capacidade de proteção. “Mesmo óculos escuros de lentes mais claras têm a capacidade de filtragem dos raios ultravioletas. A escolha das lentes pode ser realizada pelo próprio paciente, através do conforto visual que elas tragam.” Emmerson recomenda que o uso de óculos solares deve ocorrer em todas as idades, inclusive na infância, logo que o bebê passe a ter exposição ao sol. “O uso de óculos por bebês é importante, pois ajuda a prevenir desde queimaduras nos olhos e nas pálpebras de forma aguda até degeneração macular e catarata, causadas por um estresse oxidativo crônico.”
As lentes com grau já têm a capacidade de filtragem, pois a proteção ultravioleta é transparente, segundo Dayana Kneipp. “Os óculos funcionam como uma proteção mecânica, evitando que vento e poeira, por exemplo, os atinjam. Entretanto, apesar da proteção ultravioleta ser transparente, normalmente não encontramos óculos de grau transparentes com esta proteção. Os óculos de grau que oferecem proteção ultravioleta são do tipo “fotocromático”, que escurecem em contato com a radiação solar.”
Verão sem computador
Embora os dias de sol funcionem como um convite para o lazer fora de casa, tem gente que ainda prefere não desgrudar os olhos do celular, do tablet, do computador e da TV. O uso constante dessas telas, segundo os médicos, pode levar a diversas alterações oftalmológicas, algumas a curto e outras a longo prazo. “Dentre as mais precoces e mais comuns são: olho seco, irritação ocular, coceira, sensibilidade à luz e lacrimejamento, além de dores de cabeça, alterações de sono e humor”, destaca Emmerson.
Segundo ele, essas telas emitem luz em um comprimento de onda azul, que pode levar a danos na retina, inclusive, já existem pesquisas que relacionam o uso de telas ao aumento da incidência de miopia e desencadeamento de problemas oculares pré-existentes. “O ideal é restringir o uso de telas a todas as pessoas, mas principalmente às crianças, limitando seu uso e realizando pausas regularmente. Estudos sobre o tema mostram que crianças que passam mais tempo ao ar livre têm menos chance de desenvolver miopia, e as que já apresentam miopia, têm redução de sua progressão.”
Dayana acrescenta que o surgimento da miopia também está associado à genética, mas fatores ambientais como os citados anteriormente contribuem para o seu desenvolvimento e progressão. “Quando o grau da miopia é alto, a alteração do globo ocular aumenta a chance de desenvolver descolamento de retina, catarata e glaucoma, com risco de perda permanente da visão”, alerta. Outros problemas oculares com herança genética, como o astigmatismo, pode ser desenvolvido, também, pelo hábito de coçar e esfregar os olhos com frequência. “O hábito de levar as mãos aos olhos também pode contribuir para o desenvolvimento e progressão de problemas mais graves como o ceratocone.” No caso da hipermetropia, que também pode ter origem na genética, a médica ressalta que se identificada e tratada desde a infância, é possível evitar o desenvolvimento da ambliopia, conhecida como “olho preguiçoso”.