Cantina virtual
Alguns anos atrás, o primeiro dia de aula em uma universidade era um universo cheio de mistérios, em que normalmente se chegava com um número de matrícula na mão, a esperança de não levar trote e muitas perguntas: “Para qual sala devo ir?”, “Será que aqueles são meus colegas de turma?”, “Aqueles ali são meus veteranos?”. Atualmente, o calouro pode chegar à faculdade com pelo menos parte destas questões respondidas. Com as redes sociais, os nomes nas listas de aprovados facilmente podem ser associados a rostos e, além disso, calouros e veteranos vêm quebrando o gelo e se conhecendo por meio das redes sociais. Assim que o resultado do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) foi divulgado na segunda-feira passada, 26 de janeiro, dezenas de grupos fechados com alunos e ingressantes de diversas faculdades foram criados no Facebook, antecipando informações sobre o curso, burocracias relacionadas ao início das aulas, a programação da recepção aos novos estudantes e, claro ,aproveitando a oportunidade de tirar uma onda com a cara dos calouros. Alguns veteranos, inclusive, já começaram a aplicar “trotes” nos novos colegas de curso, como pedir que adicionem “calouro (a)” no nome de seu perfil ou mudem a foto de capa ou do perfil para alguma referência à faculdade em que estão ingressando.
Recém-aprovada para o curso de engenharia elétrica da UFJF, Thaís Soares tem trocado mensagens com futuros colegas de classe e veteranos, algo que lhe dá mais segurança em relação à vida universitária que lhe aguarda. “Acredito que conhecendo meus veteranos e colegas de maneira mais informal, a relação entre nós será mais descontraída e a convivência será melhor. A transição do ensino médio ao universitário já é, por si só, uma grande surpresa. Com este contato prévio, os calouros sentem-se mais à vontade e não ficam tão deslocados. Aqueles que vêm de outras cidades, por exemplo, não chegam mais sem conhecer ninguém. (sic)”
Para a estudante do terceiro período da Faculdade de Letras da UFJF Giovanna Castro, essa oportunidade torna o início da vida universitária, cheio de dúvidas e novidades, mais fácil para os ingressantes. “É uma ótima oportunidade para interação e confraternização das duas partes, ajudando a “quebrar o gelo” e fazendo com que o primeiro contato face-a-face seja mais dinâmico. Este contato é ainda mais importante para alunos que não residem em Juiz de Fora, pois a comunicação pela internet é por vezes a única possível”, opina a estudante.
Há quem possa argumentar que o burburinho virtual criado antes mesmo que as aulas comecem pode estragar o clima de novidade dos primeiros dias letivos, mas para a maioria dos envolvidos, o saldo é positivo. “Não acho que esse contato prévio estrague a surpresa dos calouros, e sim, deixam com maiores expectativas. Independentemente de terem informações de como são as aulas, quem são seus colegas ou como é estudar na universidade, eles ainda não vivenciaram essa experiência de fato. Então, de qualquer jeito, a surpresa é inevitável”, aposta o aluno do quinto período do bacharelado em química Frans Wagner. Ainda assim, a veterana Giovanna Castro destaca que ela e os amigos que já cursam a faculdade de letras procuram ter cautela com as publicações, para evitar dar “spoilers” demais sobre o curso aos calouros. “Acho que é preciso tomar cuidado com as informações que revelamos, já que não queremos estragar nenhuma surpresa que preparamos ou prepararemos. No nosso caso, as interações se restringem a conversas pessoais e esclarecimento de dúvida”, explica ela.
Mesmo com os avanços tecnológicos e a possibilidade de ter uma prévia sobre alguns aspectos da vida universitária, outros seguem inalterados, como as diversas tradições que permeiam a relação entre calouros e veteranos. “Sempre haverá as brincadeiras que veteranos fazem com calouros, inclusive os trotes universitários, que continuam dando o ar divertido de “obediência” dos recém-chegados aos mais experientes”, diz Thaís Soares. “Acho que permanece, como em qualquer outra geração antes da internet, uma certa noção de modelo a seguir, no sentido de que os veteranos já passaram por aquilo que os calouros estão passando e têm certa experiência a mais. Os calouros sabem que ainda podem contar conosco, como sempre, e o contato pela internet apenas facilita as relações entre nós”, acrescenta Giovanna Castro.