Pela segunda vez, família perde imóvel em deslizamento no Cerâmica
Casa foi uma das oito interditadas pela Defesa Civil em complexo residencial na Rua Mamed Camilo
A sensação de perda foi experimentada pela segunda vez pela aposentada Sandra Maria Damasceno, 65 anos, após a casa em que ela morava desabar nesta sexta-feira (3), na Rua Mamed Camilo, no Bairro Cerâmica, na Zona Norte. Eram 14h40 quando Sandra viu tudo vir abaixo no momento da chuva. Ela costumeiramente deita-se para assistir televisão no quarto, mas, nesta sexta, decidiu ficar no sofá da sala e, por isso, pôde contar sua história à Tribuna. O quarto foi totalmente destruído e da casa ficou de pé apenas o pequeno espaço onde ela ocupava, perto da porta . “Hoje eu decidi mudar de lugar e, quando vi, estava tudo em cima de mim. Tive apenas um arranhões. Fiquei prensada e as meninas me tiraram”, relatou abalada.
Situação semelhante foi vivida por ela exatamente no dia de Natal de 2013. Na ocasião, entretanto, ela morava em outra casa, localizada na mesma rua e teve, à época, o imóvel parcialmente destruído. Agora, começar o ano de 2020 não vai ser nada fácil para Sandra, que perdeu tudo. “Eu perdi até meus documentos. Não consegui tirar nada. Na primeira vez eu estava viajando, cheguei e a casa estava no chão. Agora foi assim, de repente. Minha casa era segura, mas o barranco veio puxando tudo para baixo. De novo eu estou sem nada, afirmou a moradora, que iria se abrigar na residência de parentes.
A casa dela pertence ao complexo de imóveis interditados pela Defesa Civil depois do deslizamento de terra. Outras foram atingidas de forma parcial. O deslizamento provocou ainda a interdição de outras cinco residências localizadas na parte de trás e na lateral do espaço, tendo em vista o risco iminente de desabamento.
Oito casas são interditadas após deslizamento de terra no Bairro Cerâmica https://t.co/CWOnbHKByE pic.twitter.com/Y6y9TmQeLC
— Tribuna de Minas (@tribunademinas) 3 de janeiro de 2020
Também abalado, outro morador que teve seu imóvel parcialmente atingido conseguiu retirar alguns documentos e objetos pessoais. Alan Barros Monteiro, que presta serviços de segurança a uma empresa na Zona Norte, disse que, no momento do deslizamento de terra, estava junto da esposa e do filho de 12 anos. “Estava eu minha esposa vendo televisão, e meu filho mexendo no computador. Notei que perto da porta da sala estava passando um água marrom, bem em frente à varanda. Saímos para olhar, e o bueiro estava entupido. Neste momento, reparei que já havia caído terra quando, de repente, ouvi um barulhão. Peguei meu menino e saí correndo”, disse à Tribuna, ressaltando que, caso estivesse na parte de trás da casa, poderia ter sido soterrado. “Eu tirei objetos de valor, documentos, mas ainda ficou muita coisa. Minha casa está interditada e não deixaram eu pegar mais nada. Moro aqui há 17 anos e não existia nenhum tipo de risco, mas sempre ficamos preocupados. Infelizmente não tenho para onde ir. O importante é que estamos vivos”, completou com os olhos cheios de lágrimas. Shirley dos Santos, que reside no imóvel da frente do complexo, disse que o deslizamento foi muito rápido. “Eu vi tudo. Não tinha o que fazer. Assustei muito, não pelo barulho, mas pela situação”. Ela não teve a casa atingida, mas o espaço foi interditado a fim de evitar novos acidentes.
Já Silvania Mattos, que também teve a casa interditada, aguardava na rua por um posicionamento dos bombeiros. Todos os moradores dos oito imóveis foram orientados a buscar a casa de parentes para se abrigarem. Muitos estavam abalados e choravam ao ver o cenário de destruição. Toda a área foi isolada pela Defesa Civil, que também esteve no local. Em nota, a assessoria do órgão informou que, pelo menos, 18 chamados foram recebidos pela pasta por meio do 199 na tarde desta sexta em decorrência das chuvas que atingiram a cidade.
À imprensa, o tenente Eduardo Procópio, um dos militares responsáveis pelo atendimento, informou que, por questão de segurança e de forma preventiva a fim de evitar novos acidentes, os locais foram isolados. “O Corpo de Bombeiros trabalha com a percepção do risco do desastre. Neste tipo de ocorrência nós atuamos na interdição e, caso necessário, no resgate das vítimas, o que, neste caso, não foi preciso. Nós fizemos a evacuação de todo o pessoal dos oito imóveis e agora os trabalhos ficam sob responsabilidade da Defesa Civil”. Ainda conforme o militar, o solo ficou muito encharcado, tornando propícia a queda da estrutura. A Assistência Social da Defesa Civil também esteve no endereço para prestar apoio aos moradores.
Demais ocorrências
Outra ocorrência de deslizamento foi atendida pela Defesa Civil por volta das 16h30, na Rua Nhá Chica, no Granjas Bethânia, na Zona Nordeste, sem atingir pessoas ou residências. Já na Zona Sul, uma árvore de 10 metros ameaçava cair na Avenida Joaquim Vicente Guedes, no Bairro Cruzeiro do Sul. Na Estrada União e Indústria, uma árvore caiu nas proximidades do Abrigo Santa Helena. Segundo os bombeiros, ela foi retirada por volta das 16h. Além destas ocorrências, houve relatos de bolsões d’água em vias como Acesso Norte e Rua Coronel Vidal, ambas na Zona Norte.
Conforme os pluviômetros do Inmet, instalados na Universidade Federal de Juiz de Fora, choveu 23,8 milímetros até às 18h desta sexta. O registro é válido para precipitações verificadas somente no campus. De acordo com a Defesa Civil, o nível do Rio Paraibuna subiu aproximadamente 85 centímetros nas últimas horas e quase um metro e meio acima de seu nível normal. Por volta das 17h, a altura verificada era de dois metros e oitenta e cinco.
Mais chuva durante o final de semana
Um alerta emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) aponta condições atmosféricas favoráveis à ocorrência de acumulado de chuva neste sábado (4), de 30 a 60 milímetros/h ou 50 a 100 milímetros/dia, acompanhadas de ventos fortes (entre 60 a 90 km/h), em áreas isoladas da Zona da Mata. Tal cenário deve-se à passagem de um sistema frontal pelo oceano e o estabelecimento do canal de umidade da Amazônia em direção ao Brasil Central e Sudeste. Assim, fortes áreas de instabilidade atmosférica ganham força sobre Minas Gerais, deixando céu bastante nublado e causando pancadas de chuva, de moderada a forte intensidade, acompanhadas de rajadas de vento e descargas atmosféricas.
Para o final de semana, além das precipitações, o tempo tende a ficar abafado, com máxima chegando a 24 graus. A mínima deve girar em torno dos 18 graus. Já a umidade relativa do ar chega aos 95%.
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