Torcedores interrompem trabalho para torcer pelo Brasil
Tradicional Bar do Abílio, no Centro, recebeu torcedores para acompanhar partida contra o México, na manhã desta segunda-feira
A cada esquina, uma buzina, vuvuzela ou apito lembrava aos nervos que tinha jogo do Brasil. O uniforme verde-amarelo da Seleção parecia também ser item obrigatório longe da Cosmos Arena, em Samara, na Rússia, já que no Centro de Juiz de Fora, apesar da variedade de versões, as cores vivas eram predominantes. Ao entrar na Rua Fonseca Hermes, reduto do Bar do Abílio, no coração da cidade, o cheiro das iguarias chegava longe. Ele, Abílio Moreira, comandava a feitura dos quitutes. “Você é o cara, Abílio”, ouviu ao entregar uma porção no balcão. Concentrado em sua função, afirmou que nem a cozinha nem o atendimento param durante o jogo. “Se tiver tempo, até dou uma olhada, mas não paro, não. Principalmente se o movimento estiver bom!”, afirmou otimista, mas a correria era forte, não deu tempo de arriscar um palpite para Brasil x México.
Quando os torcedores começaram a chegar ao bar, o clima era bem mineiro, de confiar desconfiando. A forte expectativa era de vitória, mas todos já imaginavam que nada viria tão fácil quanto todos gostariam que fosse. “O Brasil ainda está tentando desmistificar 2014. O nosso time não é aquele do 7 a 1. Mas é preciso fazer menos firula. Precisamos encarar o jogo com menos empolgação e mais trabalho sério. Parar com a preocupação sobre as ações individuais e focar em um bom desempenho coletivo”, ditou a fórmula o advogado Luiz Carlos Mota. Ele, assim como o companheiro de mesa e de trabalho, Francisco Quirino, também advogado, deu uma pausa no serviço para prestigiar a Seleção Brasileira. Escolheram assistir ao jogo no Bar do Abílio, por conta da proximidade com a casa e com o escritório, para o qual retornariam ao fim da partida.
“Atrapalha muito a produção, mas não tem jeito. Não tem como ver no nosso local de trabalho, como acompanhar? Gritar? Falar com quem? Precisamos ter esse espaço para extravasar,” defendeu Quirino. Ao arriscar um palpite, Luiz foi mais otimista, chutou 4 a 0 para o Brasil, enquanto Francisco foi cauteloso, 1 a 0, com gol saindo apenas na prorrogação. “Futebol é competência, quem é bom ganha a disputa. O acaso acontece sim, mas a competência traz muito mais segurança”, reforçou Francisco Quirino.
História, amizade e pinga com mel e limão
Tantão de Lima, contador aposentado, chegou vestindo a camisa do bar, artefato de diferenciação. “Essa é exclusiva. São poucos os que vestem essa camisa.” A amizade é o que o leva a assistir às partidas no local. “Acompanho os jogos aqui desde 1978, são 40 anos de história, amizade e pinga com mel e limão. Venho sempre por eles. A meninada daqui é nota 10.” Para Tantão, a Seleção sairia campeã com dois gols e o México não deixaria a competição sem fazer outro. Ele chegou perto, mas não levou o bolão.
O primeiro tempo foi sofrido. Todos no bar tinham sugestões para melhorar o time. “Chama o Firmino!”, gritou alguém, ainda no primeiro tempo, pedido atendido só no segundo tempo. “Alguém precisa tirar o Paulinho, está jogando muito mal!”, sugestão acatada também no segundo tempo. Os mais animados se destacavam pelas roupas coloridas. A faturista Fabiana Tostes, as secretárias Patrícia Portilho e Renata Bonfá e o auxiliar Roberto Regino também interromperam suas rotinas para torcer. Fabiana e Roberto acertaram em cheio o placar, Patrícia pensou como Seu Tantão, Renata foi tão otimista quanto Luiz Carlos e chutou 3 a 0. Ao menos em algo, todos concordaram: o pisão no pé de Neymar tinha que ter rendido uma expulsão, por mais que as reações do camisa 10 estejam passando por descrédito.
A tensão que todos sentiam foi aliviada com o gol de Neymar após tabela com Willian no início do segundo tempo. As mãos se ergueram, alguns ensaiaram pulos, outros conseguiram relaxar. As risadas se tornaram mais altas, a alegria, por alguns momentos, substituiu a desconfiança. No entanto, o jogo ainda não estava ganho. Todos continuavam cobrando uma atuação mais contundente da Seleção. “Nós preferíamos que o jogo fosse no fim da tarde, porque não atrapalharia o trabalho e poderíamos ficar mais à vontade,” disse Fabiana. Mas ao mesmo tempo, a vitória motivou a turma. “Certamente hoje vamos trabalhar mais felizes. Viemos, aproveitamos esse clima e depois voltamos para a vida normal”, arrematou Renata.
Dia de sofrer menos
Seu Abílio, que não descansou um minuto, comemorou ao fim do jogo. “Que venha o próximo desafio! Espero que o resultado do próximo jogo, independente do time que pegarmos, seja o mesmo. Outro 2 a 0.” Ele continuou contribuindo para a atmosfera de congregação e satisfação dos torcedores, perguntando ora em uma mesa, ora em outra, se estava tudo de acordo com o gosto do cliente. “Faço tudo com muito carinho.”
Saindo de lá, o barulho das vuvuzelas continuava tomando as esquinas. Aos poucos, as pessoas chegavam para o segundo tempo de trabalho. As portas que estavam baixadas foram reabertas, e o movimento, retomado. Os esforços, naquele momento, seriam empregados no retorno à rotina, continuar trabalhando e desviando com mais, ou menos sucesso, do assunto do dia. A vitória de 2 a 0.
Foi quando encontramos o taxista José Marcelo Januário Barbosa, que nos levou de volta à redação. Ele perdera o primeiro tempo do jogo – sorte a dele, pensei, pegou só a melhor parte da história! Após a correria do pré-jogo, quando as pessoas se deslocavam para chegar, ele conseguiu parar, ir para casa, almoçar e assistir à sequência da partida. “Hoje senti uma melhora na situação. A Seleção jogou bem. Antes o time estava fraco, nem parecia o Brasil. Hoje foi dia de sofrer menos”, avaliou.