Insegurança no Parque Halfeld


Por Vívia Lima

02/03/2017 às 07h00- Atualizada 02/03/2017 às 08h16

Considerado o principal cartão-postal de Juiz de Fora, situado entre as Ruas Halfeld e Marechal Deodoro, o Parque Halfeld se tornou sinônimo de insegurança para alguns frequentadores. Apesar da revitalização, ainda em andamento, que visa a garantir acessibilidade a todos, alguns relatam que o local se tornou uma área violenta, onde ocorre comércio de drogas e de prostituição. O uso do espaço para atividades ilícitas tem afastado a população, mas as obras que vêm sendo realizadas no local têm entre os objetivos, além da mobilidade, a melhoria da segurança.

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O cenário de insegurança afeta também o entorno do parque. A implantação do esquema de segurança na Câmara Municipal e o gradeamento da Igreja São Sebastião, dentre outras medidas, foram a solução encontrada. A Tribuna esteve no local e flagrou um grupo de adolescentes sendo abordado por policiais militares, diante da denúncia de tráfico de drogas. Entretanto, na ocasião, nada de ilícito foi localizado.

Frequentadores

A comerciante Garika Aparecida, 54 anos, relata que diariamente vai ao parque porque espera sua filha que estuda numa escola próxima. Ela diz ter sido abordada por desconhecidos em várias ocasiões. “Não temos direito de ficar 20 minutos. Sempre tem alguém te cantando, falando de prostituição, questionando o valor do programa. Se fazem comigo, fazem com qualquer outra mulher”, denuncia ela, acrescentando que dividir o espaço com usuários de drogas traz insegurança. “Eles repassam os papelotes descaradamente”, conta, indignada.

O estado de insegurança é partilhado por um taxista, 45, que preferiu não se identificar. Segundo ele, diariamente, adolescentes e adultos são vistos usando e vendendo drogas, e, muitos deles, para manter o vício, praticam assaltos. Já o aposentado José Nelson Ferreira Torga, 56, frequentador assíduo do Parque Halfeld, principalmente na área próxima à Rua Santo Antônio, comenta que há anos se encontra com amigos para jogar, durante a tarde, e a falta segurança ronda a região. Ele reclama também da retirada das mesas de jogos.

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Polícia Militar tem feito rondas para tentar evitar abusos no principal parque da cidade (Foto: Marcelo Ribeiro)

Venda de drogas no varejo

A situação é reconhecida pelas autoridades de segurança, que qualificam o parque como ponto de venda de drogas no varejo. Muitos crimes ocorrem em plena luz do dia demonstrando a ousadia dos criminosos. A pedido da Tribuna, a Polícia Militar realizou levantamento de ocorrências de lesão corporal, tráfico e roubo no Parque Halfeld registradas entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Ao longo desse período, foram 12 ocorrências relacionadas ao tráfico de drogas, um caso de violência e um de roubo. Neste último, segundo a PM, a vítima procurou providências 24 horas depois do ocorrido, fato que dificultou a captura do suspeito. Apesar das denúncias dos frequentadores, a corporação não registrou episódios de prostituição.

Em novembro do ano passado, um adolescente, 13, foi assaltado no logradouro público. O garoto seguia pelo local, por volta das 13h30, quando foi surpreendido por quatro suspeitos, sendo que três aparentavam ser menores de 18 anos. Com medo das ameaças, a vítima acabou entregando o celular. De acordo com informações do boletim de ocorrências, imagens das câmeras do Olho Vivo foram verificadas, porém não foi possível identificar o momento do crime.

De acordo com o capitão José Augusto Neves Viana, comandante da 30ª Companhia da PM, responsável pela segurança da região central, os casos envolvendo o local não justificam policiamento fixo. Apesar disso, ações de prevenção são desencadeadas com frequência para diminuir os índices de criminalidade. Ainda de acordo com o militar, é realizada ronda durante o dia e a noite, com passagens periódicas de viaturas. “O parque é ponto de ação preventiva de policiamento, realização de operações policiais nas ruas adjacentes e ações qualificadas de combate ao tráfico de drogas, com prisões e apreensões. Como forma de potencializar o monitoramento de atividades que contam com apoio do sistema de câmeras do Olho Vivo, o reforço no policiamento é feito também com militares que atuam na Câmara e no Fórum.”

Durante os 13 meses contabilizados, a PM prendeu 17 pessoas em flagrante e duas com mandados de prisão expedidos pela Justiça. Também foram apreendidas 13 buchas de maconha, quatro papelotes de cocaína e um punhal. Em janeiro deste ano, um funcionário terceirizado do Fórum Benjamim Colucci foi preso no Parque Halfeld com drogas de alto grau de pureza, avaliadas em R$ 15 mil, balança de precisão e invólucros para embalo de entorpecentes. O homem, 33, já estava sendo investigado pela Polícia Civil desde dezembro de 2016 e foi detido em seu intervalo de trabalho, no dia 19.

O delegado Rafael Gomes, que comandou a operação de prisão do funcionário do Fórum, afirmou que a polícia tem conhecimento do comércio de drogas no Parque Halfeld e que ações de repressão são realizadas. “Por ser um local de grande circulação de pessoas, grupos usam o espaço para a venda de entorpecentes no varejo.” Ainda conforme o delegado, o espaço será alvo de outras ações deflagradas pela Polícia Civil.

Críticas à reforma que é realizada

Na tentativa de melhorar as condições de acessibilidade e segurança do Parque Halfeld, foi iniciada, há dois anos, a maior reforma desde 1981. No entanto, as mudanças não têm agradado a todos os frequentadores. Inicialmente prevista para terminar no final de 2015, a obra se estende até hoje. Orçada em R$ 398.665,72, sendo 8% de contrapartida municipal, o local recebeu a colocação de pisos táteis em todo o entorno. Foi feito também nivelamento das pedras portuguesas, que estavam estufadas por conta das raízes das árvores, construção de rampas, substituição e realocação de parte do mobiliário urbano, como bancos e mesas de jogos.

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Ao lado da mãe Garika Aparecida, Michelly,12 anos, reclama da retirada dos bancos próximo à Avenida Rio Branco. A Secretaria de Obras (SO) informou que foram feitos canteiros no entorno das árvores no trecho da Avenida Rio Branco. Esses canteiros têm como objetivo diminuir o desnivelamento causado pelas raízes das árvores e servir de assentos. A reforma obedece as características originais do parque, tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Comppac).

O médico, escritor e poeta Sagrado Lamir David, que desde a adolescência frequenta o local, acredita que as pedras portuguesas, apesar de tradicionais, não são adequadas para um lugar onde circulam vários idosos. “A gente escorrega a toda hora. Já vi muita gente caindo e se machucando”, destacou. A opinião é compartilhada pelo professor aposentado Juarez Carvalho Venâncio, 78. Além disso, ele chama a atenção para as árvores, que, na sua percepção, estão abandonadas. “A quantidade de pedras impede a árvore de receber água. É necessária a manutenção do jardim, que está abandonado.” Também não satisfeito com a reforma, o comerciante Romeo Toledo, 64, disse que o local tem necessidade de um banheiro gratuito e em boas condições para atender pessoas que vêm de outras cidades, assim como os demais frequentadores.

De acordo com a Secretaria de Obras, as intervenções visam à melhoria do acesso e da segurança. Para isso, foram instaladas novas lixeiras, substituída a iluminação que, segundo a pasta, aumentou em 120% a capacidade luminosa, além da reforma do parquinho, dos banheiros e a instalação de câmeras do Olho Vivo. Em março, as obras retomam, e deve ser realizada a limpeza das pedras portuguesas, a instalação de mais mesas de jogos e a colocação de novos bancos.

Sobre a manutenção das árvores, a Secretaria de Meio Ambiente informou que, por serem centenárias, o crescimento das espécies pode resultar na proximidade do tronco com as pedras portuguesas. Porém, esse tipo de calçamento tem permeabilidade quando comparado com outras opções. A pasta reiterou que o local é monitorado por técnicos e irrigado constantemente pela Empav e que novas vistorias estão previstas.

 

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