JF tem queda de quase 9 mil matrículas na educação básica em 2021

Censo Escolar mostra redução no número de registros em comparação com 2019, um ano antes da pandemia; rede privada abriu 25% menos vagas e perdeu 29 escolas


Por Gabriel Silva

02/02/2022 às 07h40

As escolas de Juiz de Fora tiveram 8.975 alunos matriculados a menos em 2021, em comparação a 2019, um ano antes da eclosão da pandemia de coronavírus. Essa é a constatação da Tribuna após análise dos números dos três últimos anos do Censo Escolar, pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) que divulgou os dados do último ano na segunda-feira (31). De acordo com o levantamento, a rede privada da cidade teve queda de 25% nas matrículas nos últimos três anos, além do fechamento de 29 estabelecimentos de ensino. Já no ensino público, chama atenção a diminuição de vagas no ensino médio, nos anos iniciais do ensino fundamental e nas creches.

No total, 100.097 alunos efetuaram matrícula em escolas juiz-foranas em 2021. No ano anterior, foram 108.520 estudantes matriculados, enquanto, em 2019, foram 109.072, consolidando queda de 8,22% de lá pra cá. Entre os diferentes níveis de ensino, destaca-se a baixa no número de matrículas da educação infantil, que teve 5.610 alunos a menos em 2021 em relação a 2019. No ano passado, foram 14.054 alunos matriculados, frente a 18.566 em 2020 e 19.664 em 2019, queda acumulada de 28,5%.

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O ensino fundamental também teve redução de 1.366 estudantes entre 2019 e 2021, diminuição que também foi vista no ensino médio, com 817 baixas. A educação profissional técnica de nível médio teve 1.260 alunos a menos no ano passado, e a educação profissional (Formação Inicial Continuada) teve diminuição de 167 estudantes. As únicas categorias de ensino que tiveram crescimento no número de matrículas entre os últimos três anos foram a Educação de Jovens e Adultos (EJA), com incremento de 156 estudantes, e a educação especial, com 148 matrículas a mais em 2021 em comparação a 2019.

Impacto da pandemia

O ano de 2019 foi utilizado como base por ter se passado antes da pandemia de coronavírus. Apesar de o primeiro caso de Covid-19 ter sido confirmado em Juiz de Fora em março de 2020, em um momento que a maior parte das matrículas já tinham sido realizadas, não é possível aferir, nos dados do Inep, se houve maior ou menor movimentação de alunos entre as escolas nos meses seguintes. Por outro lado, o ano de 2021 foi todo impactado pela pandemia, que já estava em seu segundo ano, possibilitando a comparação entre os períodos pré e durante a pandemia.

Além disso, o resultado apresentado pelo Inep consolida decréscimos nas matrículas observados pelo Inep desde 2016 em Juiz de Fora. Naquele ano, foram 116.224 estudantes matriculados nas escolas das redes pública e privada, número que foi caindo gradualmente ao longo dos últimos cinco anos. Entre 2018 e 2019, por exemplo, houve queda de 3.759 matrículas. A maior variação anual, entretanto, foi a observada entre os anos de 2021 e 2020, já sob efeito da pandemia, quando foram contabilizadas 8.423 matrículas a menos, diminuição de 7,76% em apenas 12 meses.

Ensino privado sofre maior redução

Se houve queda geral no número de estudantes matriculados na educação básica em Juiz de Fora, o efeito foi ainda mais sentido nas escolas privadas do município, sobretudo no segundo ano de circulação do coronavírus. Em 2019, 32.397 pessoas efetivaram matrícula na rede particular de ensino, número que teve leve recuo em 2020, com 31.162 matrículas, mas passou por drástica redução em 2021, quando apenas 24.175 estudantes foram registrados nas instituições.

No total do triênio, a queda no número de matrículas foi de 8.222, o que consolida o recuo de 25% das matrículas entre 2019 e 2021. O impacto também foi medido na diminuição do quantitativo de estabelecimentos particulares de ensino, também levantado pelo Inep no Censo Escolar. Em 2019, haviam 194 estabelecimentos do tipo em Juiz de Fora, número que caiu para 173 em 2020 e para 165 em 2021. Ou seja, em três anos, 29 escolas fecharam, recuando em 14,94% o total de estabelecimentos privados de ensino na cidade.

‘Fenômeno global’
À Tribuna, o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino da Região Sudeste de Minas Gerais (Sinepe), Flávio Franco, afirmou que a queda de matrículas é um fenômeno global ocorrido durante a pandemia. “Entendemos que a recuperação do setor será lenta, não demorando apenas um ano, mas talvez de três a quatro anos”, disse, também citando a evasão escolar como outro efeito que atinge o setor.

“Com o prolongado fechamento das escolas, os índices de abandono já estão preocupando as autoridades educacionais”, complementa Franco, lembrando a queda no número de inscrições no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “O número de instituições que foram obrigadas a fechar suas portas em função da pandemia também impressiona. E, infelizmente, não se viu a implementação de quaisquer auxílios específicos por parte dos órgãos governamentais. Tudo isso influencia decisivamente nas condições de funcionamento da rede”, afirmou.

Ensino médio tem queda mais intensa na rede pública

Considerando apenas as escolas da rede pública, três níveis de ensino tiveram maior diminuição de matrículas durante a pandemia: educação infantil nas creches, nível que abrange crianças de 0 a 3 anos; anos iniciais do ensino fundamental, que geralmente contempla jovens de 6 a 10 anos; e o ensino médio, que atende, sobretudo, a adolescentes de 15 a 17 anos.

Proporcionalmente, o recuo mais agressivo aconteceu no ensino médio, fase que teve 10.990 matrículas em 2021, frente a 11.649 em 2020 e 11.762 no ano anterior, com queda de 6,56% de 2019 para 2021. O percentual é acompanhado de perto pelo recuo de 6% de matrículas nas creches juiz-foranas, número que saiu de 2.845 em 2019, passou para 2.843 no ano seguinte e, por fim, para 2.672 em 2021. Já nos anos iniciais do ensino fundamental, o recuo foi de 4,71% em dois anos, ficando em 21.283 matrículas em 2021, após fechar 2020 e 2019 com 21.956 e 22.337 alunos matriculados, respectivamente.

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A Tribuna procurou a Secretaria de Educação da Prefeitura de Juiz de Fora e a Secretaria de Estado de Educação para que se posicionassem a respeito da realidade demonstrada pelo Inep. Até a edição desta reportagem, entretanto, as secretarias não tinham respondido.

Matrículas caíram nacionalmente

A diminuição no total de alunos matriculados em Juiz de Fora é reflexo do que foi observado no recorte nacional do Censo Escolar de 2021. Em todas as etapas da educação, o Brasil teve 46,7 milhões de matrículas no último ano, queda de mais de 620 mil estudantes registrados em relação ao ano anterior.

A nível nacional, o levantamento apontou diminuição de 9% dos alunos matriculados em creches. Já no ensino fundamental, categoria que congrega o maior quantitativo de estudantes brasileiros, houve aumento de 53 mil alunos entre o 6º e o 9º anos, chegando a 11.928.415 estudantes.

Já em âmbito estadual, o Inep também apontou apontou queda sensível no número de alunos matriculados. Em 2021, 4.136.120 matrículas foram efetivadas, número que estava em 4.328.917 no ano anterior. Ou seja, queda de 192 mil estudantes, que representa 4,4%.

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