Saída de titular da Delegacia de Mulheres provoca protestos

Delegada Ione Barbosa foi designada para assumir a 4ª Delegacia de Polícia Civil


Por Sandra Zanella

01/04/2019 às 16h47

Ione Barbosa estava há quase quatro anos à frente da Delegacia de Mulheres (Foto: Olavo Prazeres)

O anúncio da saída da delegada Ione Barbosa da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher tem provocado uma série de protestos nas redes sociais. Vítimas atendidas pela policial – que estava há quase quatro anos atuando no combate à violência doméstica -, amigos e colegas de trabalho planejam manifestações e um abaixo-assinado pela permanência da titular. Ela teria sido surpreendida pela mudança na noite da última sexta-feira (29), sendo informada que assumiria a 4ª Delegacia de Polícia Civil, responsável pela apuração de crimes na Zona Nordeste, que abrange bairros como Grama e Bandeirantes. O lugar de Ione será ocupado por Carolina Gonçalves Magalhães, que já atuou na Especializada. O quadro de delegadas de Mulheres continua sendo composto por Ângela Fellet, que permanece no cargo.

Frases como “Somos todos Ione Barbosa” e “Te queremos de volta” aparecem nas redes sociais desde sábado, e inclusive um grupo chegou a ser criado no WhatsApp para organizar os protestos. Ione havia feito uma série de palestras em março, que marcou o Mês da Mulher, e tem se destacado em várias operações e conclusões de inquéritos sobre casos de violência, não só aquela praticada em ambiente familiar, mas qualquer tipo, incluindo estupros contra crianças e adolescentes. O temor é que a saída dela deixe um vácuo no trabalho de proteção às mulheres e à infância, já que há várias investigações em andamento. “Temo apenas por nossas mulheres e crianças de JF que voltaram a ficar desamparadas, virando apenas uma pilha de papel acumulado”, desabafa uma jovem no Facebook.

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Muitos casos emblemáticos foram solucionados pela delegada Ione. Para citar apenas alguns recentes, ela foi responsável pelo inquérito que indiciou, no ano passado, o empresário Pedro Araújo Cunha Parreiras, 38, pelo feminicídio da psicóloga e mãe de seus três filhos, Marina Gonçalves Cunha, 35. A vítima foi estrangulada no fim de maio de 2018 no apartamento do casal no São Mateus, Zona Sul, e seu corpo foi encontrado uma semana depois, nu e com o rosto desfigurado, em uma mata da região do Parque da Lajinha. A então titular da Delegacia de Mulheres também indiciou, em fevereiro, o jovem de 25 anos que foi deposto do cargo de Mister Juiz de Fora após ter sido denunciado pela ex-namorada e médica, 27, por ter mantido um relacionamento abusivo durante três anos. Ele responde pelos crimes de lesão corporal, estupro, constrangimento e injúria.

Entre os vários comentários que se acumulam no ambiente virtual, em consequência dos fatos reais, estão cogitações de que a alteração de cargos teria motivação política. “Com certeza, o trabalho da Dra. Ione tem repercutido muito, tirando os holofotes de políticos já acostumados a estarem sempre na mídia. Assim sentindo ameaçados, usam a velha e desonesta política de tirarem o foco de quem lhe está incomodando. Não esmoreça Dra. Ione, você é verdadeiramente capaz e irá se sobressair onde quer que esteja. Foco e fé no seu objetivo”, disparou uma mulher.

Classificada como “imprescindível” em outro comentário, a delegada recebeu apoio de muita gente, em frases como “Pode contar comigo” ou “Tamo junto, ela fica”. Já outros apoiadores foram menos otimistas: “Infelizmente isso é o tão famoso sistema. E lutar contra o sistema é sempre assim, uma luta desigual e desleal. Ione Barbosa com certeza vai deixar saudades.”

Polícia Civil diz que movimentação é “prática normal”

Por meio da assessoria de comunicação do 4º Departamento de Polícia Civil, o delegado regional, Armando Avolio Neto, confirmou a saída de Ione do cargo e não demonstrou sinais de que as manifestações possam alterar sua decisão. “A movimentação das autoridades policiais é uma prática normal, por interesse da administração.” Ainda segundo ele, nesse caso específico, a delegada Carolina Gonçalves, que já atuou na Delegacia de Atendimento à Mulher, “após requerimento e permuta, retornará à especializada”. O regional também ratificou que a delegada Ione vai atuar na 4ª Delegacia, “em continuação com os serviços em prol da sociedade”.

“A Polícia Civil reforça que essa alteração não prejudicará a proteção ao direito das mulheres em Juiz de Fora, pois a especializada conta agora com o retorno da delegada Carolina, com a atuação da delegada Ângela à frente dos trabalhos e com uma equipe de policiais civis que continua preparada e empenhada em investigações envolvendo a violência contra a mulher”, finalizou a instituição em nota. O delegado regional destacou que, em breve, vai haver novidades com relação à proteção à família na cidade. A Tribuna tentou ouvir a delegada Ione, por meio da assessoria, mas foi informada que a Polícia Civil só se pronunciaria por meio da nota enviada.

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