Apagão no CNPq preocupa cientistas que temem perda de dados

Pesquisadora e coordenadora da UFJF revela que problema já atinge recursos como da pós-graduação; em nota, Governo nega perda de informações da Plataforma Lattes


Por Nayara Zanetti, sob supervisão de Eduardo Valente

28/07/2021 às 13h48- Atualizada 29/07/2021 às 09h49

E se várias pesquisas e dados referentes à produção científica no Brasil corressem o risco de desaparecer? Essa foi a preocupação de milhares de pesquisadores diante do “apagão do CNPq”, termo que ganhou destaque nas redes sociais para a manifestação sobre as instabilidades de diversos sistemas de informática do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Embora o Governo tenha informado, em nota divulgada nesta terça-feira (27), que não há perda de dados na Plataforma Lattes, a situação reforçou o alerta que cientistas e universidades têm feito.

“A questão do apagão no CNPq concretiza um temor que nós já tínhamos. Há relatos de que a instituição tem sofrido uma grande redução no número de funcionários por conta da falta de investimento na infraestrutura”, explica Iluska Coutinho, pesquisadora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (PPGCOM – UFJF).

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O CNPq, órgão ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), é um dos principais meios de promoção à pesquisa no Brasil. A plataforma Lattes, que é o maior sistema de registro de currículos acadêmicos no país, segue fora do ar, prejudicando o processo de concessão de bolsas de pesquisa, vagas em universidades, entre outros editais e concursos.

“A plataforma Lattes, além de ter todos os currículos de pesquisadores nacionais e internacionais, é uma forma também de prestação de contas à sociedade dos investimentos que são feitos e, ao mesmo tempo, uma vitrine para que as pessoas saibam a quem recorrer para tratar sobre determinado tema”, informa Iluska.

A pesquisadora comenta que o problema está atingindo editais em andamento que foram interrompidos e adiados. “Tudo está desaparecido, não sabemos o que vamos poder contar ou não. Existem outros recursos que se utilizam desses serviços, como, por exemplo, a avaliação da pós-graduação. Neste mês iríamos fazer uma das etapas que necessitava da plataforma Lattes e agora isso está comprometido.”

Além do Lattes, outros servidores foram atingidos, como é o caso da plataforma Carlos Chagas, responsável pelo fomento à pesquisa. É por meio dela que os pedidos de auxílio de bolsa e outros recursos são feitos, além de registrar projetos e resultados das pesquisas, funcionando como uma memória da produção científica brasileira. “É muito preocupante, mas é um indicativo da baixa preocupação com a ciência, com o fomento das políticas públicas que esse governo tem”, disse a pesquisadora.

‘Esvaziamento e sucateamento do CNPq’

A pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da UFJF, Mônica Ribeiro, relata que o CNPq vem sofrendo um processo de esvaziamento e sucateamento nos últimos anos. Segundo ela, os sucessivos cortes no orçamento estão obrigando a agência a reduzir o financiamento das bolsas, lançar menos editais de fomento, ao corte de funcionários, dentre outros problemas.

“A notícia do apagão só reforça o desmantelamento da agência. Falta realmente uma gestão de impacto e modernização dos sistemas, mas para isso, é preciso investimento. Estamos desgovernados, sem um planejamento estratégico de nossa política de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Não há nesse atual governo a concepção de que só é possível a geração de desenvolvimento econômico e social de forma sustentável e autônoma sem investimento do Estado em Pesquisa e Desenvolvimento”, afirma a pró-reitora.

Em nota, o CNPq informou já ter identificado o problema e que a migração dos dados foi iniciada antes do ocorrido. O órgão afirmou que “independentemente dessa migração, existem backups cujos conteúdos estão apoiando o restabelecimento dos sistemas”.

Necessidade de manutenção preventiva

O professor e pesquisador do Departamento de Ciência da Computação da UFJF, André Luiz de Oliveira, analisou a situação com base nas informações oficiais divulgadas pelo CNPq. De acordo com ele, falhas assim são difíceis de prever. Segundo ele, o que pode ser feito para reduzir a probabilidade de ocorrência é realizar manutenções preventivas para identificar o desgaste em equipamentos ou peças e efetuar a devida substituição quando necessário.

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“A manutenção preventiva da infraestrutura de TI estava sendo realizada antes do ocorrido, conforme nota emitida pelo CNPq. Após a substituição do equipamento, de acordo com o CNPq, o processo de restauração de backup dos dados das Plataformas Lattes e Carlos Chagas levará alguns dias em virtude do grande volume de dados. Mas os dados de todos os pesquisadores, bolsas e projetos de pesquisa estão assegurados de acordo com a instituição.”

Dessa forma, o pesquisador evidencia que os dados de mais de sete milhões de currículos de pesquisadores brasileiros e estrangeiros cadastrados na plataforma Lattes estarão seguros e os pagamentos das bolsas serão mantidos.

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