Casos de gripe aviária em países vizinhos acendem alerta

Focos da doença foram registrados recentemente em países como Argentina e Uruguai, e órgãos competentes reforçam medidas de vigilância


Por Gabriel Magacho, estagiário sob supervisão da editora Fabíola Costa

04/03/2023 às 07h30

Conhecida por ser uma doença viral altamente contagiosa entre aves domésticas e silvestres, a influenza aviária de alta patogenicidade (vírus H5N1), também denominada popularmente “gripe aviária”, voltou a ter casos registrados em algumas regiões da América do Sul nas últimas semanas. Diante da gravidade da situação, países como Argentina e Uruguai chegaram a decretar recentemente estado de emergência na saúde pública, devido ao registro de dezenas de casos do vírus em aves silvestres nos países. Por outro lado, mesmo que o Brasil nunca tenha registrado nenhum caso da doença em sua história, de acordo com informações da Agência Brasil, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) já reforçou medidas de vigilância para evitar a entrada do vírus no país, maior exportador de carne de frango do mundo.

Em entrevista coletiva realizada no dia 15 de fevereiro, o Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, reforçou à imprensa que, além do fortalecimento da fiscalização de estabelecimentos responsáveis pela criação de aves, o alerta para o risco da entrada da doença no país deve se tornar mais agudo até os meses de abril e maio. Em entrevista à Tribuna, a especialista em virologia e imunologia aviária da Universidade de São Paulo (USP), Helena Lage Ferreira, ressaltou que o atual período é extremamente favorável para a migração de aves silvestres aquáticas, que são consideradas reservatórios naturais do vírus da influenza aviária.”Esses animais são os maiores disseminadores do vírus entre os países, porque eles não respeitam as fronteiras políticas. A migração destas espécies acontece ao longo do ano, quando elas estão em busca de condições ideais para reprodução e alimentação”, avalia.

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Por outro lado, ainda que o vírus H5N1 tenha sido identificado pela primeira vez em gansos silvestres na China, em 1996, a pesquisadora destaca os principais riscos diante do agente infeccioso que já causou a perda de mais de 70 milhões de aves domésticas na Europa, África, Ásia e América do Norte desde outubro de 2020. “O vírus da gripe/influenza aviária tem evoluído em diferentes linhagens desde então, e uma delas tem causado um grande número de infecções em aves silvestres atualmente. O problema é que esta mesma linhagem está se adaptando a uma enorme diversidade de espécies de aves (mais de 160) e também infectando esporadicamente mamíferos, incluindo pessoas. A maior preocupação agora é devido ao aumento da circulação do vírus em tantas espécies de aves e mamíferos, o que pode deixar as pessoas mais expostas”, destaca Helena.

Infecção de humanos

Apesar do recente aumento no número de casos confirmados em animais de diferentes regiões do planeta, a especialista assegurou que os casos de infecções pelo vírus H5N1 em humanos são raros e estão ligados à exposição direta das pessoas às aves infectadas. “A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece que o risco de infecção do vírus de influenza aviária às pessoas é baixo, pois a transmissão direta entre humanos é raramente observada. Contudo, a circulação do vírus precisa ser monitorada continuamente, uma vez que estamos observando a alta circulação do vírus em diversas espécies. Sendo assim, aqueles que possuam contato direto com aves da indústria avícola precisam utilizar equipamentos de proteção individual quando manusearem animais com a suspeita da doença. Precisamos também de políticas públicas para conseguirmos monitorar constantemente as pessoas expostas ao vírus quando identificarmos um surto em criações de aves”, ressaltou.

Produtores locais devem notificar casos suspeitos

Responsável pelas ações de prevenção contra a Gripe Aviária em Minas Gerais, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) afirmou que já reforçou os procedimentos de vigilância no estado desde o ano passado, diante da emissão de um alerta para a ocorrência de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade, por parte do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em outubro de 2022. “Por este motivo, desde então, todos os órgãos estaduais de defesa agropecuária estão atentos em relação aos procedimentos de vigilância, prevenção e preparação para resposta a eventuais suspeitas de ocorrência de Síndrome Respiratória e Nervosa das Aves”, afirmou o Instituto em nota enviada à reportagem. Caso um produtor rural perceba alterações nos sinais respiratórios, digestivos e nervosos de suas aves, é importante que o mesmo realize a notificação imediata ao IMA, principalmente quando esses sintomas estiverem acompanhados de um aumento na mortalidade de animais no mesmo local.

Para realizar a notificação, o produtor pode enviar uma mensagem no WhatsApp no número (31) 98598-9611, pelo sistema e-Sisbravet, ou até mesmo presencialmente, no Escritório Seccional do IMA mais próximo de sua propriedade. O endereço e telefone de todas as unidades locais do instituto estão disponíveis no site www.ima.mg.gov.br. Em Juiz de Fora, a seccional fica na Rua Tenente Luís de Freitas 116, no Bairro Santa Terezinha (telefone: 3218-1788). Por mais que a detecção da doença em aves silvestres não venha a causar nenhum tipo de impacto comercial no país, na perspectiva de possíveis bloqueios nas exportações, caso a mesma venha a ser confirmada em determinada localidade, é possível que as granjas exportadoras afetadas fiquem temporariamente impedidas de vender e produzir.

Doença da ‘vaca louca’

Diante da suspensão das exportações de carne bovina brasileira para a China, motivada pela confirmação de um caso da doença popularmente chamada de “vaca louca”, na última quarta-feira (22), em Marabá, no Pará, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) prevê que o mercado não será diretamente afetado com a proibição temporária. A estimativa, portanto, é que a situação não deverá provocar perdas aos exportadores brasileiros, mas, na verdade, somente um adiamento das vendas, que devem ser normalizadas em abril. Por se tratar de um caso isolado, a expectativa é que não haja contaminação do rebanho nacional. Além disso, o fato de o Brasil tornar público o problema e paralisar os embarques também impacta positivamente na resolução do problema.

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“O impacto tende a ser bem menor do que em 2021, último registro de vaca louca no país. O protocolo foi cumprido, tudo está sendo feito com correção e transparência. Além disso, não há carne sobrando no mercado, nenhum país conseguirá suprir a demanda da China em nosso lugar. Por isso, acreditamos que em aproximadamente 30 dias a situação seja normalizada e, em abril, o comércio de carne bovina volte aos patamares habituais”, afirmou o presidente executivo da AEB, José Augusto de Castro.

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